Remédios de uso comum em adultos devem ser evitados por idosos e crianças. Descubra quais são

Você passa a vida toda tomando um remédio para hipertensão, mas, a uma certa idade, começa a sentir alguns efeitos colaterais. Ou então quer medicar seu filho, mas não encontra informações específicas sobre o uso do medicamento em crianças. Esse tipo de situação acontece porque grande parte das drogas possui eficácia e segurança para uso em adultos. Crianças e idosos reagem de maneira diferente aos medicamentos – seja porque o organismo não está completamente desenvolvido (caso das crianças), ou porque os órgãos começam a perder eficiência (caso dos mais velhos).

O R7 consultou especialistas no assunto e elaborou uma lista com os principais medicamentos que devem ser evitados por crianças e idosos, porque podem causar reações adversas. Esses efeitos vão desde intoxicação até distúrbios psicológicos.

A presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, Raquel Rizzi, explica que a idade afeta a ação do medicamento principalmente porque, tanto nas crianças como nos idosos, a metabolização da droga e a função renal são menos eficientes.

– De modo que, com algumas exceções, os medicamentos tendem a produzir efeitos maiores e mais prolongados nos extremos da vida.

De acordo com Silvia Pereira, presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), quando um laboratório testa a eficácia e segurança de um medicamento, os estudos são feitos primeiro com animais e, em seguida, com adultos, em geral jovens e saudáveis.

– Depois disso eles lançam no mercado. Mas aí vem para um homem brasileiro pobre de 70 anos. Pode, sim, ter diferença, porque nunca é experimentado nos mais velhos.

O farmacêutico André de Oliveira Baldoni, pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, estuda as reações adversas em idosos. Segundo ele, grande parte dos efeitos colaterais  nos mais velhos ocorre por causa da automedicação de anti-inflamatórios. Esses remédios, no entanto, podem causar problemas renais no idoso e hemorragia gastrointestinal.

Remédio Possíveis reações que podem ocorrer
Benzodiazepínicos de meia-vida longa (diazepam) Sedação e risco de queda e fratura óssea
Antidepressivos tricíclicos (ADT) Boca seca, retenção urinária, taquicardia, hipotensão postural
Fluoxetina (antidepressivo) Agitação, distúrbios no sono
Anti-histamínicos de primeira geração (dexclorfeniramina) Sedação prolongada
Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) Desordens renais e hemorragia gastrointestinal
Metildopa (anti-hipertensivo) Diminuição da frequência cardíaca e agravamento da depressão
Clonidina (anti-hipertensivo) Hipotensão ortostática (queda rápida da pressão), efeitos no sistema nervoso central e boca seca
Carisoprodol e ciclobenzaprina (relaxantes musculares) Efeitos anticolinérgicos (afeta parte do sistema nervoso), sedação e fraqueza
Óleo mineral Aspiração (pneumonia lipóide)
Cimetidina (Antiulceroso) Estado de confusão aguda
Bloqueadores de canais de cálcio (anti-hipertensivos) e antidepressivos tricíclicos em pacientes com constipação intestinal Agrava a constipação intestinal

Fonte: André de Oliveira Baldoni, pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo)

Crianças

A pesquisadora Anna Paula de Sá Borges, pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo), está investigando as reações adversas causadas pelos medicamentos em crianças.

De acordo com ela, apenas 20% a 30% dos medicamentos aprovados pelo FDA, a agência americana que controla alimentos e medicamentos, apresentam especificações para uso em crianças.

– A falta de informações específicas da maioria dos fármacos está diretamente relacionada à dificuldade de realização de ensaios clínicos nessa população.

Seus estudos demonstram que a faixa etária mais suscetível a reações adversas são as crianças menores de cinco anos de idade. E os medicamentos que mais causam efeitos são os descongestionantes nasais, anticonvulsivantes, anti-histamínicos (usados para tratar alergias) e expectorantes.

O pediatra Sulim Abramovici, presidente do Departamento Científico de Emergências e Cuidados Hospitalares da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), confirma que esses quatro tipos de remédios são os mais perigosos para os pequenos.

– Os anticonvulsivantes prescritos criteriosamente, em doses adequadas e com controle, apresentam benefícios que superam os potenciais riscos. Os expectorantes e descongestionantes têm uso cada vez mais restrito. E os anti-histamínicos têm indicações precisas e doses que devem ser cuidadosamente prescritas, pois facilmente levam a intoxicações.

Anna Paula explica ainda que a utilização de medicamentos entre as crianças é frequentemente baseada em modificações das formulações para adultos.

– Isso aumenta o risco de reações adversas e tem eficácia não comprovada, colocando-as na posição de órfãs terapêuticas.

Sulim alerta ainda que existe uma pressão tanto da indústria farmacêutica como dos pais pelo uso de medicamentos.

– Existe uma pressão grande dos fabricantes, que dizem que, se você tomar remédio, os sintomas da doença vão passar mais rápido. Além disso, para algumas pessoas, ir ao médico e sair sem receita é quase uma frustração.

Crianças: saiba quais são os principais remédios que podem causar efeitos adversos

Idade Remédio Possíveis reações que podem ocorrer
1-2 anos Descongestionante nasal Depressão respiratória
Broncodilatadores Anóxia e lesão cerebral
Antiemético (contra enjoos) Intoxicação com manifestação neurológica
Analgésicos-antipiréticos, anti-inflamatórios e antiespasmódicos Intoxicação, apresentando agitação alucinações e delírios
Anti-infecciosos Erupções cutâneas e distúrbios gastrointestinais
2-4 anos Psicofármacos Sonolência e ataxia cerebelar (problemas na coordenação)
Anti-infecciosos Erupções cutâneas e distúrbios gastrointestinais
5-9 anos Analgésicos-antipiréticos Intoxicação, apresentando agitação alucinações e delírios
Psicofármacos Sonolência e ataxia cerebelar (problemas na coordenação)
Anti-infecciosos Erupções cutâneas e distúrbios gastrointestinais

Fonte: Anna Paula de Sá Borges, pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão
Preto da USP (Universidade de São Paulo
)

Do R7

 

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