Carne acumula alta de quase 30%

Definitivamente, em matéria de carne bovina, 2010 não foi um ano bom para o consumidor. O produto acumulou, no período de janeiro a novembro, uma alta de aproximadamente 23% e ameaça fechar o ano com uma variação próxima à casa de 30%, índice cinco vezes superior à inflação do período. “São altas expressivas e injustificáveis para um Estado que figura entre os maiores produtores e exportadores de carne bovina do país”, afirma o economista Roberto Sena, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Para o comportamento ascendente dos preços, existem várias explicações, partindo tanto do setor produtivo quanto dos pesquisadores da área técnica responsável pelo abastecimento. Um fator importante, na opinião dos especialistas, é a entressafra, que reduziu a oferta em algumas das áreas tradicionalmente produtoras do Brasil. Outro fator, este relacionado especificamente ao Pará, foi a prolongada estiagem que atingiu o sul do Estado, causando redução da oferta de boi gordo e a consequente elevação dos preços.

Paralelamente a isso, estão em curso dois fenômenos que se combinam para afetar o mercado da carne, interferindo diretamente tanto na oferta quanto nos preços. Um diz respeito à produção. O avanço da soja, sobretudo no Centro-Oeste do Brasil, vem inibindo o crescimento da pecuária, cuja produção se mantém estabilizada ou variando abaixo do que seria desejável para preservar o equilíbrio entre oferta e demanda. Situação parecida vem se registrando na região Norte, e mais especialmente no Pará, embora por razões diferentes. Aqui, o elemento inibidor não é a soja, mas as restrições cada vez mais severas ditadas pela agenda ambientalista internacional.

Enquanto a oferta se mantém relativamente estável ou com tendência declinante, a demanda se mostra cada vez mais aquecida, tanto internamente quanto no mercado externo, em franca recuperação depois da crise financeira de 2008. Internamente, segundo os pesquisadores, o consumo de carne vem crescendo – em ritmo mais veloz que o da oferta – em função da melhoria geral dos indicadores socioeconômicos, impulsionados pelos programas oficiais de distribuição de renda, pela elevação do nível de emprego e pelo crescimento real dos salários.

OFERTA

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Fernandes Xavier, não procede a alegação de que os preços estão subindo em consequência da diminuição da oferta. O que está ocorrendo, segundo ele, é um choque provocado pelo reaquecimento da economia mundial combinado, internamente, com o problema sazonal da entressafra nas regiões tradicionalmente produtoras do Brasil.

Segundo Xavier, o rebanho do Pará situa-se hoje na casa de 20 milhões de cabeças, o que permite um desfrute anual de quatro milhões de bois, sendo um milhão para o abastecimento do mercado local. Pelas contas do presidente da Faepa, 2,8 milhões de animais alimentam o parque frigorífico do Pará, 800 mil bois são vendidos vivos para o Nordeste e aproximadamente 400 mil são destinados à exportação.

A mesma trajetória ascendente dos preços, detectada pela Conab no comércio atacadista do boi, vendido pelos pecuaristas para os frigoríficos, foi constatada também pelo Dieese no comércio varejista da capital. Sena observa que o preço médio mensal do quilo de carne em Belém saiu de um patamar de R$ 10,69 em dezembro do ano passado para R$ 13,15 em novembro de 2010. “Em todo esse período o preço da carne seguiu uma trajetória contínua de alta”, acrescentou.

A partir da segunda quinzena deste mês, passou-se a observar o que parece ser os primeiros sinais de estabilização. Em alguns pontos de varejo, chegou a haver ligeiros recuos de preço, contrariando a tendência de alta que se manteve por vários meses. O supervisor do Dieese se mostra convencido de que o preço da carne aparentemente alcançou o teto. Se o raciocínio estiver correto, a partir deste ponto qualquer aumento deve provocar uma retração no consumo.

CENÁRIO

Para Sena, o cenário atual de aparente acomodação de preços também pode estar associado ao fim da entressafra em outras regiões do país e também da estiagem que castigou nos últimos meses o sul e sudeste do Pará, regiões mais produtoras do Estado. Neste caso, deve-se esperar, na avaliação dele, uma trajetória declinante dos preços no primeiro trimestre de 2011, pelo menos.

Outro fator que pode estar interferindo no preço da carne, na avaliação de Sena, é a mudança do padrão de consumo nesta época do ano, quando o consumidor busca diversificar os produtos levados à mesa. Dependendo da faixa de renda, a carne passa a ser substituída na quadra natalina pelo frango, peru ou pelo bacalhau.

Cotações sobem em todas as regiões do Estado

Levantamentos realizados no Pará pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostram que o preço médio da arroba do boi em pé começou com uma cotação de R$ 67,02, em janeiro deste ano e chegou a novembro na casa de R$ 95,72. Em dezembro, a Conab vem detectando uma ligeira oscilação para baixo, ficando o preço médio da arroba até aqui na faixa de R$ 91,66. O levantamento, feito periodicamente, abrange quatro grandes polos pecuários do Pará – Castanhal, Redenção, Paragominas e Marabá.

Segundo o economista e engenheiro agrônomo Moacir da Cruz Rocha, encarregado do setor de apoio à logística e gestão da oferta da Conab no Pará, uma comparação dos preços praticados em dezembro deste ano, nos quatro polos, mostra uma elevação sempre superior a 30% em relação ao mesmo mês do ano passado. A maior alta, de 34,27%, ocorreu em Redenção. A segunda (33,25%) ficou com Marabá e a terceira (31,67%) com Paragominas. A menor variação ocorreu em Castanhal, que registrou alta de 31,06%.

O pesquisador chama a atenção para o fato de que, embora tenha caído ligeiramente em dezembro em relação a novembro, é ainda cedo para se falar em tendência de queda. “Os preços estão oscilando bastante”, destacou Rocha, acentuando que as cotações voltaram a subir em todas as regiões pesquisadas na semana que antecedeu o Natal. O acréscimo médio no Estado, em uma semana, foi de pouco mais de 2%.

O que provocou o recuo dos preços nas duas primeiras semanas de dezembro, segundo ele, foi a ampliação da oferta de gado para abate nos frigoríficos. Estimulados pelo bom preço de venda alcançado no mês anterior, muitos produtores decidiram se desfazer de parte do rebanho, objetivando com isso fazer caixa no final do ano e liberar algumas áreas para renovação das pastagens. “Bastou diminuir o ritmo das vendas numa única semana, porém, para os preços voltarem a subir”, ressaltou.

Diário do Pará

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