Caixa dois sempre foi ‘modelo reinante’ no país, diz Emilio Odebrecht

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Emílio Odebrecht afirmou que pagamentos não-contabilizados sempre fizeram parte do “modelo reinante” no Brasil. Emílio afirmou saber que existia o uso, por Marcelo Odebrecht, do que a defesa do empreiteiro chamou de “recursos não-contabilizados”, que pode incluir o pagamento de caixa dois em campanhas eleitorais. O juiz Sérgio Moro decretou o sigilo dos depoimentos mas os vídeos vazaram em razão de uma falha técnica no sistema de consulta processual da Justiça Federal do Paraná. Em certidão anexada aos autos, a Secretaria da 13ª Vara Federal de Curitiba afirmou que os vídeos permaneceram sem sigilo entre 13h09min59s até 13h11min05s – cerca de dois minutos.

— Sim, sabia que existia uso de recursos não contabilizados. Sempre foi modelo reinante no país e que veio até recentemente. O que houve impedimento a partir de 2014. Até então, sempre existiu. Desde minha época, da época do meu pai e também de Marcelo, sem dúvida nenhuma — afirmou.

No depoimento, Emílio Odebrecht disse atuar na empreiteira desde 1990 até chegar à presidência-executiva. Ele deixou o comando diário da empresa em 2002. A partir de então, permaneceu apenas como presidente do Conselho de Administração.

Em relação ao pagamento de caixa dois, o presidente da Odebrecht novamente reafirmou acreditar que a prática sempre existiu.

— Eu desconfio seriamente que sempre houve, porque na minha época existia doação de campanha oficial e não-oficial de recursos não-contabilizados. Não vejo por que isso não continuou mesmo quando eu não estava na liderança.

Segundo Emílio, na sua época, o funcionamento do sistema de pagamento de valores eram muito mais simples, uma vez que a empresa atuava, basicamente, em dois negócios, de engenharia e petroquímica. Emílio Odebrecht afirmou que não saberia dizer se Marcelo Odebrecht era o responsável pela estruturação do esquema de utilização de empresas offshore.

— Não saberia dizer em hipótese nenhuma. Na minha época, as coisas eram muito mais simples. Não tinha a complexidade que a organização passou a ter a partir de determinado período. Não saberia dizer se ele teve algum envolvimento, se liderou aquilo que chamam erradamente como departamento de propina — afirmou.

“EXISTEM MUITOS APELIDOS NA ORGANIZAÇÃO”

Emílio Odebrecht disse que não sabe dizer se o “italiano” citado nas planilhas da empresa é o ex-ministro Antonio Palocci. Afirmou que existiam várias pessoas dentro da empresa, “companheiros internos”, que muitas vezes ele chamava de “italiano”.

— Existem muitos apelidos na organização, eu seria leviano, irresponsável. Ele (italiano) pode ser também nosso Palocci. (…) Não sei dizer se efetivamente era o doutor Palocci, mas com certeza ele também era identificado como “italiano” — disse.

Emílio disse que com certeza os executivos da empresa dialogavam com o governo em busca de soluções para os problemas do país e levavam questões de interesse da empresa.

— Seria irreal um empresário ter encontro como autoridade e não levar os problemas que ele tem como empresário – afirmou, acrescentando, porém, que não saberia dizer se os executivos levavam soluções prontas.

O empresário disse que sabia que existia valores destinados pela Odebrecht ao PT, mas que não saberia dizer valores, e que estava afastado do comando da empresa desde o início dos anos 2000.

Perguntado pelo juiz Sérgio Moro se tinha ou não conhecimento se Palocci ou o PT receberam pagamentos do departamento de operações estruturadas da empresa, afirmou.

— Teve contribuição, não tenho dúvida. Pode ser que ele foi um dos operadores, um dos que receberam, mas o detalhe disso eu não saberia. Existia a regra: ou não contribuía para ninguém ou contribuiria para todos, mas valor e forma, não tenho esse domínio.

Emílio Odebrecht disse que não existia um departamento de propina, mas um “responsável por operacionalizar recursos não contabilizados”.

— Não existiu nada disso formalizado, existiu um responsável por operacionalizar recursos não contabilizados – afirmou.

Fonte: O Globo

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