Detran nomeia gerentes para Ciretrans que só existem no papel

Apesar de só existirem no papel, Circunscrições Regionais de Trânsito (Ciretrans), do Departamento de Estado de Trânsito (Detran), têm dirigentes nomeados que recebem salário, diárias e veículos para rodarem pelo interior do Pará. Tudo pago com dinheiro do contribuinte.

Em portarias publicadas no Diário Oficial do Estado (DOE) entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, a diretora geral do Detran, Andrea Yared de Oliveira Hass nomeou três dos gerentes. Eles foram nomeados para Ciretrans nos municípios de Marituba (Ana Paula Martins), Rurópolis (Francisco Ferreira de Araújo), Novo Repartimento (Salomão de Sousa Fernandes) e Igarapé Miri (Cáritas Lopes de Souza) e não têm onde trabalhar porque não existem prédios alugados ou construídos pelo Detran para serem lotados, segundo o Sindicato dos Trabalhadores de Trânsito do Estado do Pará (Sinditran).

O sindicato encaminhou ofícios para a diretora indagando onde os Ciretrans de Marituba, Rurópolis e Novo Repartimento estavam localizados e quantos servidores estavam lotados nas unidades. Não houve resposta até hoje.

Inclusive alguns gerentes já viajam: Francisco ganhou quatro diárias e meia, segundo portaria do Detran publicada no dia 28 de novembro de 2017, para ir de Belém para Santarém e Juruti para “acompanhar equipe durante atendimento itinerante ao município de Juruti”.

DIÁRIAS

O mesmo Francisco ganhou mais quatro diárias e meia, segundo portaria do Detran publicada no DOE de 13 de dezembro de 2017, para ir de Belém para Altamira e Medicilândia “realizar visita nas Ciretrans dos respectivos municípios”. Numa terceira portaria, ganhou mais 3 diárias e meia, de acordo com portaria publicada no DOE do dia 22 de dezembro do ano passado, para deslocamento de Belém para Marabá e Tucuruí para “realizar visitas”.

Em outra portaria, publicada em 25 de outubro do ano passado, Salomão de Sousa (Novo Repartimento), recebeu 20 diárias e meia para se deslocar de Belém para Jacundá, Marabá, São Geraldo do Araguaia, Itupiranga e Rondon do Pará para “realizar visita técnica e administrativa”.

“O mais estranho é que esses servidores deveriam estar lotados em Rurópolis e Novo Repartimento e sair de seus municípios de origem para realizar o serviço para o Detran nas outras cidades, mas estranhamente partiram sempre de Belém, sem falar no caráter duvidoso de gerente de unidade de Ciretran que nem existe sair visitando outras unidades sem um motivo plausível, inclusive usando veículos cedidos pelo departamento”, diz Elison de Oliveira, presidente do sindicato.

Convocada pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa) para dar explicações sobre as ações do órgão, a diretora Andrea Hass afirmou à comissão, no último dia 22, que, de julho até setembro desse ano, entregará os prédios de unidades de Belém, Ananindeua, Jacundá, Redenção, Santa Isabel, Tailândia, Tucuruí, Marabá, Parauapebas e Soure.

E disse que estão em “fase de implantação”, ou seja, ainda não existem de fato, as Ciretrans de Igarapé Miri, Novo Repartimento, Marituba, Rurópolis e Ulianópolis, sendo que os 4 primeiros já têm gerentes nomeados. Nenhum dos deputados da comissão questionou esse fato.

Enquanto isso, Ciretrans estão em situação de abandono

Situação de muitos dos 48 Ciretrans do Pará é caótica e foi tornada pública durante a greve dos servidores do Detran, encerrada no último dia 11

– Ciretran de Barcarena: Também atende aos municípios de Moju, Igarapé Miri, Mocajuba, entre outros. O mobiliário é precário e servidores não dão conta da demanda. O atendimento de veículos foi limitado a ser de 40 a 50 senhas por dia, pois os servidores do atendimento, além de gerarem os processos, fazem o trabalho de retaguarda e de arquivo dos processos.

A vistoria veicular é na rua, pois a Ciretran Barcarena não tem área para esse tipo de atividade: o reduzido espaço é usado como parque de retenção de veículos.

– Ciretran de Altamira: Não há fechadura na sala dos arquivos. Lonas cobrem os processos por causa das goteiras. Não há refrigeração em todas as salas. As vistorias veiculares também são feitas na rua por não haver espaço interno. A pista de exames é ocupada por veículos apreendidos em fiscalizações.

Os problemas só se agravam: banheiros sem condições de uso, telhado cheio de goteiras, portas e portões sem fechadura e insuficiência de servidores para atender a demanda. “Estamos sem concurso público desde 2008. Acumulamos 800 cargos vagos no órgão, mas agora, em ano eleitoral, e após forte greve dos servidores, o governo fala em concurso para preencher apenas 100 vagas”, diz Elison de Oliveira.

– Ciretran de Soure: Também atende a Salvaterra, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras e São Sebastião da Boa Vista. Lá os problemas se repetem: quadro de servidores é mínimo, com dois assistentes de trânsito que atendem processos de veículos e habilitação. Há ainda um vistoriador que quando sai de férias não é substituído. Dos 4 banheiros somente 2 funcionam. Os móveis embutidos da cozinha estão caindo. As duas caixas d’água foram desativadas por risco de desabamento, o que já ocorreu com a lavanderia. Em vários pontos o forro está deteriorado, com marcas de infiltração.

As vistorias de veículos grandes são feitas na rua e as de carro pequeno são realizadas dentro da garagem, mas sem estrutura.

O DIÁRIO encaminhou questionamentos para a assessoria de comunicação do Detran a respeito das nomeações de gerentes dos Ciretrans e sobre a condição das unidades, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição.

Fonte: Diário do Pará

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *