Vale terá em 2014 ano decisivo para plano de investimentos

Brasil 2014

Para a Vale, 2014 não terá nada a ver com bola, gol ou Maracanã. Naquele ano, a mineradora entra em campo para outra Copa: a dos investimentos. Será um ano decisivo, em que terão início efetivo nove dos 23 projetos com data de início até 2016 previstos no atual plano da companhia. Estarão em jogo US$ 24,146 bilhões, ou quase metade (47%) dos quase US$ 52 bilhões em projetos de capital para os próximos quatro anos. Mas a crise financeira e concentração de obras no caldeirão de conflitos que é a África podem pôr em risco essas jogadas.

Há cinco projetos para o primeiro semestre de 2014 (US$ 10,53 bilhões) e quatro projetos (US$ 13,616 bilhões) no segundo semestre. Analistas avaliam, no entanto, que o desenrolar da crise na zona do euro pode afetar esse quadro. O problema está nos reflexos das dificuldades financeiras de empresas e governos europeus na demanda dos países europeus, que compram aço da China, país que tem a maior participação nas vendas da Vale.

Para o economista Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, apesar de a companhia ter capital suficiente para bancar as obras programadas, a crise europeia gera incerteza para os projetos:

— Por mais que a gente ache que a situação está piorando (na Europa), ninguém sabe, de fato, o que vai acontecer. Ainda poderemos ver a desintegração do euro, isso não está completamente descartado. Mas o certo é que, se a situação econômica piorar, todas as empresas do mundo irão rever seus planos de investimento, e a Vale não será exceção.

Mas ele acredita que os projetos no Brasil estarão, de certa forma, blindados contra a crise.

— O governo tem interesse neles, e a Vale sabe que é preciso agradar ao governo — avalia.

Aloisio Villeth Lemos, da corretora Ágora, acredita que, a despeito da crise financeira e da desaceleração da China, a demanda por minério de ferro continuará suficientemente forte para permitir à Vale concretizar os investimentos.

— Se houver alguma alteração ela será um pequeno ajuste. Uma empresa do porte da Vale não elabora uma plano de investimento de uma hora para outra. Tenho certeza que seu plano já contempla essas variáveis. A China pode estar crescendo menos, mas sua siderurgia continua muito forte por causa do acelerado ritmo de urbanização que eleva sua necessidade por minério — avalia Lemos.

Ele acrescenta que cerca de 45% do minério vendido pela companhia no primeiro semestre foi para o país asiático.

— A Índia passa por um processo parecido de urbanização e já pode ter passado de exportador para importador de minério.

Analista vê risco para projetos na África

Ainda este ano, a empresa pretende colocar em operação a mina de ferro de Simandou, na Guiné, e a mina de cobre Konkola North, na Zâmbia. O primeiro projeto está ameaçado. O governo da Guiné, segundo informações da empresa, tem um código de mineração em discussão no Congresso com exigências pesadas — entre elas, a participação majoritária do governo daquele país no projeto de logística associado e a cobrança de royalties de mineração com base nas cotações do aço).

Os três países do continente africano (Guiné, Moçambique e Zâmbia) em que a Vale está presente concentram atualmente US$ 8 bilhões (15,6%) dos US$ 50,9 bilhões de investimentos da mineradora em projetos de capital pelos próximos quatro anos.

A maior parte está em Moçambique, onde a mina de carvão Moatize II e a obra de infraestrutura Corredor Nacala vão consumir (US$ 6,512 bilhões). É mais do que a Vale tem em quatro projetos de minério em Minas Gerais (US$ 5,512) e Espírito Santo (US$ 2,781).

Para Pedro Galdi, há uma probabilidade “muito grande” de que os investimentos no continente africano precisem ser revistos por causa de questões políticas locais.

— A empresa certamente terá problemas na África. É uma região politicamente complicada que pode apresentar, por exemplo, risco para os funcionários da empresa. Os investimentos estão, de fato, previstos, mas tenho dúvidas se eles irão mesmo para frente. Eles não vão rasgar dinheiro por lá — afirma.

Pará concentra quase um terço dos aportes

No Brasil, o grande destaque dos investimentos da Vale é o Pará, onde estão US$ 16,332 bilhões do total. As expansões da operação de minério de ferro em Carajás são o carro-chefe, mas o estado tem ainda o projeto de exploração de cobre Salobo e a usina de biodiesel de óleo palma.

Lá está instalado o projeto mais distante no horizonte de tempo dos atuais investimentos, e também o de maior porte: a mina da Serra Sul de Carajás (S11D), de US$ 8,039 bilhões. A empresa conseguiu recentemente a desatar o nó do licenciamento ambiental do projeto, mas enfrenta agora questionamentos quanto ao projeto de ampliação da Estrada de Ferro de Carajás, que atenderia a essa e outras expansões na região.

Procurada, a Vale não colocou um porta-voz à disposição para comentar o assunto.

Fonte: O Globo

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