Artigo – O que nos conta o livro de Bolton sobre a América Latina?

Por Oswaldo Bezerra

O livro de John Bolton é um daqueles típicos que são lançados em vésperas de eleições presidenciais nos EUA. Aproveitando-se do interesse sobre fofocas sobre candidatos eles se tornam muito vendáveis. O Livro Bolton talvez nem tenha sido escrito por ele mesmo. É mal escrito e de chata leitura, contudo o que nos aviva a curiosidade é o que este livro nos pode mostrar sobre o pensamento dos líderes dos EUA sobre a América Latina.

Bolton é conhecido como o senhor da guerra. É mais um representante da indústria armamentista que do próprio sistema financeiro, que é quem costuma dar as cartas nas indicações de cargos no governo. Ele foi o conselheiro de Segurança Nacional do governo Trump e de outros presidentes. Sua ligação com a indústria armamentista o tornou o conselheiro que mais buscou mudanças de regimes em outros países.

Trump hoje se tornou inimigo de Bolton e tentou proibir a publicação de seu livro. Os dois argumentos de Trump eram que o livro só continha mentiras e o outro é que revela segredos de Estado. Bolton é conhecido nos EUA por ser cínico, traidor e traiçoeiro. Com certeza deve haver mentiras nos livros, mas também algumas verdades. O bom do livro é isso, é saber onde está a mentira ou a verdade.

Sobre a América Latina o que o livro mais trata é sobre a Venezuela. O livro critica Trump por se mostrar indeciso sobre Juan Guaidó e sua possibilidade de êxito. Primeiro, Trump achava que Guaidó era muito fraco. Poucas horas depois da autoproclamamento de presidente da República venezuelana, Trump confidenciou a Bolton: “Não gosto desta situação”. Foi assim o começo promissor do presidente da Venezuela autoproclamado.

Após um mês de mandado de araque de Guaidó, Trump volta a se confidenciar com Bolton: “Este cara não tem o que tem que ter”. As interpretações desta frase ficam a seu cargo leitor. Contudo, parece que Trump estava em dúvida sobre o traidor venezuelano.

Para tentar se libertar de dúvidas, Trump chamou por telefone o seu homólogo, e melhor amigo, o presidente russo Vladimir Putin para obter uma opinião sobre Guaidó. Putin respondeu a Trump que ele parecia Hillary Clinton. Deve ter sido um comentário que deixou Trump magoado.

Trump também se mostrava muito impressionado com os militares venezuelanos estarem sempre muito impecavelmente fardados. Talvez Trump pensasse que a Venezuela seria como um filme B de Zappata da década de 50. Isso tudo está no livro de Bolton.

Dúvidas sobre a estratégia e principalmente sobre quem encabeçava pelo lado venezuelano, Trump esperava que Guaidó fosse, depois de tomar o poder, extremamente submisso a Casa Branca e a ninguém mais. Segundo o livro, Trump achava que a Venezuela pertencia aos EUA, e que seria “bacana” invadir o país.

No seu livro, Bolton qualifica a OEA como uma das organizações internacionais mais moribundas do mundo. O livro afirma que esta organização só não foi deletada pelos EUA por achar que ajudaria Guaidó.

Bolton também fala de outro organismo irrelevante. Trata-se do Grupo de Lima. Em um telefonema para o grupo de Lima, para convencer os países a reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela, Bolton afirmou que antes de terminar de tocar o primeiro toque do telefone os presidentes já haviam concordado com a ordem norte-americana.

Das informações do livro de Bolton que mais se destacam está a suposta ajuda humanitária a Venezuela saindo da Colômbia e do Brasil. Bolton fala no livro que sempre teve dúvidas com esta operação. Operação esta que Guaidó garantiu que seria exitosa e Maduro seria removido do cargo. Na época, Guaidó saiu a Cucuta na Colômbia para apoiar a invasão, foi aí que Guaidó tirou fotos com mercenários e narcotraficantes.

As dúvidas de Bolton aumentaram depois que o fracasso da operação foi descrito pelo governo colombiano como estrondosa vitória para Guaiadó. O presidente Bolsonaro minimizou o fracasso afirmando, que ao menos, conseguiram cooptar indígenas venezuelanos da fronteira. Depois estes indígenas foram espalhados por sinais de trânsito em todo o Brasil para fins de propaganda.

Neste momento, John Bolton passou a duvidar da saúde mental dos presidentes sul-americanos aliados. Por falar em saúde mental, foi nesta época que Bolton aparecia com um bloco de notas com a seguinte anotação: “enviar 5.000 tropas para a Colômbia”. Bolton disse que foi um pedido de Trump e que ele só foi averiguar a possibilidade.

Segundo Bolton, uma semana depois o chanceler colombiano Carlos H. Trujillo o presenteou com um pacote destes blocos de notas para lembrar Bolton sobre o envio de tropas. Foi uma ação humorística para fazer pessoas sorrirem sobre tropas estrangeiras chegando ao seu país para lutar com um país vizinho, podendo causar centenas de milhares de mortes, inclusive de compatriotas. Depois da piada o chanceler recebeu o cargo de Ministro da Defesa.

Bolton lamentou que nem Brasil, nem Colômbia nem Guaidó tiveram um plano B. Quando se trata de Bolton plano “B” sanguifica “B de bélico”. Ele escreveu que o mais desagradável foi perceber que os militares das nações aliadas para o golpe na Venezuela não estavam preparados para uma invasão de fato.

Bolton também afirmou que na criação das sansões contra a Venezuela deveriam também aplicá-las a Cuba e a Nicarágua. São as colônias rebeldes. Seria uma liquidação compre três e pague um.

Bolton mostra em seu livro uma visão de pouca importância aos países latino americanos. De Honduras só cita uma reunião que teve com o mandatário de lá afirmando apenas que conversaram sobre a Venezuela. O desdém sobre as nações latino americanos é independente do tamanho.

Por exemplo, do Brasil só ele só cita uma reunião que teve com o ministro de defesa que garantiu que Maduro estaria muito próximo de ser derrubado. Isso já faz mais de um ano. Nesta época chamou a atenção o presidente Bolsonaro batendo continência para Bolton.

A moral da história aprendida no Livro de John Bolton é que as informações contidas sejam estritamente verdadeiras ou falsas, independente das verdades ou meias verdades, ou mentiras, se resume é a política externa de misérias que os EUA aplicam para a América Latina.

RG 15 / O Impacto

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