Marco Feliciano: o pastor que manda prender na Câmara faz a sobrancelha, as unhas e alisa o cabelo

Pastor Feliciano
Pastor Feliciano

Dedo em riste, o Marco Feliciano que evoca a democracia e manda prender manifestante na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados pouco tem a ver com o homem que, uma vez por semana, entrega-se a um esmerado tratamento de beleza. Pinta as unhas com base, descansa as madeixas na chapinha e tira a sobrancelha. Costuma dizer que, sem a pinça, vira um “monstrinho”. Ex-usuário de drogas, fruto de um aborto mal-sucedido e dono de uma milionária marca de vendas de discos, o deputado do PSC de São Paulo também é um glamouroso e nada enrustido… metrossexual.

O pastor nasceu há 41 anos em Orlândia, a 364 quilômetros de São Paulo. Até hoje, prega por lá. Na infância, a família era tão católica que foi coroinha. Conta que acordava com o sino badalando. Hoje, nos púlpitos Brasil afora, completa dizendo que só mais tarde soube que Orlândia não tinha sino.

— Era um chamado — diz Wellington de Oliveira, diretor de seus DVDs.

Hoje, quando a sirene do Anexo IV da Câmara, onde fica o gabinete do pastor, convoca os parlamentares a votar, Feliciano inicia uma peregrinação para escapar de manifestantes. Irrita-se ao ser chamado de racista.

— Com mãe negra, como posso ser racista? — rebate.

Atrás dele, o onipresente Roberto Figueira Marinho. Não fosse franzino, o baiano de cabelo com gel e óculos arredondado poderia passar por segurança. Cantor gospel, é uma espécie de discípulo. Toca teclado nos shows do pastor e, quando Feliciano dá a deixa, entoam uma canja. Fala do chefe com admiração:

— Posso ficar um dia inteiro só dando testemunhos sobre a força dele como pastor.

Três policiais não saem da porta do gabinete. Lá dentro, a Bíblia, fotos das três filhas e pilhas de cópias do Plano Nacional de Direitos LGBT, editado pelo governo.

 

Pastor e a chapinha
Pastor e a chapinha

Das drogas aos discos

O pastor já contabiliza mais de dez milhões de CDs e DVDs vendidos. São 18 livros publicados. Os dízimos, garante, são para a Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, por ele presidida. A prosperidade é tanta que, explicam seus assessores, Marco não liga para pirataria.

Começou a pregar aos 14 anos, depois de deixar as drogas. Neste período, usou maconha e cocaína. Ao voltar para a igreja, começou a pregar e deslanchou. A experiência é matéria-prima para suas pregações, quando diz converter usuários de drogas e homossexuais. Define o trabalho como “cura da alma”.

Já fez turnê pelos Estados Unidos e possui templos da Catedral do Avivamento em seis cidades. Na política, apoiou José Serra (PSDB) no primeiro turno de 2010, mas depois fez campanha para Dilma Rousseff (PT). No Rio, pediu votos para Sérgio Cabral e o deputado federal Eduardo Cunha, ambos do PMDB. Entre parlamentares evangélicos, é querido.

— Espero que ele possa mostrar que não é nem homofóbico nem racista como supõem — defendeu o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, senador pelo PRB-RJ.

— É injustiça com ele — concordou o colega Washington Reis (PMDB-RJ).

Horror ao aborto

Em sua cruzada contra o direito da mulher em optar pelo aborto, lembra que a mãe, grávida aos 14 anos de um vizinho mais velho, quis abortá-lo por pressão do parceiro. Só nasceu devido a erro na cirurgia. Sem pai presente, foi filho único cercado pelo mimo de tias e do avô. Não se sabe de quem herdou a vaidade.

Feliciano gosta dos sapatos sempre bem lustrados, usa ternos com brilho e, volta e meia, compra roupa de marca. Tampouco é conhecida a origem do lado briguento. Sabe provocar seus adversários. Na Comissão, entregou a relatoria de projetos de direitos humanos polêmicos, como o da profissionalização da prostituição, a aliados conservadores, pondo mais lenha na fogueira. Com a agenda de entrevistas cheia, parece, no fundo, estar adorando a confusão que tem causado.

Na semana passada, no dia em que seu partido confirmou que ele seria mantido na Comissão, o pastor concedeu uma entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Pouco antes de começar a gravar, em frente à chapelaria, o principal acesso ao Congresso, virou para o pupilo Roberto:

— O cabelo tá direito? — perguntou, certo de que, machista, homofóbico ou racista, jamais será acusado de desleixado.

Fonte: Extra

 

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