Eraldo Pimenta: “Governador Jatene despreza região Oeste do Pará”

Deputado diz que Jatene investe apenas na grande área metropolitana de Belém

O deputado estadual Eraldo Pimenta (PMDB), que já foi Vereador e Prefeito do município de Uruará, concedeu entrevista exclusiva à nossa reportagem, onde aborda vários assuntos, alguns polêmicos, que têm mexido com a opinião pública dos paraenses, principalmente dos santarenos. Veja a entrevista na íntegra:

Jornal O Impacto: Deputado, na madrugada de quinta (06) para sexta-feira (07), algumas viaturas do Ibama foram incendiadas na comunidade de Cachoeira da Serra, área rural do município de Altamira. Qual sua opinião sobre esse incêndio?

Eraldo Pimenta: Só para nos situarmos, Cachoeira da Serra fica praticamente perto de Castelo dos Sonhos, que é município de Altamira, fazendo fronteira com o estado de Mato Grosso, somando a extensão territorial dos maiores municípios do mundo, chega-se a mais de 150 mil km quadrados que é a área de Altamira. Observa-se o tamanho dessa área, e a batalha que é dos pioneiros que chegaram aqui na região há vários anos. Falo isso porque estou inserido nesse contexto, visto que estou aqui desde 1973, ou seja, quase 50 anos de muita luta na Transamazônica, e a gente acompanha a luta desses batalhadores, desses heróis, desses guerreiros, sendo que muitos tombaram. Por exemplo, meu pai que foi um dos pioneiros, tombou na época, onde teve muita febre amarela, malária, hepatite e outras doenças. Muitos voltaram para o sonho: “Vamos integrar para não entregar”, “Terras sem homens, para homens sem terra”. Então, todo esse pessoal veio para cá com sonhos e perspectivas de uma vida melhor, inclusive com a obrigatoriedade de desmatar 50% de seus lotes, senão, perdiam a doação do governo. No início incentivaram, mas logo depois deixaram para trás esse povo batalhador. Muitos voltaram, outros ficaram e hoje estão aqui com suas famílias. Criaram na realidade um Pará à parte. Por isso nossa luta, nosso sonho. Eu diria pela soma que chamam de “separatistas”, nós queremos fazer uma grande adesão no Pará, somar mais ao Estado, e a gente vê essas polêmicas que têm aqui. Exemplo: quando que o Governo Federal em seus gabinetes refrigerados, com suas decisões de gabinete, por ofício, sabem da verdadeira realidade que é essa região? Uma região engessada, uma região onde o próprio Ibama reclama com relação ao desmatamento, mas nós continuamos com nossa Amazônia intacta em mais de 80 % de sua mata. Então, nós estamos dentro da Legislação atual, evidentemente com algumas áreas mais alteradas e outras não. Mas se você analisar, chega a exatamente isso, sendo que aqui houve uma colonização natural, que se chama “polígono de desapropriação”, que vem de Tucuruí a Itaituba e juntamente com a região da BR-163. Realmente vieram para cá pessoas do Nordeste e do Sul, para povoar essa região, para que pudéssemos trabalhar e o que a gente observa hoje, é a opressão e a perseguição. O que eu já falei, inclusive na tribuna da Alepa, eu fiz um discurso duro com relação a essas ações do Ibama, onde eles queimam patrimônio público, indo de encontro ao artigo 5º da Constituição Federal, que é preservar o patrimônio privado, ou seja, é inconstitucional o que eles estão fazendo, e isso gera na realidade uma ação, e toda ação gera uma reação, que foi esse episódio lamentável, a queima de caminhonetes do Ibama. Agora, o que nós queremos é que isso seja apurado. Quem me garante que não foram as próprias ONG’s que estão por trás fazendo isso, para criar um fato, para que possam, digamos assim, travar mais essa região. Já ouvi falar inclusive que lá de Brasília, a presidência do Ibama mandou parar todas as atividades das madeireiras da região.

Vejam só, não querem que o Pará se desenvolva. Eles não querem que o Pará tenha sua autonomia econômica, porque o Pará, que será o maior produtor de energia deste País, ainda tem seus recursos naturais intocáveis em mais de 60%, tem a BR-163. Se a balança comercial é positiva hoje no Brasil é devido à BR-163 que permite o escoamento dos grãos que estão sendo exportados, fazendo com que o Brasil tenha um PIB positivo, porque usaram as estradas do Pará, colocaram os grãos em nossos rios que é o Tapajós, que vai para o Amazonas e posteriormente para o Oceano Atlântico, fazendo assim a logística perfeita para que eles possam vender o grão muito mais barato, inclusive concorrendo com o mundo. Os Estados Unidos, por exemplo, produzem quatro vezes mais grãos que a gente, mas já começam a ficar preocupados; todos os anos há supersafras e isso preocupa. Podemos observar que aonde tem terra boa eles criam terra de índio; aonde tem minério eles criam uma reserva. Observamos, que há na realidade, uma política clara de entravamento do desenvolvimento do Pará. Eu faço minhas as palavras de uma frase célebre, de um cidadão do Pará que dizia o seguinte: “O Pará não precisa mais de ajuda, basta que não nos atrapalhem”. Nós estamos próximos da tecnologia do motor elétrico, onde 30% da frota mundial daqui a dez anos será de motor elétrico, aonde nós vamos ter energia de sobra e aonde nós teremos recursos naturais para produzir, na realidade, sem atacar o meio ambiente. Mas hoje nós observamos movimentos que ninguém sabe o porquê e fazem de tudo para deixar nossa Amazônia intocável, deixando nosso povo cada vez mais pobre nesse sentido e muito mais sem condições de trabalho a cada dia que passa. Evidentemente não conseguem porque é um povo batalhador e demonstra que em meio a toda essa perseguição, ele sobrevive e se sobressai, fazendo hoje da BR-163 e da BR-230, uma referência de produção agrícola em todo Brasil.

Jornal O Impacto: Já tivemos a oportunidade de viajar pela BR-163 e presenciamos um “inferno”, que muita gente tem convivido, principalmente no período das chuvas. Você acredita que esse entrave com relação ao desenvolvimento, é de interesse político?

Eraldo Pimenta: Na verdade, é de interesse político e estrangeiro. Eles não querem na realidade um País que produza e que faça frente à economia deles. Por exemplo, essa ameaça da Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega, onde ela simplesmente com interesse de falar para a mídia, disse para o presidente Temer: “Olha, nós vamos cortar investimentos, vocês estão desmatando”. Eu pergunto: que investimentos são esses? O Brasil pode muito bem dispensar, pois onde são aplicados esses investimentos, para travar o desenvolvimento do Brasil? A Noruega, para quem não sabe, é uma das maiores acionistas da Imerys, que é uma mineradora próxima de Belém e Barcarena, que responde a vários processos por crimes ambientais, por estarem jogando na realidade, materiais pesados na água. Então, esse papo furado de dizer “porque eu estou defendendo o meio ambiente”, não aceitamos mais. As matas ciliares deles já são zero, a Europa hoje está com 0,3% de seus recursos naturais, nosso Brasil ainda não usou sequer ainda 40%. Então, nós estamos na frente, o problema é que eles querem atrasar o Brasil. Essa é a realidade e nós precisamos tomar cuidado diante desses acontecimentos que vêm ocorrendo.

Jornal O Impacto: Ultimamente o presidente Temer participou da Reunião do G-20, onde ele relatou que no Brasil tudo anda às mil maravilhas, enquanto podemos observar que a realidade é completamente diferente.

