Ivan Sadeck: “Pastores agiram com arrogância e prepotência”

A tentativa do Conselho de Pastores em barrar a realização do Carnaval 2017 na Avenida Anísio Chaves e na Praça de Eventos não foi vista com bons olhos pela comunidade santarena. Até mesmo entre o público evangélico, o que se comenta é que há um grupo que está tentando forçar a barra, perante perda de espaço com o final do governo Alexandre Von.

Críticas à parte, nossa equipe de reportagem entrevistou o educador e ex-vereador Ivan Sadeck, que esclarece alguns pontos relacionados ao tema, principalmente quanto ao que prevê a legislação, onde a Constituição Federal determina que o interesse público deva prevalecer sobre o privado, e não vice-versa. Acompanhe:

Jornal O Impacto: Qual a sua opinião sobre a reivindicação dos pastores evangélicos para a não utilização da Praça de Eventos no Carnaval 2017?

Prof. Ivan Sadeck: É um assunto bastante polêmico. Eu fico a me perguntar, seriam todos os pastores evangélicos que estão realmente dificultando e travando a realização do evento neste logradouro público ou é um grupo apenas de pastores, com seus interesses, que está querendo se apropriar de um logradouro público e transformá-lo em um espaço para si, para suas atividades? Diante disse, acho que é necessário que as pessoas compreendam que todo logradouro público é oriundo de investimentos públicos, recursos federais do Ministério do Turismo, portanto, não foi esta ou aquela associação, esta ou aquela entidade religiosa que aplicou os recursos para construir, dentro daquele espaço, algo que viesse a atender os seus interesses, promoções ou atividades. Desse modo, eu penso que é incabível tal manifestação de querer impedir que alí se realize um das atividades que é uma das mais importantes e populares do Brasil, que é o Carnaval. Esse País vive do Carnaval, futebol e samba. O Carnaval é uma manifestação popular e é preciso que se respeite isso!

O Impacto: O Vereador Reginaldo Campos esteve em frente à luta para a construção da Praça de Eventos e ele é membro da Igreja da Paz, o senhor crê que por esse vínculo os pastores evangélicos se sintam donos daquele logradouro?

Prof. Ivan Sadeck: Talvez passe pela cabeça do Vereador e de alguns pastores ligados a ele esse pensamento, mas o vereador Reginaldo Campos – que em outro momento não permitiu a entrada dos professores na Câmara numa atitude arbitrária, esdrúxula, imoral, recusando receber os professores naquela Casa – deveria saber, ainda mais ele que foi recentemente presidente do Poder Legislativo, que todo e qualquer projeto que se apresenta na Casa do Povo deve visar interesse popular e não para esse ou aquele público. Eles devem vir para o benefício da população e não de um pequeno grupo. Então, ele já começa errado nesse ponto. Ele não leva em conta e não respeita aquilo que diz a Legislação. Ele como legislador deveria saber que todo logradouro público é de utilidade pública, não é privado, se assim o quiser, pegue o dinheiro, invista e chame para si a propriedade. Logradouro público é para ser usado para os interesses da comunidade.

Jornal O Impacto: A maioria dos vereadores de Santarém foi a favor da utilização da Praça de Eventos para o carnaval 2017 e apoiou o prefeito Nélio Aguiar para que ele se mantivesse firme em relação a essa decisão. O senhor acredita que esse apoio foi uma decisão acertada?

Prof. Ivan Sadeck: São os vereadores que compreenderam a necessidade de apoiar o Prefeito, pela causa que ele defende, que é a causa pública. Ao manifestarem a aprovação, voto favorável, eles estavam sendo fiéis àquilo para o qual foram eleitos. Eu parabenizo esse grupo de vereadores, que reconhecidamente entenderam que aquele espaço é público, então, deve estar a atender os interesses da população. E eles certamente no exercício de seus mandatos, sensatos, prudentes, e inteligentes, resolveram aprovar. Parabenizo pela atitude.

Jornal O Impacto: Independentemente da religião, qual a mensagem que o senhor tira disso, para os católicos e evangélicos que estão lendo esta matéria?

Prof. Ivan Sadeck: Eu respeito muito a religião, porque a religião não é para ser discutida, nem debatida e nem polemizada. Religião é para ser vivida. A religião é caminho que te proporciona princípios e valores, que possam nos dar condições de vivermos dignamente, decentemente, honradamente como filho e filha muito amados de Deus. Sem essa de estar brigando por ser desta ou daquela religião. E outra coisa, eu não consigo compreender, como é que você quer nomear uma praça, de Praça da Bíblia. A Bíblia não precisa de praça. A Praça da Bíblia deve ser o coração de toda mulher e de todo homem que acolhe a palavra, que escuta, medita e põem em prática. Penso eu, que este é o melhor sentido que você tenha para colocar em prática a vivência da palavra de Deus. Não basta nomear a Praça da Bíblia aqui, Praça da Bíblia ali, se eu não vejo sentido, para mim isso é demagogia. Espero que a tomada de decisão pelo prefeito Nélio Aguiar, que foi na minha opinião, correta, prevaleça. Até mesmo porque você tem outra questão que chama-se Colosso do Tapajós, que já teve um problema no ano passado. Que também os pastores, com sua sensatez, sua sabedoria, entendam, que os espaços públicos, são para serem utilizados para atividades e manifestações culturais, religiosas e esportivas, recebendo cada um com sua funcionalidade. Então, não atropelem. Eu acho que a religião tem muito mais sentido você vivenciar, por em prática, manifestar sua fé, nesse Deus que você acredita, e não ficar criando essas coisas polêmicas, desnecessária. Acredito que o povo também precise de um lazer, e um lazer sadio, quer no esporte, quer no carnaval, quer nas manifestações culturais. Há dois ou três anos, se não me engano, o Cristoval não enfrenta essas questões, porque não é feito no Colosso do Tapajós, eles fazem no espaço do Parque da Cidade. Acho que falta às pessoas ter sensibilidade. Mas eu vejo que por trás destas questões está muito, um pouco de arrogância, de prepotência, para mostrar que eu posso, que eu sei, que eu tenho, e que eu faço. E a religião não permite isso. Jesus não foi arrogante, nem prepotente, ele foi humilde e simples, sabia do seu compromisso com o projeto do Pai. Por isso, quando Ele ensinava, ensinava como alguém que tinha autoridade, e não como quem tem autoritarismo.

Por: Edmundo Baía Júnior

Fonte: RG 15/O Impacto

 

 

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