Naldo: “Precisamos resgatar nosso carnaval, que está em decadência”

Segundo o carnavalesco, blocos de empolgação não participarão do carnaval oficial

Diretor da ASAC questiona para aonde está indo o recurso que era gasto com os blocos

O ex-diretor da 5ª URE em Santarém e um dos grandes nomes do carnaval do Município, Naldo Almeida, mais conhecido como Naldo Picota, que faz parte da ASAC (Associação Santarena das Agremiações Carnavalescas), esteve no estúdio da TV Impacto e na redação do Jornal O Impacto, ocasião em que falou sobre o carnaval deste ano em Santarém:

“Vamos aproveitar a oportunidade para fazermos algumas colocações a respeito do carnaval. A ASAC é a entidade que congrega O Bloco da Pulga, Bloco Aparecida, Bloco Império Figueirense, Bloco A Grande Família, Bloco Cacique da Prainha e Bloco Unidos da Interventoria. No carnaval de 2018, os chamados blocos de enredo, que possuem carros alegóricos, que têm alegorias, bateria, bastante componentes, que compõem a ASAC, tomaram a decisão de não participar do desfile oficial que é realizado lá na Praça de Eventos, devido alguns fatores, sendo que um deles é o local que não é adequado para o nosso tipo de carnaval. Isso foi muito discutido, foram feitas enquetes e pesquisas, as rádios estão aí para comprovar, mas ninguém convenceu o Secretário de Cultura e nem o Prefeito de que o carnaval teria de ser fora dali. Então, eles fizeram o carnaval e denominaram de “Carnaval para o povo”. Só que o nosso carnaval também é voltado para o povo e nós achamos que Santarém precisa de um local adequado para realizar eventos, tais como o carnaval”, declarou.

PODER PÚBLICO NÃO AJUDOU: Naldo Picota disse que diante dessa situação, os blocos que congregam a ASAC fizeram um carnaval paralelo nos bairros: “Esse carnaval nos bairros vem crescendo ao longo dos anos. A ASAC não participou do carnaval na Praça de Eventos, porque a Prefeitura disse que não poderia dispor de uma pequena ajuda de R$ 3.000 a R$ 3.500 para cada bloco. Se você for olhar e colocar no papel, a construção dos carros alegóricos, as fantasias nos galpões e outros serviços, esse valor só daria mesmo para café e a merenda. O Bloco da Pulga gasta em torno de R$ 80 a 90 mil, o Cacique da Prainha gasta entre R$ 60 a 70 mil, o Unidos da Aparecida gasta muito mais de R$ 50 mil e os outros blocos também têm um gasto muito grande. Obviamente que o poder público não pode manter esse bloco e ninguém fez questão. Hoje, quando se diz que a Prefeitura não pode fornecer ajuda financeira para carnaval, normalmente algumas pessoas falam que quem quiser brincar carnaval que brinque com seu dinheiro, pois recurso público não pode ser gasto em carnaval. Os blocos estão vivos e insistindo para ter o carnaval, mas nos bairros, onde o povo vai fazer arrastão, como o Império Figueirense, Bloco da Pulga e Bloco da Aparecida fizeram ano passado, bem como os outros blocos. O que aconteceu, é que após uma discussão interna, achamos melhor dizer: ´Ninguém vai colocar a faca no pescoço do Prefeito e do Secretário, ninguém vai fazer críticas`. Aí, eles deixam de usar esse recurso, que é uma anotação orçamentária para a Secretaria custear, o Município tem o percentual para custear eventos públicos de grande concentração de massa popular, e entre eles está o carnaval, mas só que eles acham que o carnaval é botar um trio elétrico na rua e o povo ir atrás. Quer dizer, se está faltando remédio no hospital, não é porque o dinheiro foi para o Carnaval; se está faltando médico no hospital, não é porque o dinheiro foi pro carnaval; se está faltando enfermeira no hospital, não é porque o dinheiro foi para o carnaval. O carnaval está isento dessa despesa, pois achavam que gastavam de R$ 150 a 180 mil todos os anos. Mas, há 3 anos que não se dá esse valor e ninguém sabe para onde foi o recurso”, informou Naldo Picota.

