Coomflona acusa sojicultores de desmatar e contaminar o solo

Denúncia é feita por Arimar Feitosa Rodrigues, coordenador da Coomflona.

Considerado um ponto estratégico na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, o município de Santarém vem atraindo investimentos privados no segmento do agronegócio, após a construção do Porto da Cargill, empresa americana que compra, estoca, processa, transporta e exporta grande parte da soja brasileira.

Qualquer navio de carga ou de turismo independente de seu calado pode chegar até Santarém. A cidade tem aproximadamente 370 mil habitantes. Para os empresários, estar em Santarém significa uma boa economia de transporte para chegar à Europa ou China, que são os dois maiores compradores.

Por conta disso, o avanço do agronegócio na região do Planalto Santareno, na área de influência da rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), no oeste do Pará, gera preocupação em moradores de comunidades tradicionais e profissionais do segmento de meio ambiente. Devido ao uso de agrotóxicos no cultivo de grãos, nos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, os sojicultores são acusados de poluir tanto o solo quanto os mananciais.

Eles também são acusados de desmatar grandes áreas de floresta, para usar o espaço na lavoura e, de provocar a extinção de abelhas. “O agronegócio chegou pra gente, até como surpresa, porque não tínhamos o hábito de ver grandes desmatamentos no Planalto Santareno, como tem acontecido ultimamente. Temos a área da Floresta Nacional do Tapajós (Flona), que é garantida por Lei Federal contra o desmatamento, mas no nosso entorno acontecem muitos problemas”, afirma o coordenador do setor não madeireiro da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona), Arimar Feitosa Rodrigues.

Segundo ele, a questão da contaminação e do desmatamento deve ser fiscalizada pelas autoridades competentes. “É muito grave a questão do desmatamento para a plantação de soja. Isso é muito complicado. A gente vê que pessoas que estão em torno dessas plantações já estão passando por sérios problemas, como contaminação e até mesmo especulação imobiliária. Os empresários chegam, pagam um preço mínimo pela terra e expulsam os moradores de suas casas. As autoridades devem investigar essa questão”, comenta Arimar Rodrigues.

DIFICULDADES: De acordo com Arimar Rodrigues, as pessoas que praticam a agricultura familiar estão com muitas dificuldades de produzir, devido aos grandes plantios de soja e suas consequências. “Com a vinda dos empresários das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste para Santarém, além deles trazerem toda essa problemática, trouxeram também muitas pragas para as lavouras. Isso afetou muito a produção dos pequenos agricultores. Hoje, para se fazer um roçado e plantar milho e arroz, normalmente como a gente fazia antes sem uso de agrotóxico, é muito complicado, a gente não consegue. Isso tudo aconteceu desde a chegada desses agricultores pra cá”, reclama Arimar.

Por causa do veneno que os produtores de soja usam, segundo Arimar, as abelhas estão desaparecendo e, com isso, nos últimos meses diminuiu a produção da Castanha do Pará, na Flona Tapajós. “As abelhas polinizam a castanha, o maracujá e várias outras espécies, mas estão desaparecendo. Elas fazem esse ciclo da biodiversidade, mas são muito frágeis, e por causa dos agrotóxicos estão sumindo. Inclusive, a produção do mel de abelha caiu bastante”, revela o coordenador.

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA: Na questão imobiliária, Arimar critica que, hoje, os pequenos agricultores já não têm mais onde fazer um roçado, por causa dos empresários que chegaram e compraram grande parte das terras, no Planalto Santareno. “Devido à compra de terras, tem famílias que não têm mais onde fazer um roçado, porque os sojicultores compraram praticamente tudo. Cada vez mais o agronegócio está crescendo às proximidades da Flona e, isso é preocupante. As autoridades devem tomar ciência disso”, diz Arimar.

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: O analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e gestor da Flona Tapajós, José Risonei Assis da Silva, afirma que a Flona Tapajós, é uma das unidades federais mais ameaçadas pelo agronegócio, devido ao limite de 161 quilômetros com a BR-163. Por conta disso, segundo ele, a Unidade de Conservação está sujeita à invasão de pessoas para furtar madeira, para caçar, além da questão do atropelamento de animais na BR-163, principalmente com o avanço do transporte de soja na rodovia.

“Ainda é possível a gente observar a importância da Flona, porque de um lado da rodovia federal a gente vê a devastação da floresta e do outro tem a mata em pé. Os agrotóxicos têm prejudicado a Unidade, porque quando são aplicados na lavoura, parte deles são levados pelo vento para outro lado da rodovia”, observa José Risonei.

PROBLEMÁTICA: Um dos principais problemas, segundo José Risonei, fica na Comunidade de São Jorge, onde a área do vilarejo foi excluída da Flona e, alguns moradores venderam suas propriedades para produtores de soja. “Nessa comunidade devido ao uso de agroquímicos ou defensivos agrícolas os cursos d’água, como igarapés e lagos estão sendo contaminados. Isso tudo está impactando na fauna, nos peixes e, em espécies de plantas. Os cursos d’água nascem dentro da Flona e desaguam fora e, se fosse ao contrário o impacto seria pior”, afirma José Risonei.

Além disso, de acordo com ele, os agrotóxicos estão contaminando o solo. Para coibir o problema provocado pelos sojicultores, Risonei sugere fiscalização. “Deve ser feita fiscalização, para que os sojicultores respeitem a legislação ambiental. Grande parte da soja plantada em Santarém é de origem transgênica e, ainda tem o uso indiscriminado de agrotóxico. Deveria haver uma distância determinada para isso. Tem uma legislação que tem que ser seguida, e pra tudo isso deve haver fiscalização”, reforça José Risonei, analisando que o Governo Federal, através de um instrumento jurídico, deveria criar uma zona de amortecimento, como corredor ecológico para preservar a Flona.

“A Unidade foi criada por um Decreto Federal e a alteração de limite deveria ser criada por meio de uma Lei, passando pelo Congresso Nacional. Dessa forma poderíamos preservar a Flona com toda a fauna e flora existente dentro da Unidade de Conservação”, complementou.

Fonte: RG 15/O Impacto

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