Cláudio Fonteles deixa Comissão da Verdade por divergências internas
O coordenador da Comissão da Verdade, Cláudio Fonteles, renunciou ao cargo e está deixando o grupo alegando desentendimentos internos. O pedido de renúncia de Fonteles, onde diz que a decisão é irreversível, já está na mesa da presidente Dilma Rousseff. O ex-procurador da República fazia parte do grupo formado integrantes indicados por Dilma.
Desde que o grupo foi formado se dividiu em dois por divergências de método de trabalho. Um liderado por Fonteles e Rosa Cardoso, e o outro por Paulo Sérgio Pinheiro e José Carlos Dias. Com a renúncia de Gilson Dipp por questão de saúde, no início do ano, os problemas se acentuaram. Desde então os integrantes da comissão não conseguiram sequer a chegar a um nome de consenso para indicar na vaga de Dipp. A presidente Dilma delegou ao grupo a decisão sobre a substituição. O nome de Luci Buff foi o único apresentado, mas quando chegou ao gabinete presidencial a indicada desistiu.
Por esses problemas, Dilma decidiu prorrogar o funcionamento da Comissão da Verdade até dezembro de 2014. A lei que criou o grupo estabelecia um período de dois anos de funcionamento (até abril de 2014) . A lei agora terá que ser modificada.
Dilma tem demostrado impaciência com a atuação da comissão. No Planalto, entre os assessores mais próximos, a explicação para tantos problemas é que a comissão se transformou em “uma fogueira de vaidades”.
A advogada Rosa Cardoso, atual coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, afirmou, em nota, que lamenta a decisão de Cláudio Fonteles em deixar o colegiado. Ela diz que Fonteles fez o anúncio na reunião desta segunda. Rosa diz que Fonteles entregou um termo por escrito e que alegou motivos pessoais para deixar a função.
Rosa disse também que, com ela, Fonteles nunca teve problemas e que permanecerá na comissão até o final dos trabalhos.
“Pretendo ficar na comissão até o final dos trabalhos da CNV. Lamento, profundamente, a saída de Cláudio e enfatizo que ele não teve, não tem e não terá nenhuma divergência comigo. Gostaria muito que ele continuasse conosco”, disse Rosa Cardoso.
Grupo pede que Fonteles fique e diz que ele foi vítima da falta de transparência
A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, que reúne parentes de perseguidos políticos vítimas da ditadura, divulgou nota no início da tarde desta terça-feira na qual pede que Cláudio Fonteles permaneça na Comissão Nacional da Verdade.
“A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos vem a público se manifestar em relação ao desfecho ocorrido na Comissão Nacional da Verdade, que culminou com a demissão de um dos seus integrantes, Claudio Fonteles, devido às divergências internas, o que nós, familiares, lamentamos profundamente. A comissão significa o resgate da luta de brasileiros pelas liberdades democráticas e justiça social, assim como a denúncia e erradicação de métodos e estratégias repressivas do estado para eliminar fisicamente opositores e ocultar seus cadáveres”, diz a nota da comissão de familiares, que afirma também que os fatos que levaram à saída de Cláudio Fonteles acontecem por “falta de transparência” nas atividades da Comissão da Verdade.
“A comissão dificulta a participação da população e, principalmente, dos atingidos pela ação da ditadura militar. A não revelação pública dos nomes dos torturadores, da cadeia de comando das atrocidades e dos crimes cometidos causaram a divergência de Fonteles, com o qual nos identificamos e nos solidarizamos nessa hora”.
No final da nota, a comissão de familiares apela para que Fonteles permaneça.
“Apelamos para que a CNV se volte para a investigação de mortos e desaparecidos políticos, convocando testemunhas e torturadores para o esclarecimento dos crimes da ditadura. Que a CNV se volte objetivamente para suas atividades de modo público e transparente, cumprindo assim sua tarefa principal de esclarecer os crimes de lesa humanidade cometidos pela ditadura.
Por último apelamos para que o conselheiro Cláudio Fonteles revogue sua decisão, pois ele conta com nosso apoio. A única luta que se perde é a luta que se abandona”.
Fonte: O Globo