Peninha: “Interesses da população devem estar acima da ganância dos empresários”

Vereador, em entrevista exclusiva, fala de projetos de Ferrovia, Hidrovia e da BR-163

O Vereador com maior número de mandatos no Brasil (08), Luiz Fernando Sadeck, mais conhecido na vida pública como “Peninha”, do município de Itaituba, esteve em nossa redação quando concedeu entrevista exclusiva, onde fala de vários assuntos é santareno. Peninha, que é natural de Santarém, se pronunciou sobre a Hidrovia Teles-Pires/Tapajós, Ferrogrão, BR 163, e outros temas. Veja e entrevista na íntegra:

Jornal O Impacto: Um dos principais motivos da nossa conversa foi o fato de que na Câmara Municipal de Itaituba, você já se posicionou juntamente com outros vereadores, em ralação à situação de que as hidrovias e as ferrovias não seriam um bom negócio para o município de Itaituba, não proporcionariam uma posição efetiva economicamente para o Município e, temos a Santarém Cuiabá que até hoje não foi concluída.

Peninha: Vejam bem, nós lembramos que há alguns anos, o DNIT começou um trabalho de que seria a privatização da BR-163 nesse trecho que vem de Sinop (Mato Grosso) até o porto de Miritituba, em Itaituba (Pará). Houve audiência pública em Itaituba, apresentação de projetos, porém, quando chegou o momento de se detalhar o valor que seria cobrado do pedágio por carreta, houve um recuo por parte do governo diante da pressão dos empresários de que não seria viável privatizar a BR-163 (Santarém–Cuiabá) porque seria muito caro para o transporte de grãos para o Porto de Miritituba. Foi, então, que apareceu uma outra modalidade, que inclusive foi sugestionada e tem à frente o empresário Blairo Maggi, que é a construção da Ferrovia, também vindo de Sinop até o porto de Miritituba. Veja bem, é uma Ferrovia que não vai beneficiar nossa região em absolutamente nada; primeiro porque será apenas para transportar grãos, ninguém vai usá-la; ocorreu até uma história que no futuro irá poder usá-la transportando passageiros, mas quando isso vai acontecer? Então, é uma Ferrovia que está orçada em torno de 14 bilhões de reais, dos quais 7% seria financiados por nós, BNDS, e um grupo Chinês que iria construir e explorar durante 30 anos essa Ferrovia. Para nós ela não é importante, ela iria acabar praticamente com a Santarém-Cuiabá, porque a partir do momento em que sair essa Ferrovia a BR-163 ficaria obsoleta, ela não teria uso porque hoje nós estamos vendo que ela está sendo usada pelas carretas que saem do Mato Grosso transportando grãos tanto para os portos de Itaituba, quanto para Santarém, mas parece que as pessoas não estão acompanhando os investimentos que estão tendo na região, por pessoas que estão acreditando no melhoramento da qualidade de vida. Por exemplo, nós estamos vendo hoje que com o surgimento desses portos em Itaituba (nós temos seis portos lá), foi construída uma estrutura muito grande à margem da BR-163, de Sinop até o porto de Miritituba, são grandes investimentos; por exemplo, no distrito de Campo Verde, que é o entroncamento da BR-163 (Santarém-Cuiabá) com a BR-230 (Transamazônica), ali os empresários do Grupo Mirian, investiram 40 milhões de reais em uma estrutura que é idêntica aos aeroportos internacional de Manaus e Belém, para atender essa demanda, para o estacionamento, banheiros sanitários, restaurantes, lanchonetes. Ou seja, uma coisa fantástica, de qualidade, para atender as pessoas que vão passar aqui; essa estrutura está funcionando a todo vapor, estão entrando hoje de 1000 a 1500 carretas do Mato Grosso diariamente até o porto de Miritituba. Agora, não tem maior movimento por conta da situação da Santarém-Cuiabá. Aí me chama atenção, porque um projeto dessa envergadura vai gastar 14 bilhões de reais para atender única e exclusivamente o empresário, encurtar a distância e baratear o transporte dos grãos e como consequência aumentar o lucro dos empresários e aí a população nada vai ter com isso. Por que não pegar 3 bilhões desses 14 bilhões de reais e duplicarmos a Santarém- Cuiabá, concluirmos a construção das pontes em concreto, asfaltarmos ela em sua totalidade que ela será usada até por ciclistas? Então, eu volto a dizer, a BR-163 estando asfaltada será usada por todo mundo, diferente da Ferrovia. Quando nós brigamos em Brasília, umas duas vezes, não teve audiência em Itaituba porque os índios não deixaram, a tribo Munduruku do Tapajós e os Caiapó de Novo Progresso, foram contra a construção da Ferrovia; o que fez o governo, está aquecendo um projeto antigo que é a Hidrovia Teles-Pires Tapajós; inclusive no dia 26 de junho passado eu estive em Santarém participando de uma audiência pública, onde foi apresentado esse projeto que está orçado em 4 bilhões de reais. Eu acho inviável fazer um projeto dessa natureza, porque vão tentar abrir o Tapajós lá da rasteira do Mato Grosso até aqui em Santarém. Hoje nós temos esse rio trafegável tanto no inverno como no verão, de Itaituba para Santarém, e a sugestão é, por que não melhorar esse tráfego de Itaituba para Santarém, ao invés de mexer lá para cima? Você vai criar um problema ambiental, vai mexer com a população ribeirinha, com a população indígena, porque vai ter que fazer um tragamento, você vai ter que fazer bombardeio para tirar aquelas pedras que tem no meio para abrir ramais, enfim, toda aquela técnica avançada terá de ser usada e vai mexer com o meio ambiente e a natureza no território da população indígena, fauna e flora. Eu acho que o governo deveria aproveitar o que já temos hoje, que é o Rio Tapajós navegável aqui embaixo e melhorar fazendo a dragagem do Rio Tapajós, de Itaituba para Santarém. Outro fato, a partir do momento que Deus o livre aconteça isso, mais uma vez Itaituba vai ver balsas passar, porque nós temos hoje por lá, seis portos graneleiros, e essas balsas se vierem da rasteira transportando os grãos do Mato Grosso para os portos de Barcarena e de Santana no Amapá, não vão parar em Itaituba, e os portos de Itaituba e Santarém vão ficar ociosos, porque vai passar direto. Eu pergunto: Alguém vai carregar lá em rasteira uma balsa, descarregar em Itaituba e recarregar de novo? Não! Elas vão vir direto das barcaças do Mato Grosso até o Porto de Barcarena, onde vão ser transportadas para os navios que vão para a Europa levando os grãos. Então, para nós não é interessante hidrovias, até porque volto a dizer, é investimento para empresários, para baratear os custos deles só visando o lucro e nós vamos ver balsas a passar. Já basta hoje, Itaituba com esses seis portos que estou falando, nós poucos ganhamos, gera em torno de 700 a 800 empregos, paga anualmente um alvará de isolamento e alguns pagam IPTU, porque está em zona considerada rural, que até hoje o Terra Legal não passou para o Município essa área que é patrimonial; eles pagam ITR. Com tudo isso, nós estamos sofrendo, eles não pagam um centavo para fazer o transbordo das carretas para o silos e dos silos para a balsa, quando na verdade era para pagar. Inclusive nós estamos entrando em contato com um grande tributarista aqui de Santarém, Admilton Almeida, para que ele possa fazer um trabalho nesse sentido, porque nós vamos passar a cobrar no Município; eles têm que pagar porque estão fazendo um serviço desse transbordo, então, a partir de agora nós teremos a assessoria desse grande tributarista nesse sentido, para que nós possamos cobrar deles 3% ou 5%, vamos ver o percentual que vai valer sobre o valor da tonelada calculada, porque o Município não ganha nada, só ficam as mazelas. Miritituba hoje tem violência, prostituição e não está ganhando nada. Então, quando vamos para o debate nessas audiências criticamos esses grandes projetos; na hora que eles chegam prometem mundos e fundos, mas não cumprem. Por exemplo, as condicionantes que essas empresas de Miritituba prometeram, mas não cumpriram nem 20% e temos a comunidade local esquecida. Aí quem tem que fazer essa parte é o poder público municipal, que tem que investir na saúde, na educação, na infraestrutura e na segurança, porque o Estado lá em Miritituba há vinte anos é o mesmo, cinco policiais destacados, já deveria ter no mínimo 20 policiais, já deveria ter um pelotão, deveria ter um Corpo de Bombeiros por conta da movimentação de acidentes que constantemente estão acontecendo naquela região. Agora, eu acho que nós temos que investir na BR-163, não da maneira que está. Por exemplo, eu critico o governo quando não dá uma atenção e não cobra a conclusão da BR-163. Como somos sabedores de que há 4 anos o BEC asfalta o trecho de Santarém a Rurópolis, é uma vergonha, 518 quilômetros, bilhões de reais já saíram para asfaltar esse trecho e até hoje não foi concluída essa obra. Nós estamos vendo que é de péssima qualidade, eu trafego nela todo mês, você tem que fazer um zig-zag correndo o risco do carro virar, bater em outro de frente; quer dizer, já ocorreram acidentes com vítimas fatais, sendo que até hoje tem três quilômetros que não foram asfaltados. Então, não adianta o Governo fazer através do BEC, tem que ser por iniciativa privada.

Jornal O Impacto: Você acaba de citar 40 anos. A culpa não é da representação política fraca?

Peninha: Concordo! Eu tenho feito denúncia no plenário da Câmara, já encaminhei documento ao Tribunal de Contas da União, já encaminhei à Procuradoria Geral da República, já encaminhei documentos para deputados e senadores. Nossa representação política parece que tem medo dos homens de farda e não denunciam e não criticam. Inclusive, recentemente eu vi uma reportagem onde houve comprovadamente desvio de dinheiro desta obra aqui por militares que já estão na reserva e que foram condenados. Cadê esse dinheiro? Vai voltar? E eu cheguei a ver a condenação de alguns militares, coronéis na época e o que nós estamos vendo é um obra praticamente parada. Recentemente me vi surpreso, deram agora mais 74 milhões de reais para eles recuperarem em torno de 60 quilômetros em um trecho perto de Moraes de Almeida, vai passar mais 40 anos. Isso que eu digo, esse dinheiro que é nosso, tem que ser fiscalizado. Os deputados federais e senadores têm que fazer um pronunciamento em defesa disso, para concluir essa obra que é de grande importância para todos. É isso que defendo.

Jornal O Impacto: A Hidrovia e Ferrovia, na sua avaliação, são importantes para a região, ou melhor seria a conclusão da BR-163.

Peninha: Principalmente a conclusão da BR-163, porque será usada por todos, é isso que precisamos. Quando chega o inverno é uma calamidade, as pessoas sofrem demais. Nós temos que pensar no nosso povo, na nossa gente. Eu sou agente público e defendo os interesses do povo da região e não dos empresários. Então, empresários vem de lá, trazem a soja deles aqui e embarcam; estão ganhando dinheiro deles lá. Na hora em que chega essa soja lá na Europa, o dinheiro já está na conta do empresário e o povo morrendo, doente, vítimas de acidentes, de violência, famílias entrando na prostituição, gerando um caos social e os empresários ganhando a parte deles. Volto a dizer, pouquíssimos nós temos recebido, agora, nós temos que brigar e é dessa representação política que nós precisamos, este é o momento que nós vamos ver da política.

Jornal O Impacto: Para concluir, o seu objetivo é mobilizar para termos uma audiência pública?

Peninha: Nós estamos com o pessoal da empresa que fez o estudo das hidrovias para marcar para eles, talvez em agosto, pois agora está todo mundo parado em recesso, teve a Copa do Mundo. Em agosto eles irão a Itaituba, para exatamente apresentarem esse projeto e nós manifestarmos nossa posição sobre essa questão. Acho que se eles quiserem fazer um bem para região e para nós de Itaituba, eles deveriam fazer o melhoramento da trafegabilidade do Rio Tapajós, de Itaituba para Santarém, e concluir a BR-163. Está mais de que na hora do governo concluir a BR-163, pois é uma vergonha a situação dessa rodovia.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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