Informe RC

PROBLEMAS NA VISTA- I

Artigo de autoria do jornalista José Roberto Guzzo publicado na revista Veja e membro do Conselho Editorial da Abril, relacionado às manifestações de 15 de março. Leia abaixo:

No dia seguinte às maiores manifestações de rua já ocorridas no Brasil contra um governo, a presidente Dilma Rousseff fez um pedido de paz: “Vamos brigar depois”. Foi uma das coisas mais interessantes que disse desde que chegou à Presidência da República, há pouco mais de quatro anos, principalmente se estiver falando a sério. O país precisa resolver hoje um caminhão de problemas – e se não tiver paz é absolutamente garantido que não conseguirá resolver nem um deles. Proposta de cessar-fogo entre as partes, é claro, sempre são mais atraentes para a parte que está debaixo de chumbo grosso, com mais de 60% de reprovação popular, mas e daí? A maioria daquele povo todo que foi para a rua não quer ganhar uma discussão; quer ver melhorias concretas, e logo, naquilo que está ruim. Era de esperar, pelos instintos naturais do atual governo, que a presidente reagisse com ira, rancor e ameaças à inédita condenação que sofreu em praça pública. Preferiu reagir com a razão. Menos mal; muito menos mal.

PROBLEMAS NA VISTA-II

Ficou claro no dia 15 de março que o Brasil é um país onde se vive com liberdade. “Grande coisa”, diz muita gente boa. “Isso é o mínimo.” Mas é coisa grande, sim, e sempre é muito bom cuidado com a palavra “mínimo”, pois ninguém consegue saber na prática quanto é, exatamente, esse mínimo. Vale a pena, por ora, lembrar que o Brasil provou no domingo que não é a Venezuela, atual país-modelo para a esquerda nacional e para as seitas do governo que vivem à procura do fim do mundo. Na Venezuela, os donos do poder não respondem a manifestações com protesto com apelos à paz. Respondem aprovando o uso de armas de fogo real contra quem protesta e jogando opositores na cadeia por quanto tempo lhes der na telha; justo quando a população brasileira ia para as ruas, montaram mais uma trapaça para dar a si próprios poderes ainda maiores do que já têm. Foi dito que o governo brasileiro só aceita as liberdades públicas e o direito à livre expressão porque não consegue fazer diferente. É possível. Mas o que vale na vida real não é o que o governo gostaria. É o que está valendo.

PROBLEMAS NA VISTA- III

A presidente Dilma não quer guerra, mas não sabe o que fazer da paz. Antes das manifestações, o governo vinha sofrendo uma bela combinação de problemas na vista: é míope para as realidades de hoje, vesgo para o que quer fazer amanhã e cego para admitir o mérito em qualquer ponto de vista diferente dos seus. Depois das manifestações, continuou igual. As primeiras medidas que anunciou como resposta foram uma obra-prima na arte de propor mais do mesmo. Há cerca de dois anos, após a soma de protestos e baderna que balançaram o coreto das autoridades, Dilma veio com “cinco pactos” para baixar a tensão. Não levou adiante nenhum, e agora volta oferecendo pinga da mesma barrica. Há, outra vez, esse cansado “pacote anticorrupção”. Mas que diabo o governo estava esperando para combater a ladroagem? Será que só agora começaram a roubar o Erário? Mais infeliz ainda é a “reforma política”, uma piada que não resolve um único dos problemas que já existem e cria mais um, novo em folha, ao propor que o Tesouro Nacional pague as despesas das futuras campanhas eleitorais. (Imagine-se 1 milhão de pessoas na rua gritando: “Financiamento público para candidatos, já!”)

PROBLEMAS NA VISTA-IV

As informações divulgadas sobre o número de pessoas presentes às manifestações comprovam, mais uma vez, a desimportância sem limites de um certo tipo de conta. Dos dois cálculos para o ato de São Paulo, de longe o maior de todo o Brasil, um informava que havia 1 milhão de pessoas presentes, o outro, que havia 200.000. A manifestação da Avenida Paulista teve um só – aquele que todos puderam enxergar com os próprios olhos, sem a necessidade de helicópteros e planilhas de computador para lhes dizer o que estavam vendo. Foi o maior ato público que alguém já viu? Foi. Fica maior ainda se alguém disser que havia 1 milhão de pessoas? Não. Fica menor se disserem que havia 200.000? Também não. Vida que segue, então. De mais a mais, números servem para qualquer coisa. O governo, ao que parece, ficou feliz com os 200.000, cifra que considerava uma alucinação até quinze dias atrás. Mas também poderia achar que 1 milhão de pessoas é um fracasso público; afinal, isso representa apenas 0,5% da população do Brasil. É melhor deixar ao gosto de cada um. Não muda rigorosamente nada.

