Artigo – Política econômica excludente, campanha de ódio e polarização da sociedade, como os EUA nos mostram que isso pode esfacelar um país

Por Oswaldo Bezerra

Nos últimos anos, muitos alertaram que poderia acontecer. A política, a grande mídia, a máquina de Fake News, e muitos líderes nacionais têm acendido as chamas do ódio, da raiva, da frustração e da divisão. Sabíamos que era apenas uma questão de tempo para testemunharmos uma erupção de violência de grande magnitude.

Na última semana, vimos protestos em pelo menos 145 cidades norte-americanas. Os relatos de tumultos, saques e violência ocorrem nestas cidades de forma estarrecedora. Em pelo menos 40 delas foi imposto o toque de recolher, e a Guarda Nacional foi ativada em pelo menos 15 estados e pelo menos 4.100 pessoas foram presas.

No domingo à noite, a violência em Washington D.C. ficou tão alarmante que o presidente Trump foi levado às pressas para um abrigo secreto sob a Casa Branca. Segundo informações, agentes secretos levaram Trump ao Centro Presidencial de Operações de Emergência (PEOC). É o mesmo abrigo que foi usado após os ataques terroristas de 11 de setembro. Ele é equipado com túneis secretos.

Trump foi transferido para o bunker, um pouco antes que mais de 50 agentes do Serviço Secreto fossem brutalmente feridos, como resultado dos violentos protestos ao redor da Casa Branca. Trump foi guarnecido no subsolo abaixo da ala leste da Casa Branca, mas sua localização exata é mantida em segredo. Os arredores da Casa Branca foram destruídos. A energia da sede do governo norte-americano foi cortada pelos manifestantes .

Não é usual que manifestantes possam ferir tantos oficiais do Serviço Secreto. Isso apenas mostra o quanto as coisas mudaram. Visitei D.C. em 1984. Havia uma quantidade enorme de respeito pela Casa Branca, e todos entendiam que qualquer um que tentasse violar a Casa Branca seria tratado com muita severidade.

Qualquer pessoa que atacasse um agente do Serviço Secreto se arrependeria profundamente, pois assinaria sua sentença de morte. Hoje o ódio foi tanto que permitiu uma situação em que dezenas de agentes do Serviço Secreto fossem feridos. Até o fim de semana, mais de 60 oficiais sofreram vários ferimentos por tijolos, pedras, garrafas, fogos de artifício e outros itens lançados contra eles. Alguns foram diretamente agredidos fisicamente com chutes e até facadas. Do total, 11 agentes feridas foram levados a um hospital local devido a ferimentos graves.

Alguns manifestantes resolveram enfrentar a Guarda Nacional no icônico Lincoln Memorial em Washington DC e no Memorial Nacional da Segunda Guerra Mundial. São marcos da capital do país que foram vandalizados.

Não se trata só de George Floyd.Trata-se do ódio que foi distribuído pela mídia e por campanhas políticas. Claro, há também grupos de bandidos, que aproveitando a cobertura fornecida por esses protestos, cometem crimes que normalmente não seriam capazes de cometer, como por exemplo, os saques inéditos na cidade de Nova York. Devido aos confrontos na baixa de Manhattan, a polícia abandonou grande parte da ilha aos saqueadores, que saquearam os imóveis de varejo mais valiosos do mundo.

Em Chicago, os saqueadores atacam lojas em plena luz do dia. Em um trecho que vai do Loop até o Deep South Side da cidade se observa em  todos os quarteirões  pelo menos um comércio vandalizado. Um policial lamentou ao The Daily Beast: “Eles estão destruindo e saqueando”. Fatos estes previstos por economistas e analistas políticos.

A pandemia e o assassinato de George Floyd aceleraram o processo. O ex-policial Marty Breeden tristemente comentou que as grandes áreas metropolitanas dos EUA estavam em caos total, gangues se unindo e criando destruição absoluta, ataques, tumultos, assassinatos, pessoas correndo por suas vidas, incêndios em edifícios grandes e pequenos.

Infelizmente, é apenas o começo. No sábado, Don Lemon sugeriu que esses distúrbios fossem causados por uma reestruturação do país ou algum tipo de mudança. Ele passou a lamentar a situação, mas disse que poderia ser indicativo daqueles que “não têm outra opção” e “nada a perder”. Seria uma indicação da dor e da tristeza naquele país, de pessoas que sentem que não têm outra alternativa senão exibir esse comportamento sem nenhuma outra opção. É um comportamento típico de quem não tem nada a perder.

Os EUA estão ruindo, e muitos alertaram que isso aconteceria devido à política econômica irresponsável. O momento é mais desesperador porque os distúrbios ocorrem em um momento em que a nação já está lidando com uma enorme pandemia global e um colapso econômico histórico.

Os Estados Unidos já sofreram uma onda de cidades em chamas após um assassinato racial em 1968. Os Estados Unidos foram atingidos por uma pandemia em 1918 que matou mais pessoas que a pandemia atual. Os Estados Unidos foram atingidos por uma Grande Depressão na década de 1930 e abatidos por uma Grande Recessão há apenas uma década. Contudo, os Estados Unidos nunca experimentaram tudo isso ao mesmo tempo. É mais que o sistema pode suportar. Quando uma crise passa, outra acontece e tudo o que pode ser abalado será abalado.

Qualquer um que tenha ficado surpreendido por esses distúrbios é porque não estava prestando atenção. Avisos repetidos foram dados. Agora que a economia entrou em colapso, uma pandemia mortal está varrendo o país e os tumultos estão estourando nas principais cidades norte-americanas, as pessoas devem pensar em mudar.

Dor e destruição estrangulam esperanças e sonhos de pessoas em todo o país. As pessoas estão morrendo por um vírus terrível, ou por um joelho no pescoço, à vista do público. Cidades queimam, negócios são destruídos, dezenas de milhões de pessoas estão desempregadas, as políticas econômicas continuam a concentrar renda (conforme gráfico abaixo).

Para piorar tudo, divisões são inflamadas, irresponsavelmente, pela equipe de governo, é assim que o presidente Trump piora tudo, como no caso da citação do delegado racista de Miami. A verdade é que o tempo está se esgotando para os EUA, e não há futuro para a grande nação do norte se continuarem a trilhar o mesmo caminho.

Com todo este exemplo batendo em nossa cara, nós brasileiros temos que abandonar de vez a política irresponsável de aumento contínuo da pobreza, abandonarmos a política que se alimenta de gabinetes de ódio, fake news e de polarização de nossa sociedade. Ou tomamos este exemplo a sério ou veremos o abismo chegar, logo ali, bem perto.

RG 15 / O Impacto

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