Comentarista esportivo fala da decadência do futebol santareno

Segundo o professor, clubes de Santarém são mal administrados e fazem vergonha aos torcedores

Luiz Carlos Botelho diz que péssimas atuações dos clubes deixam estádio sem torcida

A péssima atuação dos times de Santarém no Campeonato Paraense deste ano – onde ocupam as últimas colocações, sendo que os dois clubes mais tradicionais: São Francisco e São Raimundo já foram rebaixados para a segunda divisão – mostra a decadência de nosso futebol, que em tempos passados já lançou muitos craques para o Brasil e exterior, como Manoel Maria que foi ponta-direita do Santos na época de Pelé e Coutinho, e ainda jogou na Seleção Brasileira, só não fazendo parte do escrete que foi campeão do mundo em 1970 porque sofreu uma contusão; Darinta, que jogou ao lado do zagueiro Luís Pereira, o maior craque do Palmeiras; Afonso, que jogou até em Portugal; Belterra, zagueiro que foi campeão pelo Remo, Paysandu e Tuna; Zuza, Acari e Odilson, que foram campeões pela Tuna; Cabecinha, Jeremias, Zé Lima e Cuca, que foram campeões pelo Remo; Bendelack, Cristóvão Sena, Abdala, e tantos outros craques que levaram o nome do futebol santareno para o mundo.

O comentarista esportivo Luiz Carlos Botelho esteve em nossa redação para falar sobre essa fase negra do futebol santareno.

“Eu quero começar falando primeiro da visita que nós tivemos do Secretário de Esporte do Estado do Pará, que apareceu com algumas interrogações e não foi muito claro, porque o que nos interessa hoje é reestruturar, revigorar, renascer o futebol amador. Aliás, estou falando sobre isso aos políticos que entraram agora e eu louvo quem quer trabalhar para o esporte. Eu estou fazendo esporte há 50 anos em Santarém, então, se o cara vem para trabalhar pelo esporte, pelo engrandecimento, pela organização, dou os parabéns. O vereador Paulo gasolina está à frente de um movimento, do qual eu já participei de uma reunião e que achei muito boa; tomara que continue dando certo. Qual é a proposta? Qual é o projeto deste político? O projeto é reorganizar primeiro a Liga Esportiva de Santarém, eu tenho dito no decorrer da minha vida que nenhum Prefeito, Governador e Presidente da República tem que ajudar profissional; não meu amigo, a palavra já esta dizendo, profissional tem que se manter. O governo pode ajudar, o prefeito de Santarém pode ajudar os times só se tiver uma condição saudável de dinheiro, mas ele não tem obrigação. Agora, no esporte amador não, ele tem obrigação, porque a Liga Esportiva de Santarém é uma gestão que tem que ser comandada pelo Município; o Prefeito já nomeou um coordenador de esporte, para a recuperação do esporte amador. Por que eu estou falando esporte amador? Porque é de lá que vão sair os futuros filhos da nossa terra para o futebol profissional. Ninguém se iluda trazendo um bando de pernas de pau de outras partes a peso de ouro, alguns verdadeiros enganadores, verdadeiros usurpadores do suor dos outros, porque teve neguinho que veio agora profissional, fez dois jogos ganhando 7, 8, 10 ou 15 mil reais. Só para lembrar, no ano passado o São Raimundo trouxe um tal de Luiz Carlos Imperador, a barriga do cara tinha quase dois metros, ele não podia se mexer, ganhando R$ 15.000. Agora, quando é um jogador da nossa terra, de Óbidos, de Alenquer, daqui do Oeste do Pará, os diretores dos clubes de Santarém querem pagar somente 1 mil reais. Hoje ninguém tem mais o nariz furado. Quando você vê um jogador que está começando no São Raimundo, São Francisco e Tapajós, no mínimo ele é uma bucha de canhão, porque ele não é bobo, ele está lá e vê que nem vai ser titular, não vai ganhar o que ele realmente merece, até com incentivo. Eu tenho dado um exemplo aqui, pelo menos agora nessa última década, de um jogador que foi campeão sub-20 pela equipe do São Raimundo, sendo que o treinador era o Beto Farinha, que hoje é Vereador em Mojuí dos Campos. O Beto disse assim: “Garoto você volta para ficar no profissional”. O Garoto foi lá ver a família e voltou com a mochilinha dele; quando ele chegou no São Raimundo se apresentou ao diretor e disse: “Eu vim pra ficar, porque o seu Beto que mandou. Eu sou de Prainha, onde é o meu quarto?”. O diretor do São Raimundo respondeu: “O que, meu amigo? Aqui não tem quarto pra você, você não tem parente aqui em Santarém?”, o rapaz respondeu: “Não tenho parente, eu vim porque o seu Beto disse que eu ia ficar na equipe profissional”. O diretor voltou a responder: “Esses quartos que você está vendo aqui, é para quem vem de fora, é para jogador de nome”. O garoto humildemente pegou a sua sacolinha e voltou, só que quando o barco parou em Monte Alegre, o Matheus quando viu, disse: “Rapaz você não ficou no São Raimundo?”, o garoto respondeu: “Não, porque não tinha um lugar para eu ficar”. Resultado, o Matheus falou com o Toco, que jogou bola e tem conhecimento, falou também com o Lima que estava em Monte Alegre, falaram com o Papilim, que pediu para mandarem o garoto. Ele foi para lá e aí a vida do seu Prainha mudou até de nome, passou se chamar Rossi, que já jogou no Internacional e hoje está atuando no Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Rossi já jogou, também, na Chapecoense e na China. O São Raimundo era para ter pegado os royalties, mas o São Raimundo nem é citado. Para todos os efeitos, Rossi Nunca nem pisou em Santarém”, disse Luiz Carlos Botelho.

