Informe RC

A CASA E A PÁTRIA- I

Artigo de Lya Luft, escritora, tradutora, professora aposentada da Universidade do Rio Grande do Sul e colunista da revista Veja.

A casa onde nasci e passei infância e juventude era sem grandes luxos, mas espaçosa e amorosa. Uma casa pode ser amorosa, se o clima entre seus moradores é assim (incluindo naturais crises e desentendimentos). Havia um jardim, um amplo gramado com um pequeno lago, uma churrasqueira, um pomar, e muitas delícias. Era uma cidadezinha do interior, onde ter uma casa assim não era extravagante: nem imaginávamos quanto custaria o metro quadrado, coisa que até então ninguém pensava. Saí dessa que é hoje uma bela cidade universitária para fazer faculdade na capital. Até hoje, em memórias e sonhos, é nessa casa que muita coisa acontece. Desde cedo entendi que a nossa casa e a cidadezinha ficavam num país chamado Brasil, e me orgulhava dele. Havia desfiles da Semana da Pátria das escolas pela rua principal, uniformes engomados, peito estufado. Lembro de meu desejo de ser porta-bandeira, e da minha tristeza porque nunca me convocaram. Pelos óculos da memória, tudo parece simples, inocente, e bom. Era reconfortante morar naquela casa, naquela cidade, naquele Brasil. E, por mais países que eu hoje conheça, não moraria em nenhum a não ser neste, de momento tão maltratado.

A CASA E A PÁTRIA- II

Não vou me dedicar a devaneios nostálgicos, mas comparar uma casa que seja o nosso lar a um país que seja a nossa pátria: ambos devem nos dar o chão da vida, nos proporcionar oportunidade de viver, atuar e crescer, enquanto nós podemos colaborar sendo afetuosos, gentis e companheiros na casa, decentes e produtivos na pátria. Isso é ser uma família, isso é ser um povo. Como sempre, falar e escrever é fácil, e muita coisa só acontece a duras penas e com grandes frustrações. Tenho escrito aqui sobre o que de momento nos abala, mas ainda me sobram dúvidas e palavras: má gestão, omissão ou cumplicidade diante de erros e crimes, roubar do povo direitos e bens dando em troca desculpas e inverdades, e toda uma infraestrutura concreta e moral que está se esfacelando. Pois com a confiança vem o sentimento de pertença, ou, para usar uma expressão nova, de estar na nossa zona de conforto. Há algum tempo este país não é zona de conforto de ninguém que observe e reflita. Ninguém que sinta no bolso e nas atividades cotidianas as limitações em qualidade de vida e de trabalho pode estar contente: só a mais radical ideologia, desinformação ou credulidade inocente ainda podem cegar alguns.

A CASA E A PÁTRIA- III

Vivemos momentos de indignação, medo, desafios e eventuais fases de calmaria e perplexidade, como nestes dias em que escrevo, presos que estamos num círculo de incertezas: quem afinal nos governa? Quem cuida de nós, significando não favores, mas oportunidades de trabalho, progresso, amparo na saúde, horizontes e excelência na educação, transportes eficientes, enfim, tudo o que dá ao povo a certeza de estar num país que é a sua pátria, o seu lar expandido? Entre tantos problemas, menciono aqui um breve exemplo que me interessa particularmente: a luta de alunos com o Fies, que deveria custear, com dinheiro dos nossos impostos, bolsas para os que precisam, a imensa maioria, uma vez que aqui o ensino particular é extremamente dispendioso. Mas para milhares foi impossível inscrever-se ou reinscrever-se: o site não funcionava, apresentava mais exigências, e, enquanto escrevo esta coluna, o governo avisa: foi suspensa a inscrição, faltou dinheiro. O corte na educação foi fundo e triste. Muitos alunos pagaram meses de faculdade com empréstimos pessoais. Quem vai atender a suas aflições? Quem dará a eles e a todos, desde crianças, em lugar desta terra madrasta, uma pátria educadora, que prepare um povo bem informado para tomar as melhores decisões em sua vida pessoal, profissional e política? Política é mais do que as trapalhadas ou crimes, alguns gravíssimos, que hoje presenciamos boquiabertos: política são as escolhas que cada um faz para a pátria que deseja, sobre fundamentos como escola, saúde, moradia, infraestrutura, trabalho, confiança, dignidade – para todos.