Eraldo Pimenta: O presidente Temer, apesar de todas as dificuldades, hoje já dá indicativos melhora, pois há 19 anos nós não tínhamos uma taxa tão baixa de inflação. A retomada da economia já reiniciou. Se nós olharmos a questão política de Temer, acredito que ele não está olhando para isso, pois hoje ele tem menos de 10% de aceitação. Essa é a realidade, mas ele está querendo realmente colocar o Brasil nos trilhos, a gente percebe isso. Agora o que nós não podemos aceitar é a influência estrangeira, que chega aqui para dar “pitacos” no nosso Brasil, que nós conhecemos e amamos, pois vivemos nele. Os camaradas que se dizem ecologistas, ou melhor, os pseudo-ecologistas que estão nos criticando, não querem papo de vir para Amazônia não, para deitar numa rede, para saber o que é um carapanã. Eles estão lá, em uma grande mesa de vidro, ar condicionado, não abrem mão de seus elevadores que gastam energia e ao lado da sua mesa uma samambaia de plástico, e não querem trabalho. Porque com uma planta de verdade, tem que regar, e ainda vem um pessoal que é brasileiro, que inclusive sou até fã da modelo Gisele Bundchen, contrastando com alguns brasileiros que ficaram famosos como Carmem Miranda que ficou famosa usando o “balagandã” e Marta Rocha que por uma polegada não foi Miss Universo. Também vou citar o caso da Tiana, daqui de Santarém, que foi a musa inspiradora do saudoso cantor Wando, que compôs a música “Moça”. Mas foram lá para o exterior levaram suas belezas, mas trouxeram pra cá apenas o que há de bom que o Brasil tem para mostrar ao mundo. Gisele Bundchen foi, ganhou dinheiro com sua beleza, mas com ideias curtas, igual papagaio, fica falando apenas o que americano quer dizer e não sabe que está dizendo: “Vão acabar com nossas matas”. Então, pegue boa parte de seus milhões de dólares e ajude alguém. Eu fiz uma crítica para o cineasta James Cameron, que veio criticar nossa Amazônia, que inclusive ganhou mais de 100 milhões de dólares só na bilheteria do filme “Avatar”, foi uma revolução em 3D, inclusive muito bem feito, onde ele fazia comparações com nossa Amazônia, porém, não deu uma cesta básica para um índio, nunca ajudou ninguém e vem aqui no Brasil posar de ambientalista, só para ficar de boa com as pessoas de fora e o Brasil que se dane. Nós necessitamos é de fazer uma política ambiental responsável, mas de conhecimento, não esse papo furado de “nêgo” lá de fora simplesmente dar opiniões sem conhecer a realidade das riquezas da nossa Amazônia, que se trata da maior biodiversidade e do maior ecossistema do planeta, inclusive agora foi descoberto o “SAGA” que é o Sistema Aquífero da Grande Amazônia, que é maior que o aquífero Guarani, entre São Paulo e Goiânia, que antes era o maior do mundo e hoje é o SAGA que fica aqui entre Santarém e Manaus e debaixo do Tapajós com condições, pasmem, de manter a humanidade com água potável por mais de trezentos anos, segundo especialistas. Então, “Dubai” é aqui, e com certeza mais tarde iremos precisar de água potável no mundo e aqui nós temos de sobra, temos condições de gerar energia com recursos renováveis, nós temos condições de produzir produtos com materiais orgânicos, nós temos muito mais condições férteis, clima favorável. O que nós precisamos aqui, vou repetir, é que não nos atrapalhem, o Pará precisa trabalhar sem essas críticas absurdas e sem essas polêmicas que estamos vendo com relação aos produtores e moradores dessa região que há tantos anos estão aqui.

Jornal O Impacto: Mas falando de Santarém, nós estamos vivendo um drama, existem muitas obras do Governo do Estado paradas. Qual seu ponto de vista com relação a essa situação?