EQUIPES TÊM QUE INVESTIR NO TRABALHO DE BASE: Luiz Carlos Botelho foi mais além: “São essas desorganizações que faltam ser revistas, quando se fizer uma Liga organizada, para organizar a base. Qual é o trabalho da base? Ele é feito de duas formas, na parte amadora que é da Liga, organizar os campeonatos sub-15, sub-17 e sub-20, e , quando acabar essas três competições, que organize o campeonato amador, que vai de 23 anos até 40, 50 anos, desde que o cara seja bom, não interessa. Aí você tem o lucro dessa semente, do sub-15 até o amador, é lá que os clubes profissionais de Santarém vão ter o fruto, porque alguém dessa garotada que começa no sub-15 vai despontar para o futebol. Quem lucra é o São Raimundo, São Francisco e o Tapajós. Mas, os diretores não estão vendo isso. Eu pergunto: Quem é o profissional que ao menos se preocupa? Agora, o São Francisco está com um CT aqui na rodovia Everaldo Martins, tinha todas as condições. Quando eu falo isso, às vezes muita gente fica com raiva de mim, mas eu não tenho medo de dizer a verdade. Você quer ver uma coisa, o São Raimundo se queixa que não tem dinheiro. Pelo amor de Deus, meu amigo, é um dos clubes mais ricos, é o terceiro clube no Norte do Brasil, não é nem no Pará. Tem clubes por aí, por exemplo, o Nacional de Manaus, tem o campo no bairro, longe; o Remo em Belém tem um campo que está parado e não tem onde treinar; o Paysandu está terminando, mas também não tinha. Então, para se desenvolver no futebol você tem que trabalhar a base. O São Raimundo e São Francisco não têm times sub-15, até que uns anos atrás ainda tinham o sub-17, mas acabou e hoje não têm mais campeonato. E aí, como é que faz? Os caras estão trazendo os “bons” de lá de fora, como fizeram o São Raimundo e o São Francisco. Quem mais ou menos não entrou nessa dança foi o Tapajós e você vê o resultado. O Tapajós tinha jogador de fora? Tinha, mas não eram velhos; era um time novo, com 80% na faixa de 22 a 23 anos. Enquanto isso, no São Raimundo e São Francisco, os caras que vieram de Fortaleza, lá de Caicó, que vieram lá do Nordeste, esses caras ninguém conhecia. Vieram ganhando quanto? Ninguém veio ganhando 1 mil reais. Nós temos que valorizar o que é nosso. Eu sempre digo, quando era futebol armador, não tinha profissional, todo final de ano quando acabava o campeonato amador, você tinha quatro, cinco ou seis jogadores que saiam daqui e brilhavam fora. Eu sempre cito três jogadores: Manoel Maria, que jogou no maior ataque do mundo do santos: Manoel Maria, Coutinho, Pelé e Pepe; depois teve um zagueiro que jogou ao lado do maior zagueiro do Palmeiras e do Brasil na sua época, Luís Pereira. Eu assisti a uma entrevista no Cartão Verde, com o Rivelino; o cara perguntou: “Rivelino, na sua época, quem foi o maior zagueiro que você viu jogar até hoje?”. Rivelino respondeu: “Ainda não apareceu um zagueiro como Luís Pereira, o Chevrolet”. Sabe quem jogou lá com o Luís Pereira, o santareno Darinta, não foi reserva, jogou como titular 2 campeonato pelo Palmeiras; depois o Bendelack, que saiu do Nacional foi para a Bolívia, sendo que em um jogo deu um show no lateral do meu time, o Flamengo, e depois foi para o Cruzeiro de Belo Horizonte”, informou.

