Alerta – Pará registra 223 casos de doença de Chagas

Com ou sem açúcar e acompanhado de charque, peixe-frito ou outra comida, o açaí é um dos alimentos mais consumidos pelos paraenses. Estima-se que cerca de 30 toneladas do fruto sejam comercializadas apenas em Belém todo mês. Mas a falta de manejo adequado na produção do açaí pode transformar um prazer num problema com consequências graves para a saúde, como a contaminação por doença de Chagas. Até a última quarta-feira a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) já havia registrado 223 casos de doença de Chagas no Pará, em 34 municípios. O Estado lidera o número de ocorrências em todo o país.

O Instituto Evandro Chagas (IEC) confirmou essa semana surto da doença no Marajó e divulgou relatório técnico sobre 13 casos na região em menos de 10 dias, todos de pacientes que consumiram açaí vendido em locais não certificados. Os casos foram diagnosticados em outubro e ocorreram na localidade do Rio Mocoões (Limoeiro do Ajuru), e na localidade de Jupatitiba (Curralinho). Acará, na região nordeste, já registrou 4 surtos da doença de Chagas somente este ano.

Segundo o Departamento de Vigilância Sanitária de Belém (Devisa), a estimativa é de que existam mais de 5 mil pontos de vendas de açaí na capital na entressafra e menos de 2% contam com o selo “Açaí Bom” concedido pelo departamento, o que dá cerca de 150 estabelecimentos. O número de pontos cresce durante o período de safra, que vai de agosto a novembro. “A estimativa é de que, nesse período, esse número de pontos de comercialização suba para cerca de 8 mil”, destaca Camila Miranda, coordenadora da Casa do Açaí, vinculada ao Devisa municipal e especializada no atendimento aos batedores do fruto, promovendo cursos para os profissionais.

DECRETO ESTABELECE ETAPAS DE HIGIENIZAÇÃO

De janeiro a outubro foram 1.850 inspeções realizadas pelas equipes da Casa do Açaí e 3 estabelecimentos interditados por adulteração e produto com mistura (farinha d’agua) e falta de higiene. “Nas fiscalizações, são avaliados itens como maquinário, armazenamento, condições do estabelecimento, vestuário, forma de trabalho, cursos de capacitação, entre outros. Também são coletadas amostras de açaí, que são enviadas para análise laboratorial para identificação de possíveis misturas ou agentes que possam intervir na saúde do consumidor”, coloca Camila.

Entre os cursos oferecidos está o que esclarece o que prevê o Decreto Estadual 326/12, que estabelece requisitos higiênico-sanitários para a manipulação de açaí e bacaba por batedores artesanais, de forma a prevenir situações com doenças transmitidas por alimentos e minimizando o risco sanitário.

Podem participar dos cursos todas as pessoas que trabalham com açaí ou que têm interesse em conhecer sobre as etapas de higiene do fruto. O manipulador artesanal, hoje, tem que seguir o decreto estadual, que estabelece etapas de higiene do açaí, que inclui o peneiramento, a catação, as lavagens e o branqueamento. “O curso oferecido em Belém já qualificou mais de 7 mil batedores desde 2016”.

A população também pode ajudar na fiscalização: quem quiser denunciar condições inadequadas de venda do produto pode ligar para o telefone 3236-1138, sem necessidade de identificação. Uma equipe da vigilância sanitária é enviada ao local para apuração. Neste ano, foram 23 denúncias investigadas, sendo 8 por mistura do açaí a outros componentes.

O DIÁRIO percorreu alguns pontos de venda de açaí na capital. A reportagem tentou entrevistar alguns comerciantes que não utilizam as recomendações da vigilância sanitária nos bairros do Guamá e Jurunas, mas a equipe de reportagem foi hostilizada. A alegação foi a falta de informação.

SELO

Já nos pontos regularizados com o selo da Devisa a reclamação é sobre a falta de uma fiscalização maior. Valquíria Costa, sócia de um ponto de venda de açaí que já funciona há 26 anos na feira da 25 de Setembro diz que sempre se preocupou na qualificação de seus empregados e cumprir o que determina a Lei, com todas as etapas de higienização do açaí. “Investimos, fazemos cursos e executamos aqui tudo o que a prefeitura manda, mas parece que apenas nós somos fiscalizados”, critica.

O “Açaí do Farinhão”, na travessa 3 de Maio, também cata, lava com cloro e faz o branqueamento do açaí que comercializa. Costuma vender 50 litros por dia, quantidade que triplica aos finais de semana. “Aqui o proprietário cumpre tudo o que a vigilância manda. Fizemos inclusive o curso na Casa do Açaí. Os clientes nos cobram muito”, diz a atendente Leilane Borges. O ponto já comercializa açaí há mais de 30 anos.

CUIDADOS QUE DEVEM SER OBSERVADOS ANTES DE CONSUMIR O AÇAÍ

– Nos pontos de venda de açaí o consumidor precisa ficar atento às várias etapas do processo de descontaminação e observar se o batedor cumpre todas as etapas de higiene

– A primeira delas é o peneiramento e catação. É nessa etapa onde o barbeiro, vetor da doença de Chagas, pode ser encontrado. Em seguida o fruto deve passar pela lavagem em três águas para tirar toda sujeira.

– O próximo passo é deixar o açaí de molho no cloro por 20 minutos e em seguida lavar em três águas para tirar o excesso do produto.

– O passo seguinte é o branqueamento, quando o fruto é mergulhado em 80 graus por 10 segundos, seguido do resfriamento, mergulhando o fruto em água fria, de preferência filtrada. Essa é a única técnica que elimina a transmissão da doença de Chagas

– O passo final é o chamado “despolpamento” e envase do açaí, que deve ser feito o mais rapidamente possível, para que não tenha o acúmulo de bactérias.

– Entre as normas cobradas pelo Devisa está o isolamento da área de manipulação do fruto, que deve estar sem acesso à residência e outras áreas ou atividades que possam ser fontes de contaminação.

Fonte: Devisa e Luiz Flávio/Diário do Pará

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *