Artigo – A Evonomia: A Espetacular Política Econômica do Índio

Por Oswaldo Bezerra

Nos últimos 14 anos um país saiu do patamar de mais pobre da América Latina para se tornar a experiência econômica, social e política que causou espanto e admiração em todo o mundo. Como se deu o sucesso desse país que, historicamente, se caracterizava por mudanças bruscas e violentas de governos, mas evoluiu para uma Economia próspera, com substancial melhora na distribuição progressiva da renda? Tudo isso aconteceu sobe a visão Econômica de um índio, Evo Morales da Bolívia.

As eleições na Bolívia se aproximam (no próximo domingo, 20 de outubro). Evo Morales, do partido “O Movimento ao Socialismo”, está na busca de consolidar o que já mostram as pesquisas. Ele busca também quer implementar de vez o seu modelo a “Evonomia”. Os extraordinários resultados econômicos (Evonomia) são o principal cabo eleitoral do índio. O país das “salteñas” registra este ano o décimo quinto contínuo de crescimento, a uma média anual de 5%, já é o maior ciclo contínuo de crescimento econômico da história.

Evo sabe que não conseguirá repetir o resultado de 2014 (63% dos votos), mas ele conta com três fatores. A maioria da população continua a aprovar a gestão do governo. Evo ainda é “a figura” política da Bolívia. O fabuloso ciclo econômico que perdura. Os maiores entraves de Evo hoje na política vem do Brasil. O governo brasileiro quer barrar ou adiar a entrada da Bolívia no Mercosul. A oposição boliviana afirmou que tem o apoio do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que prometeu pressionar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para barrar a candidatura de Evo Morales.

A Evonomia (política econômica de Evo Morales) iniciou em 2006, naquele ano a Bolívia já debutou no grupo de países cuja Economia era estável e de crescimento sustentado. Evo Morales combinou uma forte intervenção estatal (nacionalização) em áreas estratégicas, como gás e eletricidade, e uma poderosa aliança com o setor privado da agricultura, indústria, comércio e finanças. Também houve acordo com as pequenas e médias empresas artesanais e comerciais, empregadora de 60% da força de trabalho.

O Estado boliviano começou a participar (como conselheiro e administrador) das atividades que geram excedentes. Quem gera excedentes na Bolívia são as empresas de petróleo, mineração e eletricidade. A “Evonomia” faz com que o Estado se aproprie do superavit, e transfira os recursos para setores produtivos geradores de renda e emprego. Estas atividades são a fabricação, atividade agrícola, construção, turismo. Cria-se assim uma redistribuição de renda que expande a demanda doméstica.

Durante o neoliberalismo boliviano, dominante na América Latina nos anos 90, os superavits acabavam por fugir da economia doméstica por causa de, principalmente, remessas de lucros ao exterior através das multinacionais que atuavam em setores estratégicos dos recursos naturais.

O Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag) calculou que a política nacionalista das áreas estratégicas gerou uma receita interna de 74 bilhões de dólares (só do valor que escapava do país), equivalente a dois PIB, além disso, este valor acabava por criar 670.000 novos empregos por ano.

Nós latinos tivemos ciclos excelentes com altos preços das matérias-primas que exportávamos. Diferentemente de outras países em que essas receitas estavam fugindo para o exterior (como remessas de lucros), Evo Morales não apenas nacionalizou o superavit, o índio também o reorientou para o mercado doméstico, com três critérios.

Primeiro, industrializou as matérias-primas. Segundo, promoveu atividades do mercado interno para geração de renda e empregos. Por fim, corrigiu a fenda social. A correção da fenda social fez com que, de acordo com os parâmetros do Banco Mundial, a Bolívia passou a ser um país de renda média. A pobreza extrema caiu de 38% para 18%, e nos principais centros urbanos diminuiu para 10% da população.

A Bolívia triplicou a renda per capita e a inflação e a taxa de câmbio permaneceram estáveis. Os níveis de desigualdade, que estavam bem acima da média latino-americana, agora estão bem abaixo da média. O país cresceu duas vezes a taxa média na América Latina.

Para a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o motor do crescimento do PIB na Bolívia foi o investimento público, e a expansão do consumo. A era Evo também deve muito a seu ministro da economia Luis Arce Catacora é considerado uma das principais figuras da economia. Luis Arce toma como alicerce o macro balanceamento econômico. Ele defende que o programa monetário e fiscal seja elaborado pelo Ministério da Economia e pelo Banco Central, e não pelo Fundo Monetário Internacional, como no passado.

Uma das grandes conquistas de Catacora foi a desdolarização ou, expressa em termos econômicos nacionais, a bolivianização da economia. No início do século XXI, apenas 3% dos depósitos no sistema financeiro eram em moeda nacional e o restante em dólares. Hoje é o inverso.

A estratégia de bolivianização do sistema financeiro incentivou a demanda doméstica que levou ao ciclo de crescimento contínuo mais importante da história do país. A Evonomia foi capaz de sustentá-lo, apesar da crise econômica na Argentina e no Brasil, as duas potências latino-americanas que nos últimos anos caíram novamente na experiência do neoliberalismo.

O ministro de Minas, César Navarro Miranda, enfatiza sobre sobrevivência da Evonomia à onda neoliberal, é que o país está consolidado no “Estado Plurinacional” e está com a uma economia diversificada, mas com intervenção do estado e a produção e as riquezas estão distribuídas e a democracia está integral.

A Bolívia preferiu seguir o caminho do pragmatismo e demonstrou que, dessa forma, está em condições de apresentar melhores resultados. O processo constituinte boliviano ocorreu “de baixo para cima” e é marcado pela participação popular (povos indígenas, campesinos e trabalhadores) como protagonistas, em busca de anseios populares.

É fato que não existe mais socialismo puro, nem tão pouco capitalismo puro. A queda da União soviética decretou o fim do socialismo puro. A crise de 2018 descretou o fim do capitalismo puro. Hoje as economias que mais fortes do mundo se utilizam de capitalismo privado e de estado e uma forte intervenção estatal. A Evonomia está ai para provar isso.

RG 15 / O Impacto

 

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