Pará fecha 145 leitos pediátricos em seis anos

Para diminuir a carência de leitos, a SPP recomenda a efetivação de mais 2 hospitais com o porte da Santa Casa, além de PSMs pediátricos.  

O Pará perdeu 145 leitos infantis nos últimos 6 anos, da administração Simão Jatene. Em 2010, eram 2.750 leitos, enquanto em 2016 o número caiu para 2.605. No Sistema Único de Saúde (SUS), a baixa é ainda maior: de 2.296 para 1.984, uma queda de 14%. De acordo com a vice-presidente da Sociedade Paraense de Pediatria, Aurimery Chermont, a queda é reflexo do descaso ao cuidado neonatal e pediátrico e pode ter graves consequências à saúde pública.
Na avaliação da pediatra, as principais complicações que atingem a infância são de baixa complexidade, como diarreia e virose, mas quando não tratadas apropriadamente podem se tornar problemas crônicos, que a criança pode levar à adolescência ou fase adulta – em casos mais graves levar até mesmo à morte. “A atenção devida à pediatria é uma medida de prevenção na saúde pública. A falta de suporte na etapa da amamentação, por exemplo, pode trazer problemas futuros como níveis de glicose e colesterol acima do normal”, explica.
PRONTO-SOCORRO
Em decorrência disso, seguem em cena as imagens que já são comuns ao paraense que depende do serviço público de saúde: os hospitais de pronto-socorro superlotados e as crianças tendo de ficar instaladas junto a adultos em leitos inapropriados e não recebendo a atenção necessária. “Existem conhecimentos que apenas o pediatra especialista domina e, quando a criança recebe apenas um medicamento paliativo, o problema não é resolvido e compromete a formação do indivíduo”, argumenta Chermont.
Segundo a médica, é preciso aumentar em pelo menos 20% a quantidade de leitos para suprir a demanda básica do Estado. Além disso, é urgente a criação de um pronto-socorro pediátrico em cada município e no mínimo ter mais 2 maternidades neonatais como a Fundação Santa Casa de Misericórdia para atender à população. “O que vemos, no entanto, é que não há pronto-socorro especializado nem na RegiãoMetropolitana”, destaca.

DESCASO
A família da manicure Regina Contente, 45 anos, foi uma das vítimas da precariedade da pediatria pública. Sua sobrinha, Carolina Contente, 20, acabara de ter um bebê, João Lucas. Com pouco mais de 1 mês de nascido, o pequeno apresentou dificuldades de respiração e muita secreção. Mas eles moram em Anajás, município do interior do Estado a 3 dias de barco de Belém, e não encontraram o suporte básico na unidade de saúde municipal. A solução foi vir para capital atrás de ajuda.
Chegaram na última quarta-feira (5) e a primeira opção foi ir a Clínica de Crianças Pio XII, mas lá foi redirecionado ao Hospital e Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti, o PSM da 14 de Março. “Foi horrível, ele ficou no corredor o dia todo”, lembra Regina. Somente à noite a mãe conseguiu uma caminha para o bebê, mas que logo foi novamente retirada e ela teve que segurar a criança sentada em uma cadeira até sair de lá, na sexta-feira (7).
Depois de 2 dias com João Lucas sem sentir melhoras, apenas com cuidados paliativos, é que seu nome entrou para a lista de espera do Centro de Leitos. A sorte foi que a família conhecia uma médica da Santa Casa, que conseguiu uma vaga para ele na maternidade. Regina conta que agora o pequeno está melhor, mas que se sente muito triste pelo sistema de saúde ser assim. “Como pode um bebê ficar exposto a meio de adultos com tantas doenças diferentes?”, questiona.
CRIANÇAS SEM LEITOS
Mais de 10 mil leitos foram desativados em 6 anos40% dos municípios não possuem nenhum leito de internação
No Pará o número de leitos infantis no SUS caiu em 14%.
É necessário pelo menos 20% a mais de leitos infantis para suprir a demanda.
Só há 1,99 leitos de UTI Neonatal a cada 1 mil nascidos vivos.
Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Paraense de Pediatria

Fonte: Alice Morais/Diário do Pará

 

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