Alberto Batista: “Agronegócio não atendeu à expectativa da economia”

Empresário analisa modelos de desenvolvimento implantados em Santarém

O empresário Alberto Batista, presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas de Santarém), em entrevista ao âncora da TV Impacto, o jornalista Osvaldo de Andrade, realizou uma sintética avaliação sobre as inconsistências econômicas e sociais advindas da execução de estratégias para o progresso e dinamização da economia do município.

Na ocasião, Batista ressaltou o importante papel desenvolvido pelo Jornal O Impacto e a TV Web Impacto. “É um grupo de comunicação que se preocupa com desenvolvimento econômico e social do município de Santarém e espaço onde a gente realmente pode debater, buscar e divulgar as informações que existem, para que a sociedade possa saber dessas informações e, junto com poder público, buscar soluções para nossa economia”, expôs o empresário.

Para ele, precisamos refletir sobre o que acontece com Santarém e Região, principalmente das consequências econômicas e sociais de Políticas Públicas implementadas sem participação da sociedade.

“Nós temos visto alguns modelos de desenvolvimento pensados para a Amazônia, pensados para o nosso Município, que eles se esgotam, daí a necessidade de fazer um planejamento para a cidade pensando nos próximos 20, 30, 50 anos, onde o governo que assuma o Município possa dar continuidade a esse projeto, no propósito único de sairmos dessa realidade que vivemos hoje, onde nós temos uma renda per capita na faixa de R$ 400, um pouco menos de meio salário mínimo e mais de 63 mil pessoas cadastradas no Bolsa Família. É essa realidade que eu combato, é essa realidade que nós buscamos encontrar alternativas para finalmente crescermos e buscar o desenvolvimento, e isso é possível, já que nós vivemos em uma região que tem privilégios inigualáveis e que há possibilidade real de crescimento. Esses modelos de desenvolvimento, como o próprio agronegócio, são implementados nos municípios sem discutir com a sociedade. No final da década de 90 o gestor municipal entendeu que deveria investir no agronegócio e promoveu que viessem para cá vários agricultores com esse propósito. Experiências exitosas, mas com realidades diferentes. Quando você pensa em Sorriso, no estado do Mato Grosso, quando você pensa assim de Sinop, você não pode esquecer que ali existiam cidades muito pequenas e que havia muita área para ser investida. Em Santarém, o campo já estava ocupado, então, o que aconteceu a essas pessoas que aqui chegaram? Adquiriram terras produtivas pelo valor na época muito baixo, considerado com a realidade de hoje, e isso provocou uma explosão nos preços de terras, tanto na área urbana da cidade quanto na zona rural. As pessoas que venderam suas terras e vieram para cidade, tinham esperança de aqui conseguirem se sustentar com estes recursos que adquiriram dessas vendas. Isso foi um ledo engano, porque o que ocorreu é que essas pessoas terminaram inchando a cidade, criando vários bairros de forma desordenada e isso gerou uma pressão social sobre o Município muito grande, porque não há emprego. Ao mesmo tempo em que no campo ele passou a produzir sim, mas de forma muito concentrada. Você observa que no campo gera muito pouco emprego, já que a agricultura hoje é basicamente toda mecanizada. Esses investimentos em torno de R$ 300 milhões por ano, que é o que a soja produz, não circulam na sua totalidade dentro do Município. Você pode notar isso através do índice de emprego, este ano nós estamos aí com crescimento de 663 postos de trabalho até agora, mas na verdade, isso é uma recuperação do que foi perdido em 2015/2016, quando nós perdemos mais de 1.300 postos de trabalho. Então, na verdade, não é um crescimento, é uma recuperação daquilo que foi perdido. É preciso se pensar em um modelo, em uma proposta nova para Santarém, que alcance principalmente as pessoas, até porque o Governo Federal usa a Amazônia para atender o Brasil. Aí, você vê que o agronegócio é que ajuda na balança comercial, você vê Belo Monte no formato que foi criada resolveu o problema energético do Brasil, o minério de Carajás e aqui do oeste do Pará, que também equilibra a balança comercial brasileira, mas não traz benefício para o Amazonas, para o Pará. Nós sofremos com isso, pagamos umas das energias mais caras deste País e nós somos passivos dessas decisões e atitudes do Governo Federal, que não discute com a sociedade essa realidade, que precisa ser revista, essa realidade precisa mudar. Nós precisamos pensar na agricultura familiar, que aí sim você distribuir riquezas, porque o pequeno produtor consegue produzir e vender na comunidade onde ele está e também essa renda vai ser consumida aqui mesmo. Você precisa pensar em outros canais, outras linhas de desenvolvimento, como a verticalização da economia. Nós urgentemente temos que implantar o Distrito Industrial, para que a gente possa transformar aquilo que produzimos agregando valor e aí sim poder vender com um valor competitivo no mercado, mas ainda assim agregando valor à nossa economia, gerando renda para a população”, disse Alberto Batista.

DISTRITO INDUSTRIAL: Em termos de dinamização e verticalização da economia de Santarém, há anos se discute a implantação de um polo industrial. Porém, a definição de um local para abrigar as indústrias ainda é um desafio que precisa ser superado.

