MILTON CORRÊA Ed. 1130

Metade dos brasileiros não faz controle do orçamento pessoal, mostra pesquisa do SPC Brasil e CNDL

Seis em cada dez consumidores têm dificuldades para fazer o controle de ganhos e gastos mensais. 49% pagam todas as contas com sobra de dinheiro mês, mas 33% usam empréstimos, cheque especial e cartão para pagar contas

Embora essenciais para manter o orçamento pessoal e familiar equilibrado, principalmente no atual momento da economia, parte dos brasileiros ainda não apresenta atitudes compatíveis a um comportamento adequado em relação ao uso do dinheiro. A pesquisa anual de “Educação Financeira” do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) procurou entender como o consumidor brasileiro se relaciona com o consumo e compromissos financeiros, além de identificar os fatores que impossibilitam a gestão adequada do seu dinheiro no dia a dia. Os dados revelam que muitas pessoas entendem a importância de certas práticas financeiras adequadas, mas nem sempre as inserem em sua rotina diária e que apenas metade dos entrevistados (51%) afirma fazer um controle sistemático do orçamento.

A forma mais usual entre os entrevistados de controlar suas finanças é fazer anotações em caderno ou agenda (32%, aumentando para 41% entre as mulheres); uma planilha no computador (15%) e aplicativo no celular (4%). Praticamente seis em cada dez entrevistados têm alguma dificuldade para fazer o controle dos ganhos e gastos mensais (58%), sendo que a maior delas é reunir todas as informações e recordar de todos os pagamentos (20%).

A pesquisa mostra que os gastos fundamentais com mantimentos, higiene, água e luz são aqueles mais registrados dentre os entrevistados que disseram fazer algum controle financeiro (95%), seguidos pelos gastos extras necessários (77%), rendimentos (76%), gastos supérfluos (69%) e reserva financeira (59%).

Em contrapartida, 48% não fazem um controle efetivo de seus ganhos e gastos, já que 27% afirmam fazer de cabeça, 19% não têm nenhum registro ou controle e 2% dizem que outra pessoa faz por eles. A maior barreira enfrentada para não fazer o controle é a falta de hábito (45%), seguida pelo fato de não terem uma renda mensal fixa (19%).

De acordo com o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, a realidade é que muitas pessoas não enxergam o controle como algo prioritário. “É necessária uma mudança na maneira como as pessoas encaram sua vida financeira, entendendo que o controle adequado é fundamental para alcançar o equilíbrio”, afirma. “Assim, os consumidores irão entender que honrar os compromissos, constituir reserva, concretizar planos e sonhos de consumo e se preparar para a aposentadoria desde cedo são atitudes muito importantes. ”

Ao refletirem sobre como se sentem a respeito dos conhecimentos para gerenciar e organizar o próprio dinheiro, 42% admitem insegurança, sendo que gostariam de ter mais informações.

49% pagam todas as contas e ainda têm sobra de dinheiro

O estudo mostra também que, considerando os compromissos financeiros, 49% dos entrevistados na maioria das vezes conseguem pagar todas as contas no final do mês e ainda têm alguma sobra financeira, independente se é para algum gasto pessoal (28%) ou investimento (21%). Outros 35% conseguem honrar todos os compromissos, mas sem sobra financeira e 11% admitem que nem sempre conseguem pagar as contas e algumas vezes precisam fazer muito esforço para administrar o dinheiro.

O conhecimento da própria situação financeira apresentou melhora em 2016 quando comparado a 2015, seja pelo conhecimento do valor das contas básicas (89% – aumento de 7 pontos percentuais: 81% em 2015); das parcelas de compras que ainda têm para pagar (78%; 70% em 2015), do quanto está usando da renda quando faz compras parceladas (75%; 59% em 2015) e o total da renda mensal no próximo mês (71%; 68% em 2015).

Além disso, 59% garantem calcular quanto estão pagando de juros quando fazem uma compra a prazo (aumento de 14 p.p. em relação a 2015: 45%), chegando a 67% entre os pertencentes às classes A e B.

A pesquisa mostra ainda que 73% dos consumidores estabelecem metas e as seguem para conquistar algum sonho, mas, por outro lado, 27% não conseguem fazer isso.

35% usam empréstimos, cheque especial e cartão para pagar contas

Quando o orçamento não é suficiente para honrar os compromissos no mês, a principal atitude dos entrevistados é mudar alguns hábitos de consumo, comprar coisas mais baratas e fazer pesquisas de preço para economizar (47%), enquanto 30% fazem cortes no orçamento, como em gastos no supermercado e TV por assinatura e 24% fazem uso da reserva financeira.

A prática de tomar empréstimos, usar o limite do cartão de crédito ou cheque especial para honrar compromissos é feita por 33% dos entrevistados, em média três vezes ao ano. Já aqueles que costumam usar as reservas financeiras com o mesmo objetivo o fazem, em média, 2,6 vezes por ano.

“Essa é a situação vivida por muitos brasileiros ao tentarem lidar com as despesas do orçamento. Na tentativa de honrar os compromissos, os consumidores adquirirem novas dívidas ou atrasam o pagamento de algumas delas, o que os insere em um círculo vicioso difícil de interromper”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. “E mesmo quando não recorrem a novas dívidas, sacrificam a reserva financeira que deveria servir para alcançar metas ou ser utilizada em situação de extrema emergência ao invés de cobrir rombos corriqueiros no orçamento”, analisa.

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