RESGATE DO CARNAVAL: O carnavalesco se pronunciou com relação aos blocos que estão se preparando para realizar o  carnaval, como foi feito no ano passado: “É isso que a gente gosta e vamos fazer. No ano passado saiu um grande arrastão do campo do Parque da Cidade e conseguimos levar muita gente. Este ano estamos prevendo uma outra manifestação carnavalesca, no sentido de que a gente possa mostrar que o nosso carnaval não morreu. Nós queremos só o respeito, assim como a gente respeita o carnaval do abadá, que é feito através da Secretaria. Nós vamos fazer nosso movimento, também, para dizer que o nosso carnaval está vivo. Nosso carnaval fomentava recursos consideráveis na cidade, dava emprego para carpinteiro, pintor, soldador, costureira, segurança, artista plástico, bem como para o comércio. Então, nós estamos preparando o momento para resgatar realmente nosso carnaval, no tempo e momento certo. A ASAC é representada por cada bloco e o pensamento é voltar aquele carnaval que existiu na Barão do Rio Branco e na orla da cidade. É esse carnaval que nós defendemos para o futuro, porque tiraram da orla com uma justificativa de que quando chove não tem onde se alojar, mas ali na Praça de Eventos também não tem. Também falaram que na orla as pessoas faziam suas necessidades na frente das lojas, só que na Praça de Eventos não tem banheiro e as pessoas fazem suas necessidades na frentes das casas”, disse.

PRIVATIZAÇÃO DO CARNAVAL DE ALTER DO CHÃO: O carnaval em Santarém já teve seus dias de glória, com grandes escolas de samba, grandes carnavalescos, fantasias de luxo, quase todos na Barão do Rio Branco. Era um carnaval que, inclusive, trazia turistas de outros estados, sendo que quem abria o desfile do carnaval de rua era o “Bloco da Toalha” formado por hóspedes do antigo Tropical Hotel. São coisas que aconteceram no passado e a proposta da ASAC é voltar a esses bons tempos.

“Exatamente. Até por que as instituições estão vivas, ninguém desaprendeu. Aquela geração está aí na frente dos blocos. A realidade é outra? Sim, mas o pensamento daquele tempo permanece, e nós acreditamos que em um tempo mais curto, iremos retornar àqueles nossos antigos carnavais. A mensagem que a gente prega dentro da ASAC, é que passando o período do carnaval, você já corre atrás de patrocínio para o próximo ano. Infelizmente a crise afetou, mas nós temos meios de buscar recursos. Eu te faço uma colocação: Foi publicado um edital na semana passada aqui em Santarém, para privatizar o carnaval de Alter do Chão. Até hoje ninguém se manifestou, devido ao valor que é alto. A Prefeitura quer passar um valor que a gente considera muito alto, até porque eu acompanho o carnaval de Alter do Chão desde o tempo que teve mais de 15 blocos e, no ano passado só teve o Há Jacú no Pau e um outro bloco de pessoas que jogam bola, onde os homens se fantasiaram de mulher e as mulheres se fantasiaram de homem. Para um local que já teve mais de 15 blocos em tempos passados e hoje só tem dois, algo de errado está acontecendo. Então, quem será que vai querer encarar o carnaval de lá, se já está em decadência? Ninguém”, finalizou Naldo Picota.

Por: Edmundo Baía Junior

Fonte: RG 15/O Impacto

Um comentário em “Naldo: “Precisamos resgatar nosso carnaval, que está em decadência”

  • 31 de janeiro de 2019 em 19:13
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    Conservar a cultura é manter viva a identidade de um povo..se o poder público não reconhece, às eleições estão na porta, nosso voto é nossa arma.
    Vamos mudando as raposas velhas que tudo pode mudar.

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