CLIMA DE TERROR

Num passado recente, apontada na revista Veja, de maior circulação nacional, como um dos melhores lugares para morar no país, cidade limpa, de um povo pacato, pouco roubo e homicídios quase zerados, mas como o tempo passa (4 anos) e o tempo voa, tudo muda, inclusive pessoas. Hoje, Santarém estaria no rol das piores: lixão a céu aberto, muita gatunagem, assaltos, mortes, compradores de veículos e motocicletas roubados e financiados a laranjas em estados vizinhos, traficantes e vendedores de drogas, operando nas 24hs do dia. Nem no interior de suas residências, sentem-se seguros, alguns são surpreendidos e amordaçados com familiares feitos reféns por ladrões com armas em punho e encapuzados, fazem a limpeza e tchau. Entre as dezenas que têm acontecido, vamos citar uma como exemplo, a ocorrida com o médico Erik Simões. Não são presos e nem descobertos pela Polícia, embora, da maioria dos assaltos, os bandidos agem de forma semelhante, como dizem os “Sherlock Holmes” locais: “as ocorrências viram estatísticas”. Falam de “hóspedes” da Penitenciária Hotel do Cucurunã, em regime semiaberto ou não, contribuírem com esse clima de terror que tomou conta da cidade e de comunidades de colônias. A cada mês a situação piora, e não aparece uma luz no fim do túnel.

FRAUDE NA RECEITA: 19 BILHÕES

180 policiais da Polícia Federal e 35 fiscais da Receita Federal, numa operação batizada de “ZELOTES”, por determinação judicial, munidos de 41 mandados de busca e apreensão, cumpridos simultaneamente no Distrito Federal, São Paulo e no Ceará, desarticulou uma organização criminosa que atuava na Receita Federal junto ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão que julga recursos administrativos das autuações movidas pelo Fisco, acusados de fraudarem 19 bilhões de reais em conluio com funcionários e escritórios de advocacias nas três unidades da Federação. A organização tinha como objetivo manipular o trâmite dos processos, resultados dos julgamentos, corromper membros do Conselho, para anular, diminuir as multas aplicadas e desaparecimento de processos, e tinham como participante um conselheiro e um ex-presidente. Os investigados pela Justiça e Polícia Federal, no maior esquema criminoso em atuação no país, é superior ao do bando que assaltou os cofres da Petrobrás (até agora em torno de 10 bilhões). Vão responder por vários crimes e podem ser condenados a penas que atingem 50 anos de prisão. Só que todos estão em liberdade vendo a banda passar.

NÃO SÃO VISTOS E NEM LEMBRADOS

Em ação coordenada por líderes do governo, no Congresso, a presidente Dilma, junto com o ex, Lula da Silva, consegue pela 14ª vez colocar de lado a classe mais castigada, que no passado ajudou a construir o Brasil, a dos aposentados e pensionistas da Previdência Social, que percebem acima de um salário (10 milhões de famílias), 70% mantenedores dos lares. Muitos hoje reduzidos a 4 e 5 salários. Quando na Previdência não havia politicalha e nem fator previdenciário, chegaram a receber 20 salários mínimos/mês. A Câmara Federal aprovou mês passado Medida Provisória editada pela companheira Dilma, que estende a política de correção do salário mínimo de 2016 a 2019 aos aposentados. A proposta de aumento real aos que ganhavam mais que um mínimo foi retirada da pauta de votação, sem esperança de retornar. Pobre Sofre.

ESPERANDO DEITADO

Comum, vice-prefeitos tentarem derrubar o titular para assumirem o lugar e darem vazão à intenção, nem sempre com sucesso. Na abertura dos trabalhos legislativos da Câmara Municipal de Óbidos, o prefeito foi surpreendido com o rompimento público do seu vice, funcionário público federal do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) pelo qual fez opção de salário, que na presença dos convidados à solenidade expôs aos vereadores um rosário de irregularidades, nenhuma consistente, sem apresentar documentos como prova. Correndo atrás de seu objetivo, o vice esteve em Santarém “bem” acompanhado por um de seus assessores locais de reputação duvidosa, envolvido em invasões de terras, foi a jornais, rádios e no Ministério Público Estadual, onde dedurou o prefeito, e teria recebido a promessa de suas estórias irem ser apuradas por um Promotor a ser designado. Deve aguardar deitado, em pé cansa. Tem gente que pensa da Justiça não ter o que fazer.

MAIORIDADE PENAL

Nos últimos 10 anos, maioria dos assaltos e sequestros seguidos de morte, causando comoção pública nacional, teve a participação de menores de 15 a 17 anos, com vasta folha corrida na Polícia. 93% da população são favoráveis à redução da maioridade penal. Se com 16 anos, já votam, de vereador a presidente da República, por que, por vontade de uma minoria silenciosa e escondida, são impedidos de responderem pelos crimes praticados contra a sociedade? No Congresso Nacional, acima de 10 propostas de emenda constitucional (PEC) dormitam nas comissões internas da Casa, algumas de iniciativa popular com milhões de assinaturas. O presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB) justifica o sono tão longo à interferência que havia do governo e de parlamentares do PT e de outras siglas, como PSOL e PPS, na confecção da pauta das matérias a serem apreciadas e que, ainda este mês, uma vai acordar e ser aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal e ser colocada de imediato na pauta para ser votada, reduzindo a idade penal de 18 para 16 anos. Que assim seja, amém. Milhões de famílias que choram seus mortos vão sorrir.

AQUI É BEM DIFERENTE

Sem contar com o momento difícil que passa o Brasil, com a política e economia em frangalhos, com uma equipe tentando levantar a conta-gotas os estragos cometidos em 12 anos, com medidas de reajustes fiscais sofrendo oposição de sua base aliada no Congresso para serem aprovadas, a companheira Dilma, nas manifestações populares de situação e oposição realizadas mês passado, quando milhares de brasileiros saíram às ruas, tomou conhecimento de todas as deficiências de seu governo, expostas em faixas, tabuletas e cartazes, onde a maior ênfase foi dada à corrupção que campeia no país, se tornando banalidade. Na Ucrânia, país próximo a 45 milhões de habitantes, fronteira com a Rússia, na 2ª quinzena de março, durante reunião ministerial, a Polícia adentrou no recinto, prendeu e algemou dois ministros envolvidos em corrupção, passíveis de condenação à prisão perpétua. Aqui, casos de corrupção no Governo Federal, as coisas funcionam bem diferentes às da Ucrânia. Nunca um ministro de estado enfrentou uma situação de constrangimento, no máximo são exonerados, “alguns a pedido” e ficam respondendo o processo por roubo em liberdade, e dependendo do pedigree financeiro e político do réu pode demorar muitos anos, quando não acabam arquivados.

O DINHEIRO ESTÁ FAZENDO FALTA

O ex-prefeito de Alenquer, João Evangelista Damasceno, o popular João Piloto, confessa no reservado, não sentir arrependimento de haver se enganado e dado de presente a Alenquer, nas municipais de 2012, o pior prefeito de sua história, o atual Flávio Marreiro, e sim de haver emprestado ao mesmo, vultosa importância, sem comprovação, apenas na confiança, no período das eleições, sem que o mesmo até hoje tenha feito a devolução. Como estão de mau, não cobra. Semana passada, a Justiça Federal em Santarém, através do Juiz Érico Pinheiro, declinou competência e determinou o envio dos autos de uma ação (improbidade administrativa) ajuizada por Flávio Marreiro contra João Piloto, para o Juízo da Comarca de Alenquer, que deve agir depois de ler o processo.

ATOS E FATOS

AS COISAS MUDAM- Opinião do ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento dos governos militares e ex-deputado federal por São Paulo por 20 anos, Delfim Neto, acerca do atual momento político nacional: quando a primavera chegar, em setembro, se eu os conheço, veremos empresários e trabalhadores pedindo para trocar o programa e os ministros. PEDIU E LEVOU- Comentam em Brasília e ser do conhecimento da Operação Lava Jato, que o senador Edison Lobão “PMDB-MA”, quando ministro das Minas e Energia em 2011, pediu e recebeu uma propina de 20 milhões de reais da empresa Camargo Correa, quando foi contratada para participação da conclusão da Usina de Belo Monte. LULA É O CULPADO- Do ex-presidente Fernando Henrique em relação aos acusados do escândalo do Petrolão: se alguém tem mais responsabilidade política por isso, é ele (Lula), não ela (Dilma) que pegou o bonde andando. NÃO CURA O DOENTE- De Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, o ajuste fiscal do governo é insuficiente para estancar a dívida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *