‘Caixa 2 não é corrupção’, afirma Moro, ao desmembrar pacote anticrime

O governo federal cedeu às pressões políticas e desmembrou o pacote de lei anticrime. Serão encaminhados à Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (19/2), três projetos de lei diferentes. Um deles altera regras de competência da Justiça eleitoral; outro engloba as medidas apresentadas contra crime organizado, crime violento e corrupção; e outro estabelece a tipificação do caixa 2.

Na prática, o governo admite que caixa 2 é um crime menos grave que corrupção. “Caixa 2 não é corrupção”, chegou a afirmar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em breve coletiva de imprensa após a assinatura dos projetos de lei. “Existe o crime de corrupção e o crime de caixa 2. Os dois crimes são graves”, completou.

Em abril de 2017, quando ainda era juiz federal, Moro declarou, em palestra para estudantes brasileiros na Universidade de Havard, nos Estados Unidos, que caixa 2 é pior que corrupção.

Articulação política

A opção do governo em desmembrar o pacote é um sinal da articulação política feito pelo governo. Moro admitiu que o governo ouviu “reclamações razoáveis” por parte de “alguns agentes políticos” e “parlamentares” de que o caixa 2 é um “crime grave, mas não tem a mesma gravidade que a corrupção, crime organizado e crimes violentos”. “Então, acabamos optando por colocar a criminalização (do caixa 2) em um projeto à parte, mas que está sendo encaminhado ao mesmo momento”, disse.

O ministro, no entanto, evita dizer que o governo está cedendo às pressões políticas. Reiterou que nenhum governo anterior se propôs a propor uma tipificação mais adequada do caixa 2 e destacou que o governo do presidente Jair Bolsonaro tem “firme compromisso em reforçar a institucionalidade”. “E isso passa pelo enfrentamento do crime organizado, dos crimes contra a administração pública e dos crimes violentos”, justificou.

O projeto mais amplo entre os três encaminhados prevê uma série de medidas. Entre elas, a prisão após condenação em segunda instância. O texto também estabelece cumprimento de regime fechado para condenados por crimes contra a administração pública, endurece penas para apenados por homicídio e latrocínio, e tipifica textualmente conhecidas facções como organizações criminosas.

Histórico

A criminalização do caixa 2 foi rejeitada pela Câmara em 2016. A proposta fazia parte das Dez Medidas de Combate à Corrupção, projeto de iniciativa popular promovido pelo Ministério Público Federal, mas desfigurado na Câmara. Moro aposta no capital político do novo governo para aprovar tanto esse como outros pontos barrados na época e que estão presentes em seu pacote.

Na atual composição da Casa, 17 parlamentares respondem a inquéritos por caixa 2 relacionados à Lava Jato. Além deles, o próprio Onyx foi delatado por executivos do grupo J&F por caixa 2. O ministro chegou a admitir, em entrevista, ter recebido R$ 100 mil não declarados nas contas de campanha de deputado federal e pediu desculpas.

Reação

Para a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), aliada do governo, a criminalização do caixa 2 é um dos pontos que deve sofrer resistência no Congresso. “Com certeza, os deputados que já usufruíram de caixa 2 vão tentar travar o pacote, isso é natural. Quem fez caixa 2 em duas ou três campanhas, continua fazendo caixa 3, caixa 4, caixa 5. Essa gente, de uma forma ou de outra, continua fazendo”, afirmou.

Para ela, porém, a renovação de mais da metade dos parlamentares favoreceria uma nova discussão do tema. “A salvação desse projeto é esse grupo novo de parlamentares, que é um grupo grande. Então, vamos estar ali fazendo o que é certo”, disse.

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), porém, questiona o interesse do governo ao fatiar o pacote.

“Não era um único pacote anticrime? Quais os interesses por trás disso? Parece que o governo quer salvar uma parte do pacote e deixar a outra, crucial para o combate à corrupção, afundar”, afirmou o deputado.

Fonte: Correio Braziliense com informações da Agência Estado

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