Envolvimento com Perillo vira estratégia da defesa de Cachoeira
Pela primeira vez nas audiências em curso na Justiça Federal deGoiás, os advogados do bicheiro Carlinhos Cachoeira usaram como estratégia de defesa o envolvimento do governador de Goiás, MarconiPerillo (PSDB), com a organização criminosa. Até agora, a defesa dos réus só havia citado os diálogos entre Cachoeira e o então senador Demóstenes Torres. O advogado Augusto Arruda Botelho, que integra a defesa de Cachoeira, citou a existência de um documento com os chamados “encontros fortuitos” de provas, durante o depoimento do agente da Polícia Federal (PF) Daniel Guerra Ferreira, o quarto a depor desde ontem.
– Num dos autos de encontros fortuitos, assinado pelo senhor, há a afirmação sobre a clara relação da organização criminosa com o governador Marconi Perillo. Foi o senhor que escreveu isso no documento? – questionou o advogado. Daniel disse não ser o responsável por essa parte do relatório.
A estratégia da defesa é tentar a nulidade do processo que investiga o grupo de Cachoeira, a partir do argumento de que políticos com foro privilegiado – como era o caso de Demóstenes e como é o caso de Perillo – não podem ser investigados na instância atual em que tramitam as investigações. O governador de Goiás é citado diversas vezes nas escutas telefônicas, foi ouvido na CPI do Cachoeira instalada no Congresso (onde é um dos principaisinvestigados) e passou a ser investigado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde tem foro.
Cachoeira chegou por volta das 8h20 à Justiça Federal em Goiânia. A expectativa é de que ele preste depoimento ainda hoje, mas, por conta de atrasos ocorridos na audiência de terça, existe a possibilidade do contraventor depor somente na quinta-feira.
Defesa desiste de testemunha
Depois que o GLOBO divulgou a estratégia da defesa de Cachoeira, o advogado Ney Moura Teles anunciou na manhã de desta quarta-feira que dispensará o depoimento do deputado estadual Daniel Messac (PSDB) como testemunha de defesa do ex-vereador Wladmir Garcez (PSDB), apontado como braço político do bicheiro.
Teles anunciou a exclusão de Messac da lista detestemunhas menos de duas horas depois de o site do GLOBO informarque o deputado era, até então, o principal trunfo dos advogados para atrasar o processo contra a organização de Cachoeira.Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Goiás, Messac é deputado do grupo político dogovernador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O depoimento de Messac na Justiça Federal de Goiânia estava marcado para hoje.
Relaxamento de prisão
Os advogados de Cachoeira cogitam entrar com um pedido de relaxamento de prisão assim que o contraventor prestar depoimento. Segundo eles, não haveria mais motivos para mantê-lo preso na Papuda. No entanto, eles ressaltam que ainda estudam esta possibilidade.
A procuradora da República Léa Batista de Souza é contrária ao relaxamento:
– A organização criminosa ainda não foi desarticulada.
Réus vão admitir exploração de jogo
Pelo menos dois dos sete réus que serão ouvidos na audiência em curso na Justiça Federal de Goiás deverão admitir a prática de parte das atividades criminosas apontadas na denúncia do Ministério Público Federal (MPF). A estratégia da defesa dos irmãos José Olímpio de Queiroga Neto e Raimundo Washington de Sousa Queiroga é reduzir as acusações à prática de contravenção penal.
A denúncia do MPF, porém, mostra uma ampla participação da dupla no esquema criminoso de Carlinhos Cachoeira.
– Eles são exploradores do jogo, mesmo, não escondem isso. Ou eram exploradores, hoje estão quebrados por causa da operação da polícia – disse o advogado Leonardo Gagno, que defende José Olímpio, Raimundo Washington e o araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá. Segundo o advogado, os Queiroga poderão falar na audiência. Dadá, responsável pelos serviços de espionagem no grupo de Cachoeira, deverá permanecer em silêncio.
Fonte: O Globo