Ednaldo Mota: “Tenho orgulho de participar da história do rádio”

Ícone do rádio santareno revelou momentos inesquecíveis de sua carreira de comunicador para Osvaldo de Andrade.

“Balconista da Loja Vitória, professor de educação física, Musiarte Show, E29 Show, locutor, animador de show, coordenador de carnaval, mestre de cerimônia com vários cursos feitos fora, com grandes nomes do cerimonial brasileiro, empresário de conjunto, trabalhou na Rádio Rural, na Rpádio Guarany, foi Secretário de Cultura do município, Secretário de Governo, vice-prefeito de Belterra; sem esquecer, que ele militou como advogado e depois como Defensor Público. Mas o que a população guarda em seu coração, é o talento de Ednaldo na comunicação, no rádio”, assim o jornalista e âncora da TV IMPACTO, Osvaldo de Andrade apresentou Ednaldo Mota, o renomado e consagrado radialista santareno em entrevista exclusiva. Acompanhe essa verdadeira viagem no tempo, e descubra detalhes da carreira de Mota, responsável por um legado inestimável para comunicação mocoronga.

Jornal O Impacto: Ednaldo, você sente saudade do rádio?

Ednaldo Mota: Estou há quase 5 anos fora do rádio; o que você falou é uma grande verdade, o que ficou na memória das pessoas é o rádio. Fui Defensor Púlico por 10 anos, mas as pessoas raramente se encontram comigo e me tratam como “doutor”. Trabalhei no comércio, fui balconista de padaria, sob as bênçãos do meu primo Manoel Mota, que confiou a mim o balcão da padaria dele. Fui tomando outro rumo a partir dali, pois ele se candidatou a Vereador e comprou duas bocas de alto-falantes e um amplificador, e eu comecei a falar no alto-falante do Mota, que era a “Voz da Liberdade”, o que se estendeu para outros serviços de alto-falantes em Belterra. Fui ganhando essa penetração junto à população, o que me valeu vir para Santarém. Houve um concurso na Rádio Rural e o meu compadre Anadir Brito insistiu para que eu participasse e eu fui relutante; de 75 candidatos, fui classificado juntamente com dois outros que também se destacaram bastante no rádio, o Edimar Rosas e o Jota Nogueira, que depois foi jornalista em Manaus e hoje já é falecido.

Jornal O Impacto: Na área da comunicação, Ednaldo Mota é uma referência para todos nós; tem um legado importantíssimo, principalmente de exemplo como quem desenvolveu um trabalho na comunicação. Como você tomou a decisão de parar?

Ednaldo Mota: É uma decisão muito difícil e eu devo à minha mulher de ter me convencido a parar. Aconteceu que eu fui para Belterra como vice-Prefeito, fiquei lá quatro anos e suspenso da minha atividade de advogado. Quando eu voltei, fiquei em dúvida se voltaria à atividade; até hoje estou aguardando o Birinha (Ubirajara Bentes Filho) que prometeu me reabilitar sem que eu pagasse as taxas que são muito altas. Minha mensagem é um pedido; quero pedir com toda franqueza aos amigos que tenho, às pessoas que me ouviam, mas não me viam, que por favor, se me encontrarem por aí que procurem falar comigo. Os meus 76 anos às vezes já não me permitem reconhecer as pessoas. Às vezes acontece de uma pessoa vir falar comigo, e eu procuro retribuir da melhor forma, quando sai de perto, pergunto à minha esposa: “América, quem é?”. Um dia desses aconteceu algo comigo impressionante; belo dia, o meu genro levou sua mãe lá em casa, eu a cumprimentei e ela perguntou: “O senhor não se lembra de mim? Eu era fã do E29 Show!”. Não era de reconhecer, mas é aquela alegria der saber que as pessoas não se esqueceram daquela fase do rádio aqui em Santarém, porque infelizmente, são coisas que foram desaparecendo, eram tão boas! Revelavam talentos, tantos artistas! O E29 Show acabou por revelar cantores que se projetaram até nacionalmente como o Antônio José. Deixaram que isso desaparecesse; às vezes acredito que em função da violência que cresceu, que já não permite fazer o que nós fazíamos, como por exemplo os shows nos bairros. Ed Ribeiro, um dos grandes cantores de shows, lá no bairro da Liberdade; Pinduca Júnior – agora César Brasil- revelado lá na Feira Agropecuário. Então, são shows que iam revelando talentos e artistas, hoje Santarém tem uma coisa que é principal razão da ressurreição da musicalidade do mocorongo, que é a Instituto de Artes do Tinho, que tem renovado. Hoje em dia tem maestro e maestros que foram produção dessa escola; escola essa que tenho a satisfação de dizer que foi fundada quando eu era Secretário de Cultura do Município. Se formos lembrar, vamos nos perder em memórias que estão por aí; eu fico feliz de poder falar disso. E parei, pelas circunstâncias que já citei, essa história toda vai envolver muitos fatos, nós lembrando às vezes com saudade, às vezes até com orgulho de ter participado. Eu sinto que há um certo respeito pela minha história, colegas de trabalho me procuram e dizem: – “Mota, vocês deixou um legado!”

Jornal O Impacto: Você ainda tem vontade de fazer um programa de rádio?
Ednaldo Mota: Quando eu voltei de Belterra, depois de ser vice-Prefeito, conversei com minha esposa América, e ela me disse: -“Eu vou te dizer uma coisa… Eu já parei de lecionar. Agora pensa; como tu vais suportar voltar para o rádio, com a idade que tu estás para chegar aquele dia em que te dirão ’Mota, muito obrigado, já não dá mais’?”. Isso não aconteceu! Mas poderia acontecer; eu pensei que isso é verdadeiro, mas graças a Deus eu não entrei em depressão, porque o risco é esse, pois parei com tudo; parei com o rádio e parei de advogar. Hoje em dia penso; Santarém passou a ser a minha cidade do coração. Vivi 24 anos em Belterra, mas aqui já estou há mais de 40 anos; só de rádio aqui foram 43 anos. Vou agradecer a oportunidade primeiramente até pelo fato de que dias desses um cidadão me encontrou e perguntou: “Você é o Ednaldo Mota? Ainda não morreu?!”

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto