Áudio: Marcelo Odebrecht diz a Moro que conta ‘Amigo’, referente a Lula, começou com R$ 40 milhões

Empresário afirmou que acerto foi feito com Palocci e que ex-presidente nunca pediu nada diretamente

O empresário Marcelo Odebrecht afirmou que a subconta “Amigo”, que contabilizava os recursos que seriam usados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criada em 2010 com um saldo de R$ 40 milhões. Segundo ele, o acerto foi feito com Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, que era o contato do PT com o Grupo Odebrecht desde gestões anteriores, de Emílio Odebrecht e de Pedro Novis, que antecederam Marcelo no comando.

Delação Aúdio Marcelo Odebrecht

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Marcelo contou que em meados de 2010, no fim do governo Lula, sabia que ia entrar a presidente Dilma Roussef e que o saldo da conta passaria “a ser gerido por ela, a pedido dela”. Assim, separou uma soma que seria destinada exclusivamente ao ex-presidente. Inicialmente, ele fala em R$ 35 milhões como saldo inicial da conta “amigo”, depois fala em R$ 40 milhões:

— Tinha um saldo de uns R$ 40 milhões, aí o que eu combinei com o Palocci, essa era uma relação minha com a presidência do PT no Brasil. Vai mudar o governo, vai entrar a Dilma, esse saldo passa a ser gerido por ela, a pedido dela. A gente sabia que ia ter demanda de Lula, na questão do Instituto, para outras coisas. Vamos pegar e provisionar uma parte deste saldo, botamos R$ 35 milhões no saldo Amigo, para uso que fosse de orientação de Lula. A gente entendia que Lula ainda ia ter influência no PT, como era uma relação nossa com presidência, PT, tudo se misturava. A gente botou R$ 40 milhões que viriam para atender demandas que viesse de Lula. Eu sei disso. O Lula nunca pediu diretamente, eu combinei via Palocci — afirmou o empresário.

Marcelo disse que Lula nunca pediu diretamente e que tudo foi combinado com Palocci, mas ao longo dos usos do dinheiro ficou claro que era realmente para o Lula.

— O Lula nunca pediu diretamente, combinei via Palocci. Ao longo de alguns usos ficou claro que era para o Lula, alguns saiam em dinheiro e ele pedia para descontar do saldo “Amigo” — disse Marcelo, em depoimento ao juiz Sérgio Moro na última segunda-feira, tornado público na manhã desta quarta, depois que o STF abriu o sigilo das delações do Grupo Odebrecht. Moro determinou o fim do sigilo no início da manhã.

Marcelo disse que as únicas comprovações que ele tem de uso do dinheiro por Lula foi a compra de um imóvel que seria destinado ao Instituto Lula, cujo contato teria sido feito ou via (Paulo) Okamotto ou José Carlos Bumlai. Como o Instituto Lula acabou não ficando com o prédio, o valor voltou, segundo Marcelo, a ser creditado na subconta amigo. Além disso, outra parte dos recursos foi doada por meio do Instituto Lula.

— Quando ele (Palocci) pedia para Brani (Branislav Kontic, assessor de Palocci) pegar dinheiro em espécie saia do saldo ‘Amigo’ ou ‘Italiano’ – disse o empresário.

Marcelo afirmou que a conta do PT na construtora foi iniciada em 2008, para abastecer as campanhas municipais, a partir de um pedido de Antonio Palocci.

Segundo o empresário, ele se comprometeu a dar dinheiro para a campanha presidencial de 2010, que era seu principal compromisso, mas que o valor poderia ser sacado antecipadamente pelo partido.

Todo o recurso, segundo ele, foi controlado por Palocci até 2010. Marcelo disse que em 2011 ele passou, a tratar com Guido Mantega, a pedido do próprio Guido, que passou a ser o “Pós-Itália”.

O nome planilha especial “Italiano” foi criado por Hilberto Silva, segundo o empresário, a partir de um pedido para que fosse feita uma contabilidade dos recursos a ser acompanhada.

DINHEIRO PARA O INSTITUTO LULA

Marcelo Odebrecht confirmou que houve pedido de dinheiro para a compra de um terreno para uma nova sede do Instituto Lula. Segundo ele, o pedido partiu de Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, ou do pecuarista José Carlos Bumlai. Segundo ele, foi comprado um imóvel, mas que acabou não sendo usado pelo instituto e o valor correspondente, de R$ 12,4 milhões, foi creditado novamente na conta de propina do PT.

– Foi em meados de 2010, o Okamotto ou o Bumlai, um dos dois, acabei falando depois com os dois. Teixeira (o advogado Roberto Teixeira) tinha fechado um terreno e queriam que a gente comprasse e doasse – contou.

O empresário afirmou ter avisado que precisava de autorização do Palocci para tirar o dinheiro do “provisionamento” e recebeu o “sim” do ex-ministro.

– Pedi a um amigo meu, de confiança, ele comprou no nome da empresa dele. Depois uma empresa nossa comprou. Ai, desistiram. Foi feito um débito e, lá na frente, tem um crédito – disse, ao explicar que o valor voltou a ser provisionado na conta de propinas do PT

Segundo o empresário, em 2014 foi feita também uma doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula, cujo pedido chegou a ele por meio de Alexandrino Alencar, um dos ex-executivos da Odebrecht.

– Foi o único pedido do Alexandrino, o que ele e meu pai combinavam, eu avisava.

CONFORTO CAMARADA

Marcelo Odebrecht disse que os recursos eram destinados principalmente a pagar campanhas feitas pelo publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, que já tinham relacionamento anterior com a Odebrecht. Marcelo disse que o publicitário sempre temia as campanhas políticas, devido ao risco de ficar com dívidas no final. Por isso foi feita antecipação de recursos na conta, para deixá-lo tranquilo.

— Era para dar um conforto a ele (Santana) — explicou.

Moro perguntou como surgiam os codinomes.

— Era de maneira natural. Eu pessoalmente conhecia 10 codinomes, o “Italiano” já existia antes de eu chegar. Sempre que falei “Italiano” eu estava me referindo a Palocci, a relação com Palocci precedia a mim — afirmou.

— Codinome Italiano eu só usava para me referir a Palocci — garantiu.

DEPARTAMENTO DE PROPINAS

O empresário afirmou ao juiz Sérgio Moro que o setor de “Operações Estruturadas” do grupo, que se tornou conhecido como “departamento de propinas”, foi criado no início dos anos 90, quando a empresa se internacionalizou, para acabar com o descontrole na contabilidade da empresa. Segundo ele, toda a geração de recursos não contabilizados era feita por meio de offshores no exterior, mas havia “grande demanda” de distribuição no Brasil.

O setor sempre ficou, segundo ele, subordinado ao presidente da construtora, ou das construtoras do grupo, que chegaram a cinco.

Ao chegar à presidência da holding, Marcelo Odebrecht decidiu manter como subordinado direto o responsável pelo setor, para evitar conflitos. Para ele, a criação do setor foi uma “evolução” do modelo de pagamentos.

— A pessoa de distribuição (de recursos), por uma questão de disciplina, ficou comigo. Neste momento, a pessoa era Hilberto Silva — afirmou.

Segundo Marcelo, foi Hilberto quem pediu para mudar o nome do departamento para “Operações Estruturadas”, já que o antecessor dele era denominado “assessor” e, devido à nomenclatura do cargo, “todo mundo sabia o que ele fazia”.

OUTRO LADO

Em nota, o Instituto Lula informa que o ex-presidente não tem conhecimento ou relação com qualquer planilha na qual outros possam se referir a ele como “amigo”. A assessoria do Instituto nem a planilha, nem o apelido são de autoria ou do conhecimento de Lula. Acrescenta ainda que o ex-presidente jamais solicitou ou recebeu qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou para qualquer outra empresa e sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois de ser presidente da República democraticamente eleito por dois mandatos.

“Seus familiares tiveram seus sigilos fiscais e telefônicos quebrados, sua residência e de seus familiares sofreram busca e apreensão há mais de um ano, mais de 100 testemunhas foram ouvidas em processos e não foi encontrado nenhum recurso indevido ou ilegalidade cometida pelo ex-presidente”, diz a nota do instituto.

Fonte: O Globo

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