Organização chefiada por Cachoeira ainda está ativa, diz procuradora

Léa Batista

A procuradora da República Léa Batista, que atua na Operação Monte Carlo, afirmou que a organização comandada por Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro pela Polícia Federal, segue atuando. Carlos Augusto de Almeida Ramos foi detido durante a Operação Monte Carlo, que desbaratou uma rede de jogos ilegais em Goiás. Ele é tido como o comandante de uma quadrilha e acusado de corromper agentes públicos para manter o negócio ilegal.

“Todos os acontecimentos recentes demonstram que Carlinhos Cachoeira tem que permanecer preso, porque a organização criminosa não foi desarticulada. Mesmo preso [Cachoeira], a organização criminosa está trabalhando, movimentando, ameaçando, chantageando, mandando recado”, disse a procuradora, ela mesma, vítima de ameaças por e-mail.

Em entrevista ao Fantástico, a procuradora defendeu que Cachoeira seja condenado na Justiça a uma pena superior a 20 anos, por ser considerado o chefe do grupo que explorava uma rede de máquinas caça-níqueis em Goiás. De acordo com a procuradora, além de atuar com jogos ilegais, Cachoeira e os integrantes da organização também realizavam outros crimes.

“Por trás da jogatina, que alguns alegam ser inofensivas, que não é porque destrói famílias […] Por trás da jogatina, existe corrupção, violação de sigilo, lavagem de dinheiro, mortes”, afirma.

A procuradora afirmou que, mesmo preso, Cachoeira tem atuado na organização. “Eu não tenho como falar quem estaria no comando. Eu posso afirmar que a organização está articulada e ainda está trabalhando. E que o Carlinhos Cachoeira, mesmo preso, tem enviado mensageiros”.

Desde que foi preso, Cachoeira se recusa a falar em sua defesa. Ele se calou em maio, quando convocado pela CPI do Congresso aberta para investigar suas relações com políticos e empresários. Em julho, também silenciou numa audiência da Justiça Federal em Goiás. Advogados do caso alega que as investigações da PF são ilegais e que as conversas captadas em interceptações telefônicas foram distorcidas.

Atuação ‘mafiosa’
De acordo com a procurada, a quadrilha comandada por Cachoeira atua há mais de 10 anos na região de Goiás. “A investigação identificou que essa quadrilha atua há mais de uma década. A mais de uma década e graças ao apoio do braço armado do estado”, diz a procuradora, referindo-se a policiais que auxiliavam no esquema do contraventor.

“A organização criminosa chefiada pelo Carlinhos Cachoeira é extremamente ousada, estruturada e vai cooptando. E cooptava agentes de todas as esferas. Da esfera municipal, da esfera estadual, da esfera federal. Então, a forma de atuação da organização para escudar a atividade ilícita de jogos ilegais operava desta forma, corrompendo os agentes estatais, principalmente os agentes da área de segurança pública. É o que a gente chama de braço armado do estado”, afirma.

Na análise da procuradora, o silêncio dos investigados diante dos interrogatórios feitos pela Justiça mostra uma característica de organização mafiosa. “Isso é um código silencioso próprio das organizações criminosas de parâmetro mafioso. Ninguém fala nada até para proteger a organização criminosa”.

Segundo Léa, outro detalhe que reforça a característica de máfia foram as ameaças sofridas pelos responsáveis pela investigação. A própria procuradora foi ameaçada. A Polícia Federal chegou a prender o ex-cunhado de Cachoeira Adriano Aprígio, suspeito de ser o autor de um dos e-mails de intimidação enviados à procuradora.

Recentemente, a mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, foi acusada de tentar chantagear o juiz responsável pelo caso, Alderico Rocha. Ela foi levada à sede da Polícia Federal de Goiânia para prestar depoimento, e teve de pagar fiança de R$ 100 mil para não ser presa. Além da fiança, Andressa foi proibida pela Justiça de visitar Cachoeira. “Tudo isso demonstra uma forma mafiosa de agir, seja através de ameaças, seja através do silêncio orquestrado, seja através da chantagem ao juiz federal, por exemplo”, disse a procuradora.

Segundo a procuradora, todos os atos praticados pelos integrantes da organização são uma forma de defesa a Cachoeira. “É tudo para proteger o chefe e a própria organização. Porque a organização criminosa, ela é muito bem estruturada e ela tem um rendimento. Uma rentabilidade igual ou maior que uma própria empresa”.

De acordo com a procuradora, Carlinhos Cachoeira responde pelos crimes de corrupção, violação de sigilo funciona, quadrilha armada e peculato pela Operação Monte Carlo. Ainda segundo Léa, as investigações seguem sendo feitas, e Cachoeira ainda poderá responder por outros crimes.

Fonte: G1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *