Greve na educação continua em Belém
No primeiro dia de greve dos professores da rede Municipal de Ensino, membros do Sindicato percorreram escolas na intenção de sensibilizar a comunidade e pais de alunos da importância do movimento. A Escola Municipal Padre Leandro Pinheiro, localizada na Travessa Barão de Igarapé-Mirim, no bairro do Guamá, foi uma das que receberam a comitiva do Sindicato.
Segundo o Sintepp (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará), a expectativa era de adesão de cerca de 80% da categoria na rede municipal. Na Escola Padre Leandro, segundo o Sindicato, apenas dois dos vinte professores trabalhavam. As principais reivindicações dos servidores incluem instituição de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários, pagamento do Piso Salarial da categoria no vencimento-base, melhores condições de trabalho e a instituição de gestões democráticas nas escolas.
Mônica Ewerton, coordenadora da executiva municipal do Sintepp, fala que as demandas da categoria não se restringem a melhores remunerações. “Nenhum de nós, professores, gostaria de estar paralisado e longe das salas de aula. A posição autoritária da Secretaria Municipal de Educação (Semec), infelizmente, não nos deixou outra opção”, afirma.
Um dos pontos mais importantes na pauta dos servidores é a implantação do sistema que permite a escolha democrática de coordenadores e diretores. “A comunidade escolar precisa participar dessas decisões, esses cargos não podem ser ocupados pela imposição da Semec. Por conta dessa falta de diálogo, estão ocorrendo casos de assédio moral e constrangimento, principalmente com servidores concursados em estágio probatório”, denuncia Mônica Ewerton.
O professor de Ensino Básico Adilson Vilhena, que aderiu ao movimento, diz que a paralisação está ocorrendo porque a categoria chegou ao limite. “O processo de construção da greve está ocorrendo desde o primeiro semestre. Nós já fizemos reuniões e assembleias com a Prefeitura e nada foi decidido. Em alguns pontos, nós estamos retrocedendo”, afirma. De acordo com o professor, os alunos da Escola Padre Leandro, muitas vezes, não têm acesso ao básico, como água mineral para beber. “A educação é um direito garantido pela Constituição. Mas ela também precisa ser de qualidade e nós não estamos conseguindo garantir isso nessas situações”, desabafa.
Sônia Brito, 50, tia de Yan Lucas, 10, aluno do terceiro ano da Padre Leandro Pinheiro, diz que está favorável ao movimento dos professores, mas não esconde a preocupação. “Às vezes os alunos já não tem aula quando professores faltam, então essa paralisação por tempo indeterminado preocupa um pouco a gente. Mas eles já explicaram que vão repor as aulas”, conta. Sônia fala que espera que a mobilização do Sindicato traga ganhos reais aos alunos. “Nós temos muitos problemas de infraestrutura. Tem vezes que não tem aula porque não tem luz. Já teve um princípio de incêndio por causa disso. Esse é só um dos problemas. Alguma coisa eles tem que fazer”, completa.
Protesto na PMB
No final da tarde, o comando de greve dos trabalhadores em educação da rede municipal de ensino reuniu-se na escola Benvinda de França Messias, em São Brás. Além de avaliar o primeiro dia de suspensão das atividades, o encontro serviu para encaminhar os próximos passos da categoria que organiza para hoje a realização de um grande ato em frente ao palácio Antônio Lemos, sede do poder municipal, a partir das 9 horas. Amanhã, uma assembleia geral, na sede social do clube do Remo, definirá os rumos da greve da educação em Belém.
Pelos cálculos do Sintepp, a adesão à greve apenas ontem alcançou 80% dos 1800 trabalhadores da rede. As escolas abriram as portas, mas, ainda de acordo com o sindicato, apenas para orientar e sensibilizar pais e estudantes. “Nossa avaliação nesse primeiro dia de greve é positiva, a categoria está unida e comprometida com a busca de seus direitos, mas não estamos felizes. Essa ação é fruto de oito meses de intensa busca de negociações e sucessivas negativas. Não nos restou outra alternativa”, disse Mônica Ewerton que reclamou da postura adotada pela Prefeitura de Belém.
“Está circulando a notícia de que o professor ganhar mais de R$ 3 mil por mês, isso serve para indignar ainda mais a categoria porque sabemos que isso não é verdade. Estamos lutando aqui pelo piso nacional no valor de R$1.567. Há uma confusão entre remuneração e vencimento. A lei é clara, o vencimento base que tem que ter esse valor, a partir dele é que se deve pagar as vantagens e na prática não é isso que vimos acontecer”, argumentou.
Para hoje está confirmado o ato em frente à prefeitura. A ideia é pressionar o prefeito Zenaldo Coutinho para uma negociação direta com a categoria. “Se ele [o prefeito] não vem até a gente. Nós vamos até ele. Vamos protocolar o pedido para uma audiência e na quarta levaremos as novidades para votação geral da assembleia. Por hora, é greve por tempo indeterminado”, informou Mônica.
Fonte: Diário do Pará