Acidente com elevador que matou eletricista expõe possível precarização nas relações de trabalho em construções civis

Quem esteve presente na residência localizada na rua 31 de Maio, no bairro Santarenzinho, na tarde de quarta-feira(24), presenciou o clima de tristeza e comoção que tomou conta dos familiares e amigos de Junio Clesio Morais Costa, vítima do trágico acidente.

Debruçada sobre o caixão, carregando uma das netas no braço – filha de Junio -, a mãe do eletricista em prantos inconsoláveis lembra que ela foi à última pessoa da família que esteve com ele antes do acidente fatal.

As explicações sobre o que aconteceu no final da manhã de quarta se disseminaram com várias versões, que só terão uma conclusão após as investigações, a cargo da Polícia Civil, que contará com os laudos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves.

Todos são unânimes em afirmar que o eletricista tinha como principal característica a responsabilidade, tanto com a família, quanto com o trabalho. Esforçado e dedicado, vinha conseguindo superar os obstáculos da falta de emprego formal, prestando serviço como autônomo.

Segundo a família, há pelo menos três anos Junio realizava serviços por obra, popularmente conhecido como “empreita” para o engenheiro civil Edilson Pimentel, ex-secretário de infraestrutura de Santarém.

“Ele saia pela manhã para trabalhar em serviços de instalação predial elétrica, que é a formação dele, para uma empresa de engenharia. Ele trabalhava com o mesmo engenheiro há uns três anos ou mais. São várias obras. Esse engenheiro pega várias obras e fazia o pacote com ele para fechar o serviço de instalação elétrica. É por obra. Não sabemos se ele assinava algum tipo de contrato. Mas ele sempre prestou serviço como pessoa física para esse engenheiro”, informou a nossa reportagem, Ádria Gisele Morais Costa, irmã de Junio Clesio.

MAIS UMA POSSÍVEL VÍTIMA DA INFORMALIDADE: Conforme relato da família do eletricista, o mesmo trabalhou na obra da residência de três pavimentos onde o acidente aconteceu. “Ele fez toda a instalação da obra. Ele era contratado diretamente pelo engenheiro, mas eu não sei se tinha contrato escrito e assinado. Mas ele sempre trabalhou com esse engenheiro, fazendo serviços de instalações. Tem até um áudio onde eles estavam combinando. Que iriam colocar os elevadores e era para ele ver a questão dos pontos e fase da energia. Ai ele disse que ia cedo lá primeiro, e depois ir para outro serviço”, disse Ádria.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) deve ser acionado para averiguar a relação de trabalho existente entre o eletricista e o engenheiro Edilson Pimentel. Até o fechamento dessa matéria não se tinha informação sobre a condição trabalhista da vítima com seu contratante. Porém, é histórico e tornou-se mais frequente nos últimos anos, os casos em que trabalhadores da indústria da construção civil são contratados como autônomos, sem qualquer garantia, como por exemplo, em caso de acidente ou morte, que os familiares possam ter acesso as indenizações.

No caso do acidente de trabalho que tirou a vida de Junio Clesio, as imagens do local demonstraram sobre tudo à insegurança do ambiente, sem utilização de EPI’s e falta de sinalização e barreira de restrição da área onde o elevador estava sendo instalado. Tal situação parece a cada dia se tornar mais intrínseca nessa relação de trabalho.

O ACIDENTE: No final da manhã de quarta-feira (24), um elevador despencou em um imóvel na Rua Cel. Joaquim Braga e atingiu o eletricista Junio Clesio, de 33 anos, que morreu ainda no local. De acordo com informações o elevador estava em processo de instalação. Ele estava na parte de baixo do ‘poço’, enquanto outros trabalhadores faziam ajustes na parte de cima. A rápida queda não deu tempo para que Junio conseguisse sair do local.

Segundo o coordenador do Samu 192, Josiel Colares, o trabalhador foi atingido no pescoço. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o elevador é pequeno – aproximadamente 1m x 1m – e não tinha fundo.

RG 15 / O Impacto

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