Psicóloga alerta para o aumento de casos de crianças com depressão
Durante entrevista à repórter Lorenna Morena, da TV Impacto, a psicóloga Patrícia Cunha lançou luz sobre a crescente crise de saúde mental no Brasil, com foco no preocupante aumento de casos em crianças.
A profissional reforçou a necessidade de conscientização sobre a saúde mental, especialmente no contexto infantil. Ela destacou que a depressão em crianças é um problema real e crescente, que exige atenção, cuidado e tratamento adequado.
Para ela é preciso quebrar o estigma associado à busca por ajuda profissional e que todos podem e devem buscar apoio quando necessário.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocupa o primeiro lugar em casos de ansiedade e o quinto em depressão, incluindo crianças de 6 a 12 anos. Além disso, o país é o segundo em número de suicídios.
O impacto da pandemia
A pandemia de COVID-19 agravou ainda mais a situação, com um aumento “exorbitante” de casos de ansiedade, depressão e tentativas de suicídio, contrariando as expectativas de uma melhora após o período de isolamento.
De acordo com a psicóloga, as patologias mentais não só persistiram, como também se intensificaram, atingindo até mesmo crianças e adolescentes. Ela ressaltou que essa situação é especialmente preocupante, pois as crianças estão em fase de desenvolvimento psíquico e podem sofrer traumas com consequências a longo prazo.
Sintomas e sinais de alerta em crianças
Patrícia Cunha destacou que é crucial que pais, cuidadores e educadores estejam atentos a mudanças no comportamento das crianças, principalmente no ambiente escolar. Os sinais de alerta incluem:
Isolamento social: A criança se afasta dos colegas, não quer participar de brincadeiras e evita interações sociais. “Fica mais quieto, diminui a fala com os colegas, não quer sair na hora do intervalo”, descreveu a psicóloga.
Alterações no rendimento escolar: Há uma queda nas notas, falta de ânimo para ir à escola e dificuldade em realizar as tarefas. “Normalmente ele regride. Então ele passa a tirar menos notas, passa a não ter ânimo para ir à escola, nem prazer de fazer tarefas ou se socializar”, explicou.
Mudanças de humor: A criança fica mais quieta, aborrecida, chorosa ou irritada com mais frequência. “Em casa, essa criança também está nesse isolamento, fica mais aborrecida, chora com mais facilidade”, alertou.
Perda de interesse: A criança demonstra falta de prazer em atividades que antes gostava.
A profissional ressaltou que a identificação precoce desses sinais é fundamental para um tratamento eficaz.
A importância do tratamento e do acompanhamento
Ao notar qualquer um desses sinais, é essencial buscar ajuda profissional. Patrícia Cunha recomenda que os pais ou cuidadores procurem um psicólogo, psiquiatra infantil ou neuropediatra, que são os profissionais mais indicados para diagnosticar e tratar esses casos. Ela também enfatiza que a busca por ajuda não deve ser feita apenas quando os sintomas já estão instalados, mas como forma de prevenção. “O psicólogo não é só quando já tá com os sintomas. Acho que todo mundo pode procurar um psicólogo” explicou a psicóloga.
Fatores contribuintes e impacto do bullying
A psicóloga também abordou o bullying como um fator que pode agravar ainda mais a saúde mental das crianças. Ela explicou que os agressores costumam escolher vítimas mais quietas e passivas. O bullying pode causar traumas significativos nas crianças, levando a casos de depressão e até mesmo suicídio.
Ela relatou casos de suicídio infantil em cidades vizinhas e em Santarém, envolvendo crianças de 9, 10 e 11 anos, que foram vítimas de bullying na escola e fora dela. Ela também citou um caso impactante de um menino que matou vários animais em um pet shop, demonstrando como a sociedade se apressou em julgar a criança sem buscar entender o que havia acontecido.
“[…] ninguém se preocupou com isso […] o que aconteceu com essa criança para chegar a esse ponto?”, disse ao se referir ao caso do menino que matou os animais.
O papel dos cuidadores
Patrícia Cunha direcionou um recado especial aos cuidadores, enfatizando a importância de um acompanhamento mais próximo dos filhos. Ela aconselha que, ao deixar a criança com um cuidador, a primeira pergunta não deve ser apenas se a criança comeu ou tomou banho, mas também o que ela assistiu, com quem brincou e como se sentiu. Esse acompanhamento mais próximo e atento, segundo ela, pode fazer toda a diferença para a saúde mental da criança. A psicóloga relata que em seu trabalho em escolas, ela costuma dizer para os pais que “às vezes essa pergunta (se comeu e tomou banho) é a que você não deveria fazer”, porque as pessoas geralmente se preocupam em dar comida e banho, mas não se atentam ao bem-estar emocional e ao que as crianças fazem em seu tempo livre.
Recursos e apoio disponíveis
Para quem busca ajuda, a psicóloga oferece atendimento em seu espaço, @espacomentesaude, que também conta com outros profissionais como neurologistas e psiquiatras. Além disso, ela recomenda o serviço gratuito do CVV (Centro de Valorização da Vida), acessível pelo número 188, para acolhimento emocional.
“[…] se você em algum momento tem vergonha, não quer fazer terapia porque outras pessoas podem estar ali te vendo, entrando no consultório, você liga para o 188”, destacou a psicóloga.
Por Baía
O Impacto