CANDIDATOS DA SÉRIE D, DO BRASILEIRÃO I

Recente, o advogado Osmando Figueiredo, que se autoproclama o maior coordenador político do norte do Brasil (mas com dinheiro nas mãos quem não é?), indiretamente foi candidato a vice-prefeito em 2012, indicando o filho vereador à época, Bruno Figueiredo, como parceiro da prof. Lucineide Pinheiro, candidata à prefeita pelo PT, perdendo para o atual, Alexandre Von (PSDB), por quase 30 mil votos de diferença, anunciou sua saída do PDT e o ingresso numa legenda nanica, a qual pretende comandar no estado, deixando claro de, nas eleições de 2016, apoiar Paulo Barrudada, ainda sem partido definido, como postulante a prefeito. Semana passada (16), o ainda desconhecido PTdoB, comandado pelo “ex concorrente a quase tudo”, menos a presidente e governador, aeroviário Joaquim Hamad, um dos fundadores e ex-presidente do Aeroclube de Santarém, que em mais de 20 anos de existência, se ainda existe, nunca ensinou ninguém a pilotar, realizou seu Encontro Regional num local luxuoso, o Hotel Barrudada.

CANDIDATOS DA SÉRIE D, DO BRASILEIRÃO II

Não precisa fazer previsão, Hamad vai dispensar sair candidato para descarregar sua pesada votação de milhares de votos no dono da casa de hospedagem, podendo decidir as eleições entre os candidatos da Série D. Jogo pesado, político, pra valer, vai ser o da Série A, a partir do ano que vem, quando entram em campo: Alexandre Von, Maria do Carmo, Nélio Aguiar, Ney Santana, Lira Maia, Reginaldo Campos, Henderson Pinto, Márcio Pinto, Antônio Rocha, José Maria Tapajós e uns quatro ou cinco vereadores. Por enquanto, ser prefeito é sonho de principiantes, alguns sem futuro a não ser mero coadjuvante, se não desistir. Candidato a prefeito num município como Santarém não pode ser sonho e nem brincadeira, é como disputar um Campeonato Brasileiro da Série A. Têm votos, o jogador é aproveitado no próximo campeonato, podendo mudar de série. Não tendo, é dispensado.

ENTRE A VERDADE E A MENTIRA- I

O ex-presidente Lula da Silva (PT) sempre negou, nos 8 anos de seu governo (2003-2010), a existência do Mensalão, que levou vários companheiros, aliados e a cúpula do partido, à época, como réus (25) na Ação Penal 470 e condenados a cumprirem pena de prisão, distribuídos por várias Penitenciárias, sendo a mais requisitada a da Papuda, em Brasília. Quando perguntado, reagia: “não sei, não vi e nem ouvi falar”. Pessoas esclarecidas, inclusive do PT, que acompanhavam o desenrolar final do caso, com julgamentos dos envolvidos na gatunagem pelo Supremo, não acreditavam na inocência do Lula, já que o comando principal do esquema criminoso, que desviava recursos do Governo Federal para comprar apoio de partidos e parlamentares, funcionava no Palácio do Planalto, em sala próxima a sua, e tinha, como mentor, o ex-ministro da Casa Civil, deputado federal José Dirceu, cassado, apanhou de bengala e posteriormente preso. Agora, inesperadamente, a verdade veio à tona.

ENTRE A VERDADE E A MENTIRA- II

Recente, há duas semanas, o ex-presidente e atual senador uruguaio, José Mujica, conhecido como Pepe, lançou um livro “Una Oveja Negra ao Poder”, onde, num capítulo, o ex-guerrilheiro da Organização Tupamaros, velho amigo de Luís Lula da Silva, declara que em 2010, quando esteve no Brasil com seu vice-presidente, ambos ouviram de Lula a confissão que sabia da existência do Mensalão e que foi o único meio que encontrou para governar o Brasil. Na sua narrativa, prosseguem os jornalistas, autores do livro de memória de José Mujica: “Lula não é um corrupto como o Collor de Melo e outros ex-presidente brasileiros, e que, ao falar do caso, Lula contou que viveu muitos episódios com angústia e um pouco de culpa”. De acordo com o escrito, teria dito ao colega uruguaio: “neste mundo, tive de lidar com coisas imorais como chantagens, mas esta foi a única forma de governar o Brasil”. Lula confessou ao companheiro uruguaio o que, com juras, negava aos brasileiros. A verdade demora, mas sempre aparece, desbancando a mentira. Mesmo assim, Lula diz que Mujica não entendeu sua explanação, mas os biógrafos confessam que escreveram tudo o que foi dito e gravado.

PARLAMENTO BICHADO

Não deve haver coisa mais desmoralizante para um país do que possuir um Parlamento bichado, com alguns de seus membros suspeitos quase verdadeiros da pratica da corrupção, com uma vantagem condenada pela opinião publica esclarecida que lê diariamente jornais e assiste aos noticiários de TV, não se afastam do cargo, como em outros países, para apurarem as acusações e continuam frequentando as sessões plenárias, comissões internas, votando matérias de interesse do governo, quando moralmente deviam se abster. Ainda dispõem de uma regalia assegurada pela Constituição: gozam de foro privilegiado. As ações onde são réus correm em segredo de Justiça e são apreciadas pelo Supremo Tribunal Federal, a quem cabe julgar sem determinação de prazo. Muitas, com o passar do tempo prescrevem, uma espécie indireta de absolvição, fruto do descaso de quem tem a obrigação de julgar. Na quarta, 13, a Polícia Federal pediu ao Supremo, autorização para quebrar                os sigilos bancários e fiscais do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, e do senador Fernando Collor, velhos conhecidos do Código Penal, dentro da Operação Lava Jato. Ambos são alvos de inquéritos que tramitam na Casa de Leis, e a Procuradoria Geral da República já se manifestou favorável, só falta o Supremo quanto à quebra do sigilo. Ladrão de galinha quando pego, de imediato é colocado no xadrez. Com figuras importantes é diferente, metem a mão, não devolvem e nem são presos, ficam em liberdade, que pode ser eterna, dependendo do pedigree.

HUMILHAÇÃO

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, depois de longas horas de sabatina, por maioria, aprovou semana passada o nome do jurista paranaense, Luis Fanchin, indicado pela presidente para assumir a cadeira deixada por Joaquim Barbosa, ainda dependendo de aprovação do plenário do Senado, depois de ter passado por uma das mais demoradas arguições da história da Casa (12 horas), embora, por antecedência, os senadores soubessem do advogado preencher as exigências para exercer a função, como: ser idôneo e possuir saber jurídico, mas o indicado também possui no currículo um montão de ideias tortas e radicais, o que deixa distante, para muitos, de ocupar a função e julgar com isenção. Mas as pessoas, com o tempo mudam, a não ser que sejam radicais. Nesta terça, o Senado colocou em pauta a indicação, sendo aprovada, mas deixou um alerta: as maiores culturas jurídicas da nação e a presidência da OAB nacional deviam estudar uma maneira de impedir candidatos a uma vaga de ministro em tribunais superiores, que dependam de aprovação legislativa, passar pedindo votos por gabinetes de pessoas comprometidas com o Código Penal e que têm ações para serem julgadas, o que não deixa de ser humilhante.

CIDADÃO DO MUNDO

Enquanto no Brasil o ex-presidente Lula da Silva se vê as voltas com acusações de ter participado ativamente do Mensalão e do Petrolão, organizações criminosas que surrupiaram bilhões de reais de órgãos públicos para manter o sonho de poder do PT, nos Estados Unidos, na terça, 12, no auditório do Hotel Waldorf Astoria, na cidade de Nova York, o ex-professor das maiores universidades do mundo, ex-presidente do Brasil e sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, maior estadista vivo do país, diante de empresários e banqueiros (1200 pessoas) financeiramente poderosos, recebia das mãos do ex-presidente americano Bill Clinton, o título de Pessoa do Ano de 2015. Agradeceu, se expressando em inglês, e de Bill Clinton, de quem é amigo pessoal, ouviu: – poder é difícil de obter e é difícil de exercer. O que define parceria é dividir sonhos, projetos. Fernando Henrique foi para mim esse parceiro-. Ambos foram aplaudidos de pé. Uma honra para o Brasil.

ATOS E FATOS

ESCONDIDA- A presidente Dilma, comemorou no Rio de Janeiro os 70 anos do término da 2ª Guerra Mundial, quando países aliados derrotaram a Alemanha Nazista, com condecorações e discursos a brasileiros que participaram. A solenidade foi em ambiente fechado para evitar vaias. DEMITIU PELA TV – Com popularidade em baixa no seu 2º mandato, a presidente chilena, Michelle Bachelet, anunciou pela televisão a demissão de todo seu ministério (22) de uma só vez. A companheira Dilma, em situação pior, devia fazer o mesmo: reduzir pela metade os seus 38, muitos dos quais não sabe nem o nome. INDECISÃO – Do humorista Marcelo Madureira: o pior é que o PT reforça a vitória do atraso. Que sociedade é essa que você quer construir em que o sonho das pessoas se limita a, se for da classe média passar em um concurso público, se for pobre arranjar Bolsa Família e se for rico conseguir uma Bolsa BNDES? Todo mundo passa a ser parasita do Estado. REINANDO – a companheira Dilma continua reinando com 38 ministérios e dezenas de milhares de cargos de confiança. O ministro da Fazenda está ficando surdo de advertir. Sem cortes nas despesas a inflação e desemprego aumentam, não haverá crescimento econômico e o Brasil vai continuar no buraco.

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