Abandonados, vigias de escolas estaduais pedem socorro
Seduc e 5ª URE não tomam providências em relação à falta de estrutura
Infelizmente o espaço que deveria ser referência para o desenvolvimento das crianças e adolescentes tornou-se alvo dos bandidos. Reféns da violência que assola as escolas, alunos, professores e técnicos sentem na pele o descaso do governo do Estado.
Em meio ao fogo cruzado, os profissionais que atuam na função de vigia, sem qualquer tipo de proteção e segurança, corriqueiramente são ameaçados de morte, agredidos e roubados.
Na madrugada de domingo (21), a Escola Estadual Maestro Wilson Dias da Fonseca, localizada na Travessa Vinte e Cinco, bairro da Nova República, foi invadida por criminosos. Segundo informações, o vigia estava na sala dos professores, quando a janela de vidro foi quebrada, momento que ele correu e se escondeu dentro do banheiro, deixando sobre uma mesa as chaves de sua motocicleta e da escola, carteira e celular. Na fuga os bandidos levaram os objetos e a moto.
“Os vigias estão muito vulneráveis, por causa do descaso também do Estado, na questão do vigia desarmado. Infelizmente a vigilância do Estado é desarmada. Então, os vigilantes da noite ficam à mercê dos bandidos, e nossa preocupação é que uma hora ou outra possa acontecer o pior. Na escola os roubos e furtos são recorrentes. Levam nossos computadores, eletroeletrônicos e materiais. O problema é que a gente registra o B.O. e a perícia nunca vem. Não é somente em nossa escola; inúmeras escolas da rede estadual são furtadas, e a gente não tem respostas sobre a prisão dos acusados”, disse o diretor da Escola.
PERIGO CONSTANTE: Não é de hoje que a categoria tem demonstrado preocupação com a vulnerabilidade que se encontra na execução de suas funções. De acordo com eles, o número de profissionais há muito tempo está abaixo da demanda. Com quadro insuficiente, eles denunciam que trabalham muito além da carga horária prevista no concurso.
Uma prova disto é o fato de que no período do dia, os educandários já não contam os serviços dos profissionais, nem tão pouco de porteiros.
Em 2015, a categoria realizou greve cobrando solução. A manifestação teve como objetivo conseguir uma resposta da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) sobre a carga horária que a categoria cumpre. Na época, os vigias alegavam que estavam exercendo uma jornada de trabalho superior ao que constava no edital do concurso C130, sem receber aumento na remuneração.
A Justiça determinou que o Estado cumprisse a carga horária de vigilantes de escolas de Santarém, de acordo com o edital do concurso C-130 de 2007/ em relação à jornada de trabalho. Em reunião com a 5ª Unidade Regional de Ensino (5ª URE) ficou determinado que os servidores, levando em consideração o edital do concurso de 2007, que estabelece carga horária de 30 horas semanais, três propostas foram apresentadas. De acordo com o comando de greve, a primeira proposta era para trabalhar de segunda a sexta, uma noite sim e outra não, sem hora extra; a segunda opção era para trabalhar de segunda a sábado, com 20 horas extras; e a terceira sugestão era para trabalhar de segunda a domingo, com dois dias de folga e sem hora extra. “Trouxemos as três propostas que a URE nos apresentou. Foi aprovada uma e essa aprovação foi feita em assembleia. Vamos trabalhar de segunda à sexta, de 12/36. Não trabalhando no sábado e no domingo”, informou o representante do comando de greve na época, Jaime Sousa.
ABANDONO TOTAL: A triste realidade de vários educandários em Santarém tem deixado os estudantes e seus pais com os nervos à flor da pele. O sentimento é de completo desprezo com a população, já que há anos, inúmeros problemas estão sem solução.
O caos que se instalou nos educandários da Rede Estadual de Ensino, só não é maior, devido ao esforço dos profissionais da educação e da comunidade. Ao longo dos anos, o que se viu foram muitas promessas por parte do Governo do Estado, e pouca ação efetiva. Reformas iniciadas há mais de quatro anos e que até o momento não foram concluídas; problemas na carga horária de trabalho dos vigias, o que deixou as escolas da rede sem segurança nos finais de semana.
Como exemplo da insegurança que atinge as escolas, os pais de alunos que frequentam a Escola Estadual Plácido de Castro já não sabem a quem apelar. O educandário que fica localizado na Avenida Sérgio Henn, bairro do Diamantino, tornou-se alvo de pelo menos três assaltos no ano de 2017, e neste primeiro ano, outros dois assaltos foram registrados. A ousadia dos bandidos é tanta, que eles realizam verdadeiros arrastões em salas de aulas. De posse de arma de fogo e arma branca, eles ameaçam professores e alunos, tocam terror e roubam dinheiro, celular e objetos da escola. É incontável o número de escolas do Estado que tornaram-se alvo dos criminosos.
Para os pais, uma situação tem causado ainda mais preocupação, e pode explicar o aumento da criminalidade nas escolas. O advento do tráfico de droga nas escolas, é cada vez maior o número de estudantes que são aliciados pelos traficantes. Muitos acabam tornando-se viciados, e para manter o vício, acabam roubando os próprios colegas de escola.
Diante do cenário dantesco, o Diretor da Unidade Regional de Ensino (5ªURE), Naldo de Almeida, mobilizou reunião para tratar sobre o tema. Participaram do evento diretores das escolas e órgãos de segurança, em especial a Polícia Militar, responsável pela Ronda Escolar. A reunião aconteceu no último dia 15, nas dependências da 5ª URE. Iniciou às 9h, e se estendeu até o fim da manhã.
De acordo com o diretor da 5ª URE, a ideia é somar iniciativas no sentido melhorar a segurança nas escolas. “Queremos estabelecer uma comunicação mais próxima com as entidades que podem contribuir com a questão. Melhorar essa relação é de suma importância, por exemplo, para o trabalho da Polícia”, explica Naldo Almeida.
Para o Comandante do 3º BPM, Ten. Cel. Maués, o trabalho da Ronda Escolar tem evitado muitos crimes. Ele também cita o trabalho desenvolvido por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD). “A Ronda Escolar tem alcançado bons resultados. O que nós precisamos é que a prevenção seja prioridade. A aproximação dos agentes de segurança, dos profissionais da educação, estudantes e comunidade, representa melhor atendimento na sensação de segurança”, disse Cel. Maués.
EVASÃO ESCOLAR: A situação do abandono dos educandários da rede estadual de ensino, no estado do Pará, tem refletido diretamente na grande taxa de evasão escolar. Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Ministério da Educação e divulgado em 2017, demonstrou que Pará tem a mais alta taxa de evasão em todas as etapas de ensino, chegando a 16% no ensino médio.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto