Falta de estratégia governamental e de políticas públicas emperra o turismo no Pará

Com suas decantadas belezas e riquezas naturais, o Pará ainda está bem longe de saber vender sua imagem com eficiência e o conjunto de potencialidades turísticas aos olhos do mundo, principalmente, no continente europeu. Prova disso é que, em 2018, o crescimento de visitantes estrangeiros foi considerado pífio: apenas 1%. A informação, com base de dados recentes, é da Unidade de Gestão Estratégica e Mercado (Ugem) do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (Sebrae-PA).

De acordo com o levantamento, do total superior a 1 milhão de turistas no ano passado no Estado, foram registrados mais de 900 mil brasileiros e além dos 120 mil oriundos de outros países. O Sebrae contabilizou que foram gerados R$ 686 milhões no período no setor. Os números foram divulgados pelo diretor-superintendente do órgão, Rubens Magno Júnior, em reunião ocorrida na semana passada com integrantes da Comissão de Turismo da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).

Na Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Mineração e Energia (Sedeme), já foi identificado que o Peru é a principal referência na abrangência no âmbito amazônico da América do Sul, com o Pará fora do centro do radar. O secretário adjunto, André Dias Filho, que responde pelo segmento na pasta, admitiu na Alepa que o quadro é complicado.

A Sedeme, que incorporou as atribuições da antiga Secretaria de Estado de Turismo (Setur), busca estruturar um plano estratégico com a promessa de marketing inovador e agressivo, ao mesmo tempo em que sonha com a instituição da Lei Estadual do Turismo – mas a reestruturação no âmbito institucional ainda depende da própria consolidação de uma diretoria específica.

ABAV-PA APONTA “INDIVIDUALISMO” 

Passados os três primeiros meses do novo governo, já há críticas pesadas quanto à falta de ações efetivas na área. A vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Pará (Abav-PA), Rose Larrat, considera que Executivo “tem dificuldade de ouvir quem de direito do setor”. “Pior do que ouvir, tem tomado decisões que prejudicam o segmento de forma muito latente”, entende ela.

Na sua opinião, o primeiro deslize foi ter encerrado a Setur “levando consigo um quadro técnico de experiência”. “Outro fator que começou errado é a visita nas feiras internacionais sem o acompanhamento dos empresários, que é quem, de fato, ‘vende’ efetivamente o Estado. Pensam que no turismo o governo anda só, mas equivocam-se, porque não chegam a lugar algum sem os empresários, que precisam também fazer o seu papel”, observou.

Rose Larrat, que também é conselheira da Abav nacional, critica a falta de infraestrutura. “Os pontos turísticos estão entregues às baratas. O porto de Icoaraci é deplorável. Estamos vivendo um momento delicado no turismo, e penso que também pela descontinuidade de governo. O Pará é o único Estado que possui um plano de marketing nesse sentido. Foi feito pela Chias Marketing, que é uma empresa espanhola com braço no Brasil, a mesma do plano de marketing da Espanha e Peru. Ela trabalha com levantamento de imagem, uma das mais conceituadas do mundo”, apontou.

“É só eles [governo] pegarem o plano e continuarem executando. O turismo se faz paulatinamente. Não adianta achar que vão mudar o mundo, que acharam a receita do bolo, porque já está pronta há muito tempo, só que não é cumprida”, declarou a vice-presidente da Abav-PA. “O trabalho é uma cadeia, não adianta querer desenvolver individualmente que não funciona”, sinalizou, queixando-se ainda da “dificuldade de falar com o secretário do setor de Turismo, o que é inaceitável”.

ABBTUR ESPERA “SERIEDADE”

O presidente da Associação Brasileira de Bacharéis e Profissionais do Turismo (ABBTUR) – Seção Pará, João Gabriel Pinheiro Huffner, afirmou que a “fusão da Setur com a Sedeme só aconteceu de boca”. “Até agora continua da mesma forma que o governo passado deixou. Não tem nenhum projeto apresentado no Fórum Estadual de Turismo para que depois seja encaminhado à Assembleia Legislativa”, lamentou.

“O turismo tem que ser visto com seriedade, principalmente no que diz respeito à captação de recursos federais, sendo que para isso é necessário que os municípios, com apoio da Setur ou secretaria que a represente, façam parte do Mapa do Turismo Brasileiro, que é um projeto do Programa Nacional de Regionalização do Turismo, ao qual só concorrem a recursos federais os municípios que fazem parte do Mapa”, apontou. “Em 2018, o governo do Estado conseguiu emplacar 129 municípios no referido Mapa, e significa que, se não houver um empenho governamental, em 2019 esse número de municípios poderá cair drasticamente, prejudicando tais localidades”, alertou ainda Huffner.

Ele ressaltou que “é coerente observarmos que o governo está iniciando, e toda proposta ainda passará por análises, implantações, correções e finalização. Com isso, deve-se compreender que é cedo para aferimos se as propostas serão assertivas ou não”, ponderou.

“Contudo, salientamos que houve sensibilidade do governador Helder [Barbalho] em não extinguir a Setur, ainda que esteja aglutinada a outra secretaria. O governador e sua equipe demonstraram total interesse para com o turismo, e tudo o que representa social e economicamente ao Pará, principalmente ao interior do Estado”, analisou o presidente. “Apesar de não termos condições de avaliar três meses de trabalho, esperamos que o governo leve a sério o setor de turismo, aumentando o orçamento para a Setur, que hoje não dá para investir e praticamente só paga o custeio da máquina”.

Fonte: Portal Roma News

2 comentários em “Falta de estratégia governamental e de políticas públicas emperra o turismo no Pará

  • 2 de abril de 2019 em 09:14
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    Falta de tratamento do esgoto em Alter do Chão e o fato de não ter aeroporto para grandes aviões na ilha de Marajó mostra e prova o total desprezo das nossas elites em investimentos em turismo .

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  • 1 de abril de 2019 em 16:15
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    Tenho certeza de que depois da veiculação do Globo repórter da sexta feira retrasada sobre Santarém,Alter do Chão e Brlterra, o Turismo daqui vai alavancar pelo mundo a fora.

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