Sampaio Brelaz: “Naufrágio do Sobral Santos foi a maior tragédia do Pará”

Jornalista e comunicador conta detalhes sobre sua carreira profissional

Nossa reportagem conversou com uma das maiores figuras da sociedade santarena, Sampaio Brelaz, que é destaque em diversas áreas, como, comunicação, cultura e música. Ele atendeu nosso convite e veio participar do famoso quadro da TV Impacto, que homenageia as personalidades santarenas. Sampaio Brelaz nos contou um pouco da sua história, que por sinal é uma folha de serviço muito grande em diferentes setores para Santarém e região.

COMO TUDO COMEÇOU: Ao ser questionado como tudo começou, Sampaio Brelaz disse: “O Dr. Armando era o diretor da Rádio Clube na época, que hoje é a famosa Ponta Negra, e sua esposa era amiga de minha mãe. Foi através da minha mãe que entrei na área da comunicação, onde ela falou para a esposa do Dr. Armando que eu tinha muita vontade de ser locutor. Quando eu tinha meus cinco anos, já fazia discursos políticos; porém, eu não sabia ler, mas minha mãe fazia e eu decorava. Na verdade, eu era uma das atrações nos comícios, pois eu falava dentro de um camburão para que eu ficasse com a voz impostada, embaixo de um cajueiro em Juruti. Desde aquela época eu já sabia o que queria ser. Então, eu fui fazer o teste e fiquei sempre me culpando se de fato eu ia entrar por causa da minha competência ou por causa da amizade da minha mãe com a esposa do dono da rádio. Eu fiz o teste e no outro dia comecei a trabalhar. Mas eu fiquei muito feliz. Naquela época, nos meus 15 anos de idade, o Osvaldo de Andrade também já trabalhava por lá. Foi exatamente na Rádio Clube que eu comecei; depois passei para a Rádio Rural, também passei pela Rádio Tropical; pela primeira vez na TV Tapajós, como apresentador e como repórter; mais tarde retornei para a Ponta Negra. Também eu fui empresário de casas lotéricas, mas não gostei e voltei para o que eu sabia fazer. Nesse tempo também fui o primeiro assessor de imprensa de Santarém, no governo Antônio Guerreiro Guimarães; eu fui o primeiro repórter a utilizar uma unidade móvel, há 40 anos, quando nem se ouvia falar de celular para tornar as reportagens mais dinâmicas, aliás, através de uma dessas reportagens foi que eu encontrei o Veridiano, que foi considerado o maior garoto do mundo; naquela época ele tinha nove meses e já pesava 19 quilos. Veridiano foi um super bebê, como era chamado naquela época, nasceu na comunidade de Santa Cruz e sua mãe exatamente por necessidade veio até Santarém, onde eu a entrevistei no antigo SESP. Eu também escrevia para o Liberal, assim como também escrevia para a Folha do Norte, para O Momento, até mesmo para o Jornal O Impacto eu já escrevi. Então, eu fui fazer uma sessão de fotos lá embaixo daquela mangueira que hoje não existe mais ao lado da Rádio Rural e aí o único ônibus que fazia linha para Santa Cruz, de volta às dez e meia, foi embora e ficaram os pais do Veridiano e eu fiquei na obrigação de levá-los para casa; só que depois dessa ida para casa ele nunca mais voltou, ele foi adotado pelos meus pais. A referência rendeu três viagens ao Japão, porque comprovadamente ele foi o maior garoto do mundo, ele foi por três vezes a um programa que tem o maior índice de audiência do Japão, pois eles tratam de casos excepcionais do mundo todo. Atualmente, Veridiano está numa situação muito boa, é professor e tem duas faculdades”, disse Sampaio Brelaz.

Voltando à questão de suas atividades, questionamos se depois dessa passagem, Sampaio Brelaz voltou para a Ponta Negra. Ele foi enfático: “Na Ponta Negra eu passei nove anos como diretor da televisão e mais dois como gerente de expansão. Logo em seguida eu fui para a TV Tapajós, já fui como gerente de expansão para coordenar as emissoras que estão localizadas fora da sede do Município. Então, esse know-how já trouxe da Ponta Negra, que foi a questão de assessoria na área de telecomunicações que é uma coisa que não tem nada a ver com jornalismo. É outra coisa, trata-se da parte técnica e burocrática, eu acabei ficando por lá mais quatorze anos, nos quais nove anos atuei como âncora do “Mesa Redonda”, que me rendeu um aprendizado muito grande”, informou.

NAUFRÁGIO DO SOBRAL SANTOS: Recentemente aconteceu o acidente com um empurrador da empresa Bertolini às proximidades do município de Óbidos, culminando com 9 pessoas mortas. Você participou em termos de cobertura jornalística de um dos maiores acidentes fluviais do Brasil, que foi o do barco Sobral Santos, também em Óbidos. Como foi esse episódio?: “A média foi de 320 mortos nesse acidente, aconteceu no dia 20 de setembro de 1981, eu fui o primeiro repórter de fora a chegar no local, porque lá tinham os repórteres locais. Eu fui a serviço da Rádio Rural, do Jornal O Liberal e da Folha de São Paulo. Foi uma tragédia terrível. Para se ter uma ideia, como eu era o único repórter de fora presente no local, sempre alguém ligava para cá e informava que eu estava lá, eu passei 27 boletins para emissoras diferentes, só emissoras de rádio daquela época; do quinto em diante eu acabei decorando o texto, quase 30, foi a maior cobertura, talvez recorde, não conheço alguém que tenha feito essa proeza. Vinte dias depois do naufrágio, chegou exatamente um equipamento de Manaus igual a esse que todo mundo está conhecendo agora, a cábrea, que é um grande guincho, içou o Sobral Santos que era bem maior do que o rebocador da Bertolini. Como o número de corpos era muito grande, foram colocados na praia, eu fui andando e ouvi um barulho de água onde só deveria haver terra, pensei comigo mesmo: ‘estou ficando maluco’; quando eu olhe mais atentamente encontrei uma senhora distante, grávida, com a barriga comida por bichos, então, resolvi me aproximar e me deparei com a cena mais deprimente que eu presenciei em toda minha vida profissional, lá tinha um bacu e uma piranha comendo o feto que estava na barriga mulher”, revelou Brelaz.

Ao ser questionado por nossa reportagem se tinha participado de atividades políticas, como assessor de órgãos públicos, Sampaio Brelaz respondeu: “Além de ser o primeiro assessor de imprensa de Santarém, eu também fui assessor de imprensa por duas legislaturas e mais recentemente com atividade que desenvolvi na TV Tapajós, onde eu fui diretor da divisão de publicidade institucional e também dava algum assessoramento em relação à própria assessoria de imprensa”.

Sampaio Brelaz também teve uma fundamental participação na parte cultural de Santarém: “Eu fui coordenador do Festival Folclórico durante sete anos consecutivos, fui presidente da ASAC, fui um dos coordenadores da Feira da Cultura Popular por muitos anos, fui diretor cultural do antigo Mobral, eu sou daquele tempo que havia o campeonato de peladas que acabou”, declarou.

Durante esse período, Sampaio também experimentou a vida empresarial no ramo de agente lotérico, aliás a lotérica existe até hoje, que é aquela da Avenida Tapajós, “O Bolão”. Perguntamos se ele gostou da atividade: “Eu não gostei muito, mesmo eu sendo empresário, nunca larguei totalmente a comunicação, sempre eu estava envolvido de alguma forma, tanto que eu tenho 44 anos de comunicação ininterrupta”, falou.

VIDA FAMILIAR: Sampaio Brelaz tem uma família com um alicerce muito forte. Tanto é que nos fala um pouquinho dessa história e como tudo começou: “Só de namoro foram oito anos de enrolação e depois mais trinta e seis de casamento. Então, temos uma grande história de amor; tivemos três filhas, duas estão em Juruti, todas duas são concursadas, uma na área de educação e a outra recentemente contratada pelo Ministério Público Estadual. A mais velha está nos Estados Unidos, fazendo hoje levantamento de análise da água do Rio Amazonas para voltar e defender sua tese de doutorado. Nada na minha vida foi de graça, acho que desde o começo, eu levantava quatro horas da manhã, trabalhei na Rádio Clube e depois fui para a Rural, também trabalhando de madrugada, que são os horários que dão para aqueles que não têm relação de confiança e depois a gente vai subindo; cheguei a ser diretor de televisão e rádio; os cargos políticos também na nossa área, os mais acessados, não posso dizer que sou uma pessoa infeliz”, revelou Brelaz.

Chegou o momento de falarmos sobre o troféu que ele recebeu, inclusive em um momento de homenagem que o jornal O Impacto faz ao próprio Edinaldo Mota, que nós já entrevistamos aqui, é o famoso “Dinossauro do Rádio”: “Verdade, começaram a chamar de ‘Dinossauro do Rádio’ para o Ednaldo e ele com um raciocínio muito rápido resolveu homenagear outros colegas e eu tenho a impressão que a maior honra que alguém pode receber nessa área é exatamente um troféu desses. Quem dera que todo mundo pudesse receber, mas nós temos o troféu ‘Dinossauro do Rádio’ que foi uma comenda do respeitado Ednaldo Mota, que é uma lenda viva, é uma das nossas referências, saiu da comunicação em pleno auge, ele teve a coragem de sair de uma AM e ir para uma FM levando o modelo AM e tendo exatamente o mesmo sucesso por conta da sua capacidade de raciocínio e de saber se comunicar. Eu sinceramente tenho uma grande admiração por ele”, fala emocionado.

Brelaz também falou sobre uma participação importante na vida profissional de Gerson Gregório, que também é seu conterrâneo: “O Gerson foi eu quem trouxe para cá. Como Gerson, tem muita gente que hoje está na imprensa que é oriundo da Ponta Negra, onde posso citar o Carlos Silva que foi o primeiro apresentador do “Santarém Aqui Agora”, não tinha experiência de televisão, ainda não tinha se consolidado; Vander Luiz na área de esporte, também nunca tinha trabalhado; Valdir Ribeiro, e tantos outros colegas que a gente criou a oportunidade e eles souberam aproveitar, que inclusive estão até hoje consolidados. A facilidade do acesso à informação que se tem hoje está na palma da mão; naquela época eu pegava o jornal da capital do dia anterior, cortava com tesoura e ia ler, pois nem máquina de escrever não tinha, então, essa é a grande sacada, a gente acabou ultrapassando e mais interessante que isso, nós fomos vencendo e acompanhando as evoluções e acabamos sobrevivendo até agora, não é por acaso que nós sobrevivemos, é porque nós soubemos obter as conquistas de acordo com a melhoria que foi se vendo agora. Por exemplo, era inimaginável pensar que uma emissora de televisão pudesse transmitir notícias ao vivo como aconteceu agora com o içamento do rebocador da Bertolini, eram coisas inimagináveis no nosso tempo”, informou.

Ao encerrar, Sampaio Brelaz manda sua mensagem, diante de toda a sua experiência no meio da comunicação, para os novos: “Hoje a facilidade é maior, mas de contrapartida, a cobrança também é maior. Hoje você tem o dever de ser melhor do que nós éramos, porque a facilidade que você tem de ter acesso às informações é muito maior. O grande conhecimento que você adquire é muito maior também, então, você tem que proporcionalmente ser mais cobrado”, finalizou Sampaio Brelaz.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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