Eraldo Pimenta: O oriental libanês, o Simão Jatene, aquele camarada muito seguro em determinadas áreas, investe apenas na grande área metropolitana de Belém. Eu atravessei o Guajará, na Vila de Breja, a escola estava caindo e vi que o problema não está só no Sul e no Oeste do Pará, observamos que se trata de um descaso, um desconhecimento com relação a esse governo que já está aí há mais de 20 anos e que nós na realidade estamos assistindo, sabendo do descomprometimento que ele tem com a região Oeste do Pará. Eu tive o privilégio de ser Vereador e Prefeito duas vezes, eu costumo dizer que eu sou um fazedor de pontes, construo amizades todos os dias, então, eu fiz a Ponte do Tutuí, que na verdade liga Santarém a Uruará. Fizemos com que o curso da PA-370, ao invés de acompanhar Medicilândia e fazer um paralelo entre a BR 230 e a outra PA, pois não tinha porque você asfaltar duas vias, nós estabelecemos um ponto e fizeram praticamente um “L”, você chega em Uruará e entra  na PA-370, saindo aqui na Curuá-una. Então, nós unimos os dois municípios, essa PA-370 asfaltada irá servir para que possamos escoar a produção e alavancar a economia de Santarém, inclusive no quesito turismo, ou seja, uma integração de regiões com microrregiões. Com isso, Santarém que é uma cidade universitária, vai crescer muito mais ainda, vai receber de toda Transamazônica, assim como recebe da Calha Norte toda aquela demanda de alunos. Faz com que na realidade se crie uma corrente e um aquecimento na economia, gerando mais emprego e renda, proporcionando mais comodidade e muito mais facilidade aqui na região, para que possam se interagir no sentido da educação, da saúde, inclusive da infraestrutura. Observamos o governo do Estado, e percebemos que já passou o tempo dele, existe uma fadiga eleitoral. Eu costumo fazer conta em números: o Almir Gabriel (PSDB) foi governador quatro anos, se reelegeu e fez oito, logo depois elegeu o seu sucessor que foi o Jatene e fez doze, desses doze anos, nós tivemos apenas quatro anos com o governo da Ana Júlia, fechando dezesseis; logo depois volta o Jatene completa os vinte, se reelege e completa os 24 anos. Meu filho mais jovem não tem 20 anos, ou seja, nasceu um camarada há 20 anos, virou adolescente, já é praticamente adulto vendo esse governo que está aí, que lamentavelmente você não vê avançar. Se você observar as conquistas que tivemos nessa região, eu diria que foi mais pelo povo trabalhador, povo guerreiro que realmente fez com que se desenvolvesse, mas a questão política, do poder público, principalmente do Governo do Estado, foi mínima sua parcela aqui nessa região. Essa é a realidade.

Eu quero fazer aqui uma comparação bem rápida, nesses poucos meses em que o paraense Helder, o filho do Pará, que falo com muito orgulho, pois se vocês recordam, o exigente Ciro Gomes quando para apoiar o segundo turno para presidente da República exigiu o Ministério da Integração, trata-se de um Ministério cobiçado pelo Centro-oeste, Sudeste, Nordeste e Sul, porque é um Ministério forte, e quando vem um ministro de São Paulo, as pessoas botam tapete vermelho, batem continência, aquela coisa toda, e eles tiveram que se curvar aos paraenses Jarder e Helder, que tiveram um dos ministérios mais importantes da Federação. Então, isso é motivo de orgulho até para quem não gosta dos Barbalhos, mas nós precisamos valorizar o que é nosso. Faço minhas as palavras do poeta que inclusive é cantado em versos e prosas em uma canção sertaneja que diz assim: “Eu quero flores em vida, memórias póstumas, se deixa para Brás Cubas”. O que nós precisamos ter é a memória de agora, valorizar o que é nosso agora, daqui há alguns anos quando Jader Barbalho morrer, vão falar “Jader Barbalho era um cara bom”. Mas, deve-se dizer agora, o cara botou o filho dele no Ministério da Integração e o Estado do Pará só tem 17 deputados federais; do PMDB só tem 03 senadores, contra 70 de São Paulo, contra 80 senadores do Brasil, contra 503 deputados federais. Já pararam para pensar nisso? Se colocarmos em uma balança, podemos analisar que é um grande peso político para um Estado de grande extensão territorial. Observa-se que o Aécio Neves, mesmo com todo problema teve sete milhões de votos para Senados; Jader foi um dos mais votados no Pará, teve quase dois milhões. Olha a diferença, e está lá um paraense, um filho do Pará, e vejam só o que ele está fazendo. Só essa obra que ele colocou (ampliação da orla), praticamente faz frente a várias obras do Governo do Estado que estão paralisadas e que não têm nenhuma condição, pois esse governo que aí está já percebeu que já acabou o tempo dele. Eu conheço o Jatene, ele é um tecnocrata que vai fazer tudo para fechar as contas, se organizar, pois para ele já acabou o mandato. Agora, para nós paraenses parece que este ano está demorando a entrar alguém com a ousadia de querer inovar e fazer algo pelo estado do Pará. Sou Deputado, sou inclusive da bancada da oposição, tenho meus pontos positivos do governo e os negativos que hoje superam os positivos. Esta é a triste realidade e eu digo que esta estagnação que o Estado está tendo, é justamente pela falta da vontade política de um governo que não quer mais saber e nem quer papo com o Estado do Pará e principalmente com a nossa região. Por isso aguardamos que haja uma solução para as próximas eleições.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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