Artigo – Na Era da Mentira Surge a Deepfake, as video montagens ultra-falsas

Por Oswaldo Bezerra

A humanidade passou pela idade da pedra e pela idade do bronze. Tivemos a idade do Renascentismo, onde experimentamos uma rápida evolução humana, mas também passamos por uma terrivelmente negativa denominada Era das Trevas. Ao que parece, hoje estamos vivendo a Era da Mentira. Muito comum no dia a dia, em todas as famílias, pessoas empunhando o celular, como se fosse uma bíblia, e enfatizar, com certeza absoluta, fatos inverídicos, só por que testemunharam em suas redes sociais.

Em pleno almoço, em comemoração ao Círio de Nazaré, vi parentes, com celular em punho, mostrando vídeos que desmascaravam navios venezuelanos derramando petróleo nas beiras das praias do nordeste. Outro, deveras aborrecido com o filho do Lula que estaria mandando atear fogo nos ônibus de Fortaleza. Filho de Lula, cujo um antigo amigo meu lá de Belém, hoje professor da rede pública, afirma ter no whatsapp provas cabais de que ele (o Lulinha) é dono de 75% das terras do Pará.

Quando se mostram os sites especializados em verificação de notícias falsas, como a Agência Lupa, por exemplo, um outro parente logo rebate: como saber se esta tal “Lupa” não propaga investigação falsa? A reposta é usar de pensamento crítico? Usar pensamento crítico também vem se tornando difícil quando o bombardeamento de informações falsas é ininterrupto e usado de forma pragmática.

E a situação pode piorar como o surgimento das deepfakes (montagens de vídeo ultra-falsas). No Brasil as deepfakes foram amplamente divulgadas no canal do youtuber Bruno Sartori. Ele faz vídeo montagens de comédia com o presidente Jair Bolsonaro, ao menos explica isso no canal dele. Nos vídeos você vê a imagem real da pessoa e ouve sua voz real. A tecnologia para a criação de deepfakes é aperfeiçoada continuamente, enquanto as ferramentas para detectá-las são praticamente inexistentes.

Estamos preparados para combater esse grave problema do mundo moderno? Desmascarar a desinformação é cada vez mais difícil. Foi assim, por exemplo, que a Cambridge Analytica se utilizou para interferir em eleições no mundo todo. As deepfakes ainda não podem ser facilmente detectados por outros algoritmos.

Segundo Barbara Perina, especialista em Ciência da Computação, a evolução tecnológica torna mais difícil saber se algo é real ou não. A especialista revela a possibilidade de se fazer análise estatística do material, mas leva tempo. Segundo ela, estudar minuciosamente a legitimidade de um vídeo pode demorar um dia inteiro. Isso é tempo suficiente para que as imagens se tornem virais e consigam seu efeito psicológico na população.

A especialista também considera que a implementação de Leis para regulamentar o uso de deepfakes não seriam efetivas, pois seria necessário que, por exemplo, o MPF ou STF tivessem conhecimento profundo do assunto na questão. Barbara prega que a prioridade é destinar esforço e investimentos para o desenvolvimento de tecnologia anti-falsificação.

Daí a necessidade de colaborações de pesquisadores universitários com recursos governamentais, e parceria do setor privado da indústria e empresas de mídia social. Só assim poderíamos alcançar uma melhor detecção da manipulação de vídeo e garantir que esses sistemas possam integrar plataformas online. A Amber, uma verificadora de vídeo especializada em detectar montagens, também acredita que regular a criação de ultra-falsificações é impossível. No entanto, sugere a necessidade de se haver um estatuto que verse sobre supervisão editorial de conteúdo pelas redes sociais.

Vídeos ultra-falsos podem ser usados ​​para bons propósitos, como a criação de filmes com estrelas de cinema já falecidas ou para o humor. No entanto, esta tecnologia pode e já está sendo muito explorada para gerar turbulência política. Vídeos falsos, assim como notícias falsas, podem ser usados ​​para afastar cada vez mais os membros da sociedade.

A empresa de segurança cibernética LGMS, já alertou que as ultra falsificações de políticos, cujas imagens podem ser facilmente falsificadas, uma vez que existem muitas imagens na Internet, podem levar ao caos internacional como, por exemplo, uma declaração falsa de guerra.

A empresa de tecnologia americana NVIDIA divulgou, recentemente, que é capaz de gerar imagens independentes de pessoas falsas. É baseado em uma coleção infinita de imagens de rostos reais. Criminosos podem usar essas imagens para provocações que só podem ser detectadas por uma sociedade que desfruta de conhecimento.

Com certeza veremos muito mais (ultrafalsificações) nos períodos antes das eleições presidenciais. Além disso, começam os primeiros casos pornográficos. Nestes vídeos celebridades são retratadas em situações pornográficas, ou vingança de ex-namorados. Deepfake quase ocasionou um golpe de estado no Gabão por causa de um falso vídeo. O desafio é onde a liberdade de expressão termina e onde esse tipo de conteúdo começa a ser regulamentado. É muito sensível e muito difícil para um ser humano lutar contra uma máquina nessa situação.

A mentira, a calúnia e a manipulação sempre existiram na história humana. Como eram propagadas, na maioria das vezes, você ainda tinha a opção de acreditar ou não através do seu raciocínio. A tecnologia, através da análise psicológica de cada indivíduo em redes sociais, faz com que você não tenha a escolha de discordar da informação. O motivo é a grande quantidade de evidências (mesmo que falsas) e o ambiente criado para facilitar a sua aceitação, agora reforçados com inteligência artificial e video montagens ultra falsas.

Não temos certeza se as altas cortes de justiça irão mesmo interferir nestes assuntos, uma vez que esta classe sempre é a grande beneficiada nos governos corporocráticos (executivo representante das grandes corporações). Resta a sociedade civil pressionar o governo a coibir este novo instrumento de ilusão de massas.

RG 15 / O Impacto

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