TERRENOS ABANDONADOS QUE PODEM SE TRANSFORMAR EM CENTROS ESPORTIVOS: Ao ser questionado sobre o campeonato amador, os times de bairros, Luiz Carlos Botelho disse o seguinte: “O campeonato de bairro é exclusivamente competência do Município, e aqui ninguém pode dizer que é mentira. Todos sabem que eu não sou político, já tive convites para ser político, mas eu nunca aceitei. Eu preferi sempre na minha vida ser professor, pois sempre acreditei que mesmo sendo professor o cara pode viver bem. Graças a Deus que até agora minha teoria ainda permanece de pé, não tenho vergonha. Hoje sou Psicólogo, uma outra profissão, mas eu me orgulho de ser professor. Pois bem, eu quero dar um exemplo que já aconteceu em Santarém, a prefeita Maria do Carmo foi a única que investiu nesse campo; quando a professora Rita me chamou para compor uma equipe com o Cid, com a professora Roberta, com professores competentes; nós juntos fizemos o planejamento e trabalhamos o campeonato de bairro por vários anos, com 100 equipes masculinas e femininas; fizemos voleibol, fizemos handebol; fomos para Belém e nós fomos campeões paraenses de jogos abertos. Campeões de basquete masculino com aquela turma que joga na Praça do Mascotinho. Fomos campeão de voleibol masculino com o professor Cid; nós fomos campeão de futebol de salão de uma turma da Pulga, batendo todo mundo em Belém. Então, isso é que a trabalhar com bairros, com a comunidade que se sentiu prestigiada e a Prefeita estava. As finais eram feitas no Colosso do Tapajós, com entrega de prêmios. Como é que está hoje? Não tem nada, pelo menos eu não vi falar. Quando eu encontro as pessoas, às vezes vou aos bairros, sempre falam: “Tio, a gente era feliz e não sabia!”. Essa é uma frase que é muito comum você escutar hoje. Naquela época a Maria do Carmo mandou iluminar todos os campos dos bairros de Santarém, tinha futebol e os jovens não caiam no vício da droga. Hoje, pelo menos estão falando que vão inaugurar agora em julho, no aniversário de Santarém, o ginásio Poliesportivo. Na época da Maria do Carmo tinha um campo iluminado na Aparecida; você ia para a Prainha o campo do Norte estava Iluminado; outros campos iluminados foram o Poeirão, o campo do São José Operário, e o campo do Marcão. Isso aconteceu nos principais bairros da cidade. Isso funcionou e pode funcionar de novo. É questão de analisar e fazer. Não tem dinheiro? É só no final do ano, quando for votar o orçamento da Prefeitura, é só colocar um recurso para investir nos campeonatos de bairros, para fazer uma quadra esportiva, campo de futebol, etc. Tem muitas área baldias em Santarém, cito uma na Turiano Meira, onde recentemente foi construído um prédio do Ministério Público Federal, mas ao redor existe um matagal que pode ser aproveitado para ser um centro esportivo. O esporte de Santarém depende única e exclusivamente da gestão municipal e da gestão empresarial profissional”, finalizou Luiz Carlos Botelho.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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