Sem infraestrutura e com pouco apoio, Campeonato Santareno de Futebol Feminino busca revelar talentos

A Liga Esportiva de Santarém (LES) abriu no domingo, dia 29, o Campeonato Santareno de Futebol Feminino. A competição, que nesta temporada envolve sete equipes, é uma das poucas voltadas para as mulheres nesta modalidade esportiva em Santarém. Alias a falta de apoio a campeonatos assim é um dos maiores problemas encontrados na cidade.

As dificuldades, no entanto, não desanimam essas atletas, que amam o esporte e sonham em quem sabe se profissionalizarem. Entre trabalho, família e até mesmo faculdade, essas mulheres – muitas até de cidades vizinhas – arranjam tempo para se dedicarem ao esporte, mesmo que sem retorno algum.

O campeonato santareno feminino está sendo disputado por sete equipes: São Francisco , Tapajós , Santo André, Flamengo, América, Alter do Chão e Arsenal. As quatro melhores equipes da primeira fase avançam para as semifinais, que serão realizadas em partida única.

SEM TEMPO PARA TREINAMENTOS

O atual campeão da competição é o time do Santo André, que busca o bicampeonato de forma consecutiva. De acordo com o diretor de futebol da equipe, Arlindo Gonçalves, a montagem de um elenco para o campeonato não foi nada fácil, tendo em vista a rotina das jogadoras e a falta de apoio e patrocínio para a realização de coisas básicas de uma equipe, como treinamento.

“Toda competição é aquele nervosismo, o que pode acontecer nos jogos, mas estamos confiantes em fazer um bom campeonato e sair de campo com as vitórias. Não temos tempo para treinar, a gente marca com as atletas – que já conhecem bem suas funções – e define como elas têm que jogar, porque treinamento mesmo, em Santarém, é algo muito complicado. Por que isso? Falta de apoio. Temos jogadores de todos os cantos da cidade e fica difícil de reuni-las no meio da semana, porque a maioria trabalha, tem família. Mas vamos levando no esforço e na vontade”, comenta Arlindo Gonçalves, diretor de futebol do time do Santo André.

Para a atacante Mayara, do Santo André, a falta de patrocínio e apoio faz com que o esporte seja apenas um hobby e paixão, pois retorno não há. Para conseguir se manter no dia a dia, as jogadoras têm que se desdobrar entre trabalho, família e estudo, deixando o futebol apenas para os fins de semana – ainda que seja uma competição.

“Graças a Deus estamos iniciando mais um campeonato, esperamos que seja uma competição brilhante e com um futebol limpo. Com relação ao treino, é um pouco difícil porque trabalhamos, temos faculdade e muitas outras coisas. O pouco tempo que a gente tem a gente tenta se reunir, mas às vezes dá só para algumas e não para outras. Mas assim a gente vai tentando chegar nos nossos objetivos”, comenta Mayara.

DIFÍCIL MONTAGEM DE ELENCO

A montagem dos elencos é outro grande problema. O time do Flamengo, por exemplo, tem apenas 15 jogadoras – o ideal é pelo menos 18 – em seu plantel, que foi montado a muito custo. Segundo o coordenador da equipe, mesmo com um número reduzido de atletas, o time deve participar do certame até onde der.

“Demoramos em arranjar essa equipe para o Campeonato. A dificuldade é muito grande para montar equipes assim, mas ainda bem que conseguimos, com apoio de um e de outro, 15 jogadoras. Esperamos que dê tudo certo, elas estão com vontade de jogar e vamos ver no que isso vai dar”, disse Antônio Sousa, Coordenador do Flamengo.

Para montar suas respectivas equipes, muitos times tentam trazer atletas de outras cidades, que vêm para Santarém nos fins de semana exclusivamente para jogos do Campeonato Santareno. Josi Almeirim – sua cidade natal – é um desses exemplos. Segundo ela, mesmo se tratando de esporte amador, existe uma disparidade de apoio e patrocínio muito grande em comparação com os homens.

“Nós enfrentamos muitas dificuldades, porque o futebol feminino é muito largado para trás, enquanto o masculino tem até mais apoio. É assim, mas fazemos isso porque gostamos mesmo”, Josi Almeirim, meio campo do Flamengo.

De acordo com o Presidente da Liga Esportiva de Santarém (LES), Sandicley Monte, competições de futebol feminino devem ser mais encorajadas. No entanto, o que se vê ainda é algo muito pequeno e sem muitos apoiadores, ainda que a LES tente dar o melhor suporte possível para as equipes. Segundo ele, a modalidade vive um bom momento em nível de Brasil e Santarém deve seguir neste caminho também.

“Se fazer futebol masculino por aqui já é algo cheio de dificuldades, o futebol feminino é mais difícil ainda. Mas sabemos também que atualmente o futebol feminino está mais ‘na moda’ e tem que se fazer um trabalho voltado para isso e Santarém não pode ficar de fora. O nosso pensamento é de manter o futebol feminino, mesmo sabendo das dificuldades, não apenas a da Liga, que já é grande, mas de cada clube em manter uma equipe. Não é fácil, é caro, mas temos que manter esse pessoal e não deixar a motivação cair, vamos manter esse campeonato e esperamos que ano que vem seja ainda melhor e mais organizado”, afirma Sandicley Monte, presidente da Liga Esportiva de Santarém.

PRECARIZAÇÃO DO FUTEBOL FEMININO

Um fator importante que dificulta a expansão e evolução do futebol feminino no Brasil é a falta de investimentos e incentivos, tanto por parte de órgãos governamentais quanto por parte de clubes de futebol.

Apesar de o Brasil ser um dos países latino-americanos que mais investe em esportes e em seus praticantes, são constantes as reclamações de falta de apoio financeiro por parte de atletas, que são forçados a realizar outros trabalhos para complementação de renda e, até, custear treinos e viagens para competições. No caso do futebol feminino, essa realidade não é diferente, e é, inclusive, intensificada.

 

Por Michael Douglas

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