Opinião – As pessoas toleram no homem o que é fortemente condenado na mulher

Por Isabelle Maciel*

Em uma das minhas leituras sobre feminismo e suas vertentes, encontrei um tema que me chamou atenção e resolvi escrever esse texto a partir dele e também utilizá-lo como título. Afinal ele é uma das maiores verdades que já li em minha vida, resumindo: homens nascem livres e mulheres nascem tendo que obedecer inúmeras regras.

Desde crianças muitas de nós, ou todas, crescem ouvindo a famosa frase “comporte-se como uma mocinha”, e isso já nos fazia saber como deveríamos sentar, andar, falar, vestir, sorrir, agir… E então se você se atentasse mais um pouco ao seu redor, iria perceber que nenhum dos garotos ouvia “comporte-se como um mocinho”. O fato é que desde muito cedo nós aprendemos a seguir regras para sermos “aceitas” como mulher, enquanto eles podem seguir livremente suas vontades sem julgamentos.

Não importa a idade e nem seu estado civil, em algum momento na sua “vida feminina” você será questionada, julgada, condenada ou repreendida por fazer ou ser algo, que os homens têm total liberdade para realizar. Como por exemplo, quando criança já citei o “seja mocinha”, mas também muitas passam pela situação de desde cedo cuidarem dos afazeres da casa enquanto seus irmãos brincam na rua, e quando elas também querem brincar não podem, pois isso seria coisa de menino e menina tem que ficar cuidando da casa.

E conforme vamos crescendo as coisas vão piorando, pois, a cada idade completada a necessidade de liberdade aumenta, e muitas lutam e conseguem viver suas vontades, e aí a bola da vez são as mulheres solteiras. Elas não podem ir para balada e curtir a noite bebendo o que quiserem sem serem de taxadas de “piriguetes” ou de mulheres que não servem para namorar, mas eles podem fazer isso e muito mais, pois é “coisa de homem” mesmo. Elas não podem nessa mesma balada ou durante a semana ficar com vários caras pois, isso não é coisa que uma “mulher direita” faça, mas eles podem até porque está no “extinto masculino”. Bom, esses são apenas dois exemplos dos inúmeros julgamentos as solteiras, e se você que está lendo é uma delas, deve estar lembrando agora de algum “comentário” que teve que ouvir por simplesmente está fazendo algo que é “normal” um homem fazer, mas você não deveria.

Se por um lado as solteiras são julgadas de que nunca vão “arrumar um homem” devido seus comportamentos, como se nosso principal objetivo na vida fosse ter um “macho”, do outro lado temos as comprometidas, sejam elas namoradas ou esposas, que segundo “a teoria das que não servem” já tem um homem e estaria isenta dos julgamentos. Mas não, o que muda nelas é o estado civil e a forma como vão apontar o dedo, elas não podem, por exemplo, sair para ir na esquina sem serem questionadas se o marido sabe que ela está ali ou deixou sair, mas eles podem estar em vários lugares sem serem perguntados de suas esposas ou namoradas. Elas não podem postar uma foto mais sensual ou com algum decote nas redes sociais que já recebem comentários dizendo que “o fulano” não vai gostar de ver, mas eles podem postar foto sem camisa que ninguém vá lá repreender e lembrar ele que tem alguém que pode não gostar. Enfim, você que está lendo e é comprometida sabe que isso é pouco perto do que falam ou fazem.

Outras mulheres que também enfrentam essa barra são as mães, sejam solteiras ou comprometidas, parece que essas principalmente devem “se privar” de suas vontades e se dedicarem apenas ao filho, a gente sabe que as coisas não são assim e todas precisam viver para si também. Elas não podem sair com as amigas que uma hora ou outra vão ouvir que tiveram a “coragem” de deixar a criança em casa para se divertir, mas eles podem sair para “tomar uma” com os amigos sem ao menos serem lembrados que têm uma criança em casa os esperando. Elas não podem desabafar que estão muita cansadas da vida de “ser mãe” que logo ouvem que procuraram por isso ou que toda mulher nasceu para isso, mas eles podem reclamar e receber ajuda pois, homens não têm tanta responsabilidade em cuidar da criança já que isso é tarefa do “ser mãe”. E novamente isso é só parte do que as mulheres que são mães têm que lidar durante um bom tempo ou toda vida.

Resolvi listar alguns exemplos de como somos julgadas e repreendidas em diferentes fases de nossas vidas por nossas escolhas e comportamentos, e não temos para onde correr (aquelas que tentam fugir disso), por isso aconselho a você mulher continuar sendo quem é, e não mudar para agradar ou ser uma “mocinha” de verdade. Nós vivemos em uma sociedade que tolera todos os tipos de comportamentos e atos dos homens, enquanto nós, mulheres, espera-se que sejamos puras, obedientes e virgens até o casamento… Há muito tempo vivíamos sobre muitas restrições e nossa única opção infelizmente era realmente seguir as regras, mas isso mudou mulherada, nossas antecessoras lutaram e conquistaram nossa liberdade e isso não devemos deixar ninguém nos tirar.

É claro que ainda temos muito há conquistar, mas ser livre é algo que qualquer mulher pode e deve ser. Vamos seguir os ensinamentos da maravilhosa filósofa Rosa Luxemburgo: Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.

* É Jornalista

RG 15 / O Impacto

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