Pra que estudar essas tais Ciências Humanas e Sociais?

*Oswaldo Vasconcelos Bezerra

O governo anunciou, em vinte e seis de abril deste ano, cortes orçamentários nas faculdades de Ciências Humanas e Sociais. Na ocasião, o presidente enfatizou que estas áreas do conhecimento são inúteis para formação de ofício, geração de renda e de bem estar para as pessoas. Mas, afinal pra que serve então Ciências Humanas e Sociais. Das muitas utilidades destas Ciências destaca-se a da formação do “pensamento crítico”.

Pensamento crítico é um julgar e refletir sobre escolhas a fazer, levando em consideração uma observação ou experiência. E, claro, não sermos feitos de bobos. O governa por vezes tenta implementar ações onde bastaria um pensamento crítico para determinar sua incoerência. Talvez, por isso, o desmantelamento das Ciências Humanas e Sociais seja um projeto pra manipular mais facilmente a população. Infelizmente, nos últimos anos, o Brasil se afastou tanto do “pensamento crítico” que em uma reportagem recente no maior jornal francês, o “Le Monde”, sinalizou que o Brasil está se tornando uma “idiocracia“, referência ao filme que levava este nome, que se passava em um país de idiotas.

Continuaremos a ser os índios que trocavam ouro por espelhinhos, ou estudaremos Ciências Humanas e Sociais? Falando em recursos, temos dentro das Ciências Humanas uma área de conhecimento das mais importantes para o país: a Geografia. Quando um guru do governo afirma que a terra é plana nos preocupa o saber desta administração, para o aproveitamento dos nossas recursos naturais. Assim assistimos de braços cruzados a aprovação da MP da Shell (Medida Provisória 795/2017) que deu, às empresas estrangeiras de petróleo, 1 trilhão em isenção fiscal e eliminação de 1 milhão de empregos para brasileiros, além do fim dos royalties para educação e saúde.

Direito e Economia também fazem parte das Ciências Humanas. Quando casadas geram obras excepcionais de “Direito Econômico” tal qual o livro de Octaviani & Nohara denominado “Estatais”. O livro é sobre as Estatais que nós brasileiros aprendemos a odiar por causa do mau atendimento aos clientes, por funcionários sem vocação para o serviço, trabalhando apenas por estabilidade, por causa do loteamento político e uso das estatais como meio de corrupção. Mas, principalmente, odiamos as estatais por causa da desinformação passada pelos formadores de opiniões.

Recentemente, o Estadão (dezembro 2018), Globo (janeiro de 2019) e depois copiadas por toda mídia brasileira, apresentaram reportagens intituladas “Brasil é campeão mundial em números de estatais…” Nesta reportagem afirmava-se que, mesmo depois da onda de privatização dos anos 90, seriamos o país com mais estatais no mundo. O livro “Estatais” nos mostram informações diversas do que diz nossa imprensa liberal. Afinal as empresas estatais são um fenômeno mundial ou coisas de comunista? O país que mais encoraja outros países a privatizar, os EUA, mesmo sendo a “meca” do capitalismo, possuem cerca de 7 mil empresas estatais. A China comunista, com a economia mais poderosa do mundo, possui 150 mil estatais, uma delas tem 1 milhão de funcionários. A Alemanha possui 15 mil empresas estatais. Algumas empresas como Volkswagen, Peugeot e Renaut não passam de estatais. Estas são as economias mais fortes do mundo. O Brasil possui apenas 134 estatais federais.

A própria Ciência Social já nos mostrou contradições ao governo e a mídia quanto a perda de direitos trabalhista e capitalização da previdência que seriam muito ótimos pra todos nós. Os países onde foram adotados ocorreu o caos social principalmente com idosos, com número recorde de suicídios no Chile e prostituição de idosas na Coréia do Sul.

Por falar em números, temos a Contabilidade que se enquadra nas chamadas Ciências Sociais. Nesta área temos outro exemplo de ação que tenta se aproveitar da falta de pensamento crítico do brasileiro. Foi quando da votação para criação do estado do Tapajós. Veio em forma de pesquisa encomendada pela Globo a um funcionário do IPEA, dando assim ares de ciência oficial. Nesta pesquisa se afirmou que o PIB do futuro estado do Tapajós seria de apenas 4,6 bilhões de reais, e que a arrecadação deste estado seria de pífios 1,6 bilhão anuais, sendo que o custo do estado seria de 2,6 bilhões anuais.

Esta pesquisa praticamente enterrou a criação do estado do Tapajós, junto com a população de Belém, é claro. Mas pergunte se o mocorongo sabe contar, se depender das medalhas na olimpíada internacional de matemática ganhas por uma escola municipal de Santarém, o mocorongo conta e muito bem. Em levantamento com dados reais, o PIB do que seria o estado do Tapajós seria em torno de 17.2 bilhões, maior do que alguns outros estados. O custo do Tapajós não ultrapassaria 1,6 bilhão anual, e a arrecadação seria em torno de 2,6 bilhão. Números muito diferentes do apresentado pelo “IPEA”.

Nossa falta de pensamento crítico faz com que não questionemos a realidade e a veracidade dos fatos ao que a mídia nos apresenta. Isso está nos tornando meros reprodutores de idéias não analisadas. Assim estamos assistindo no Brasil, de braços cruzados ou aplaudindo, a maior desindustrialização da economia que o mundo já viu. Nos tornamos um país onde juiz trama com procurador procedimentos de interferência política e derrubada de governos, como se fosse coisa normal. Só o pensamento crítico nos levará ao pragmatismo, que significa uso de doutrina de bom êxito.

Pragmatismo é Filosofia, mais uma das Ciências Humanas. O país mais bem sucedido hoje usa a “filosofia do pragmatismo” para se desenvolver. Apesar da mídia sempre enfatizar a política de livre comércio de Cingapura, ela não divulga que 22% do PIB do país vem de empresas públicas e que 90% das terras do país são de propriedade do governo. É um livre comércio com socialismo. Não importa a ideologia e sim o crescimento, o desenvolvimento econômico  e o bem estar do país, que só uma população com pensamento crítico faz florescer.

 *É Geólogo pela UFPA e Mestre em “Administração e Política de Recursos Minerais” pela UNICAMP.

RG 15 / O Impacto

 

4 comentários em “Pra que estudar essas tais Ciências Humanas e Sociais?

  • 12 de junho de 2019 em 09:25
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    Interessante como os adoradores do marreco de Curitiba ficaram com raiva de quem abriu os olhos deles. E, no final das contas, a balbúrdia acontecia no judiciário e não nas universidades……kkkkkk

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  • 11 de junho de 2019 em 16:59
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    Pensamento crítico mas somente do ponto de vista de um comunista, que aliás não tem discernimento pra chegar à conclusão que o marxismo faliu, que aliás não aceita pensamento crítico ! Que , quando entregue nas mãos de funcionários públicos desmotivados, com a sua ambição de progresso cortada pelo estado, leva uma Cuba, outrora 2ª produtora de cana no mundo, hoje é 8ª, à estagnação; com agricultores recebendo um salário de 10 dólares, torna-os uns autômatos, pois sabem que nunca serão proprietários, serão sempre escravos do ditador de plantão. E ai do aluno que ousar discordar do professor barbudo em uma dessas faculdades de filosofia, será tachado de reacionário, de vassalo do americano, será perseguido, não obstante o claro exemplo da falência total da Venezuela, agora exportadora de miseráveis, de doentes para seus vizinhos, com seu povo comendo lixo !!!

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