Parceria Coagri/Embrapa levará cultura de soja ao município de Altamira

O coordenador de Agricultura do município de Altamira, Pierre Ramalho, fala sobre esse projeto.

A Coordenadoria de Agricultura de Altamira planeja instalar em propriedades rurais do Município, em parceria com a EMBRAPA (Campo Experimental de Altamira) unidades demonstrativas com a cultura de soja. Sobre esse projeto entrevistamos o Coordenador de Agricultura do Município, Engenheiro Agrônomo, Pierre Ramalho.

Jornal O Impacto: Os resultados alcançados demonstram que a cultura de soja com a utilização de cultivares geneticamente adaptadas é uma atividade agrícola com horizontes muito promissores no Centro Oeste, parte do Nordeste e Norte do País. No Pará, nas Regiões Sudeste e Oeste, com orientação técnica da EMBRAPA, existem agricultores produzindo em escala comercial. Entretanto, o projeto de introdução da soja em nosso Estado considerou a macrorregião de Altamira com vocação agrícola mais apropriada à exploração de culturas perenes, cacau, açaí, pecuária, fruticultura em geral. Qual a razão do governo municipal tomar a iniciativa de procurar introduzir a cultura de soja no Município? Afinal, esta iniciativa se confronta com a mapeamento geográfico elaborado pela própria EMBRAPA.

Pierre Ramalho: Embora, a princípio a região sudoeste do Pará não tenha sido indicada, acredito, pela conjunção de alguns fatores; Perfil econômico da maioria dos colonos e, condições edafo-climáticas/topográficas predominantes na região que a torna com maior vocação para culturas perenes, em momento algum a Embrapa inviabilizou a expansão dos horizontes geográficos da cultura em nosso Estado. Altamira é o maior Município do mundo em extensão e, como tal, apresenta grande diversidade de solos e, microclimas. Inicialmente, nossa intenção é usar a soja como fator de recuperação de solos degradados, áreas com pastagens que já apresentem degradação agronômica, isto é, já não conseguem mais produzir pasto economicamente. A área onde pretendemos instalar as unidades demonstrativas reúne um número considerável de proprietários rurais com perfil econômico para a exploração da soja em nível comercial. Também, condições de solos e de topografia ideais. No que respeita às condições climáticas para o desenvolvimento da cultura, estas, pouco, ou nada, diferem das condições predominantes nas regiões onde hoje se explora economicamente no Pará. Portanto, não vemos obstáculos técnicos nesta iniciativa de introduzir a soja em nosso Município. Altamira, hoje tem uma administração diferenciada e, as diretrizes do governo municipal para a agricultura busca incentivar o nosso desenvolvimento econômico. Hoje, em que pese os avanços técnicos na pecuária extensiva e, a excelente produtividade do cacau, nós ainda continuamos como nos primórdios da abertura da Transamazônica – bi polarizados economicamente. Por isso, é preciso ousar e, em sendo assim, é louvável essa iniciativa do governo municipal em prol da diversificação da produção agrícola, enfim, do nosso desenvolvimento econômico, embora não seja função precípua da municipalidade criar programas de diversificação de culturas. Aqui em Altamira, eu não tenho a menor dúvida, iremos comprovar o óbvio – oxalá, como acontece com o cacau, hoje o segundo Polo produtor do País, com a utilização de materiais mais adaptados às nossas condições climáticas, a exemplo das cultivares Sambaíba e, Embrapa 63 Mirador, acredito, temos amplas possibilidades de superarmos as produtividades alcançadas ao longo da região cortada pela BR – 163.

Jornal O Impacto: Pelo que temos notícia, Altamira, embora sendo uma fronteira agrícola importa a maioria dos gêneros alimentícios básicos. Isso não seria um reflexo de certa inaptidão a exploração comercial de culturas de grãos?

Pierre Ramalho: Absolutamente. Se a região da Transamazônica hoje importa boa parte dos gêneros alimentícios básicos, isso não se deve a limitações edafo/climáticas para produção de grãos. Esse lamentável paradoxo de fronteira agrícola naturalmente rica, mas, importadora de alimentos básicos deve-se à limitação de nossa produção agrícola a duas commoditys, cacau/boi. Uma consequência de equívocos nas políticas públicas, especialmente quanto à diversificação da produção nas pequenas e médias propriedades rurais. Os mais antigos são testemunhas das excelentes produtividades alcançadas nas lavouras de arroz e milho em nossa região, quando do auge da COOPERFRON que lamentavelmente faliu por força de digressões administrativas. Em verdade, as políticas governamentais em nível estadual e federal equivocadamente incentivaram de forma massiva e, indiscriminadamente a pecuária extensiva. Este fato levou o pequeno produtor a abandonar as culturas anuais, consequentemente gerando a necessidade de importação dos gêneros alimentícios básicos. É preciso que encontremos novas formas de tornarmos mais eficientes economicamente a pequena e média empresa rural. Isso nós só conseguiremos através da diversificação da produção agrícola, voltada para geração de emprego e renda. Não tenho dúvida que a soja, pelas peculiaridades de sua exploração será uma ferramenta de grande valia na recuperação agronômica de solos degradados através dos resíduos da adubação necessária à sua exploração econômica, também, de fomentadora da produção de outros grãos – milho, sorgo, etc., cultivados na entressafra.

Fonte: RG 15/O Impacto

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