“O entrave não é apenas um Distrito Industrial, mas em quase toda a totalidade das áreas aqui do oeste do Pará. Elas não possuem regularização fundiária. Na década de 70 o Governo Federal, através do Incra, arrecadou 100 Km de terras na margem da BR-163, e aí tomou para si. As pessoas que tinham títulos de terras naquela época podiam se habilitar junto ao Incra. Aqueles que não fizeram, porque nem tomaram conhecimento, uma vez que isso era publicado em jornal na capital e a população aqui não tinha acesso a essa informação, não se habilitaram. Portanto, seus títulos hoje são considerados nulos, inválidos. As terras que existem aqui estão propícias para agricultura familiar, para o próprio agronegócio, mas na sua grande maioria não têm legitimidade para que o agricultor possa ir junto a um banco, como o Banco da Amazônia, levantar recurso para investir na sua própria terra. Na mesma forma a questão portuária. Não está definida a área portuária de Santarém por conta disso, é impossível a qualquer investidor e empreendedor implantar um porto aqui. Isso afugenta investidor e nós temos perdido várias empresas, vários investidores que chegam a Santarém e veem o potencial da cidade, veem a importância geográfica que nós temos com relação à Europa e aos Estados Unidos para exportação a partir de nossos rios, mas por essa questão de segurança jurídica e de terra, eles desistem de investir aqui e vão procurar investir em outro lugar. Por isso a carência de emprego aqui é grande, nós temos aproximadamente 4.000 jovens que se formam todos os anos nas universidades públicas e privadas do Município, mas que não têm emprego. Eu costumo dizer que a única porta de trabalho para o mercado de trabalho para esses jovens que se formam nas universidades é a porta dos aviões, para eles irem para os grandes centros procurarem serviço, que aqui não gera. Isso é uma tristeza para nós que estamos aqui, amamos Santarém e queremos ver a cidade crescendo, mas o que vemos são nossos filhos indo buscar oportunidades lá fora, quando a gente tem aqui. Basta uma vontade política do Governo Federal, do Governo do Estado e do Município, buscar regularizar essas áreas que estão com dificuldades de documentação, para que se possa investir e produzir aqui”, informou o empresário.

QUESTÕES AMBIENTAIS: Outra vertente que se tem dificuldade além da questão fundiária, são os procedimentos ambientais necessários para que empreendimentos se tornem realidade. Conforme o empresário, nomeações políticas para cargos técnicos dentro de órgão públicos, trazem ingerência na obtenção de uma resposta a contento.

“O grande problema na questão ambiental e fundiária é que hoje a nomeação desses grandes órgãos, como: Incra, Ibama, Terra Legal, são indicação política e muitas das vezes o indicado não conhece da parte em que ele vai gerir, que vai administrar e isso faz com que atrase, com que não ande, não aconteça essas regularizações e a população fica cada vez mais receosa que a gente possa buscar desenvolvimento, por causa da grande burocracia que existe nesses órgãos públicos”, disse.

CONCENTRAÇÃO DE RENDA: O exponencial crescimento demográfico de Santarém, não é acompanhado pelo desenvolvimento econômico, e uma melhor distribuição de renda entre a população. Como consequência, nas periferias aumentam os bolsões de misérias, de um povo, dependente do bolsa família.

Para Alberto Batista, esta situação é o retrato de um município que cresce sem planejamento e ações institucionais visando uma melhor equidade em termos de oportunidade.

“Mas aí você observa o grande paradoxo que nós vivemos em Santarém. Existe uma concentração de renda muito grande no Município, onde poucas pessoas ganham muito e a maioria não está ganhando nada, inclusive há muitos desempregados. Essa concentração de renda faz com que você veja realmente um grande investimento imobiliário acontecendo, mas é que ela não alcança o seu fim de moradia quando você pensa nas pessoas com renda até de meio salário mínimo. O paradoxo é exatamente isso, porque você vê grandes invasões acontecendo, ao mesmo tempo em que há este conflito na cidade, e mais um detalhe, investimentos que poderiam estar hoje beneficiando essa população de baixa renda estão travados por questões ambientais. Você vê alguns investimentos parados na cidade por três, quatro ou cinco anos, que teriam preços razoavelmente baratos para essa população, mas que há um travamento e não há possibilidade de negociar essas terras, porque tem alguma pendência, seja judicial ou na questão de licenciamento pelo Ibama. Enfim, esse é o grande dilema que nós vivemos atualmente”, diz o presidente do Sindilojas, e segue:

“A questão política de Santarém merece ser uma reflexão, até porque os grandes partidos políticos conseguem fazer os seus candidatos, a sua presidência está na capital e eles enviam para Santarém a esperança de que possa haver bastante candidatos locais, mas na verdade esses candidatos servem como bucha de canhão para atender aos candidatos da capital, os caciques dos partidos. Na verdade, os candidatos daqui da região normalmente só servem para somar votos para os candidatos da capital. Nós corremos o risco este ano de mais de uma vez não termos representante na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional. É preciso uma reforma política, a sociedade tem muito pouco a transformar a partir deste modelo que aí está. Devemos começar a pensar no voto distrital, para que o representante seja compromissado com aquele local onde ele foi eleito, e talvez assim a gente possa ter representatividade para defender os interesses do Município na capital do Estado e no Distrito Federal”, finalizou Alberto Batista de Oliveira.

Por: Edmundo Baía Júnior

Fonte: RG 15/O Impacto

3 comentários em “Alberto Batista: “Agronegócio não atendeu à expectativa da economia”

  • 21 de setembro de 2018 em 18:40
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    Para que o pequeno e médio produtor rural tenha crédito junto aos bancos, é urgente que o INCRA regularize suas propriedades! Até agora esse órgão federal somente tem gerado falcatruas políticas e desvios de verbas. Chega de ideologia, vamos trabalhar, fora os indicados políticos, que nada entendem do assunto !

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  • 21 de setembro de 2018 em 18:33
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    A gente esperando um comentário inteligente e aparece uma imbecil falando em denunciar amante! Francamente, gentalha não se manca mesmo !

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  • 21 de setembro de 2018 em 08:25
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    #se o bolsonaro ganhar, vou expor macho de família tradicional brasileira que tem amante
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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