Artigo – Indústria do fraturamento hidráulico se tornou um queimador de dinheiro

Por Oswaldo Bezerra

No ano de 2008, fui convidado para trabalhar numa empresa norte-americana chamada Halliburton. De imediato precisei ir para a cidade de Duncan, no estado de Oklahoma nos EUA. Nesta viagem muitas coisas me surpreenderam muito.

De carro de Oklahoma City até Duncan me surpreendeu a grande quantidade de índios, que viviam ao longo da estrada, principalmente vendendo os apanhadores de sonhos. Depois me disseram que quando o governo se apossou das terras indígenas 800 etnias diferentes ganharam uma reserva no estado de Oklahoma.

Apesar de muitos índios, o que mais se destacava naquele estado norte-americano era a produção de petróleo. Era o maior estado produtor do ouro negro dos EUA à época. Duncan era uma cidade fundada neste ínterim. Ao chegar à cidade e após dar entrada no hotel, peguei um táxi e pedi para me levar a sede da Halliburton. O taxista com ar de dúvida, me perguntou: – como assim ir para Halliburton? Depois aprendi que Duncan era uma cidade inteira que pertencia à empresa.

Imaginem uma cidade pertencente a uma só empresa. Quando fui alugar um carro me pediram a licença para dirigir. A licença era o crachá da empresa. Esse gigantismo da empresa iria me surpreender ainda mais. Foi quando entrei em um prédio que abrigava a montagem de caminhões de fracking (fraturamento hidráulico). O prédio era enorme. Parecia o estádio do mangueirão coberto. E a produção de caminhões estava a todo vapor.

O fraturamento hidráulico estava tendo um crescimento vertiginoso nos EUA naquela época. Para se produzir petróleo são necessárias algumas características. Precisa ter uma rocha geradora de petróleo. Precisa existir uma armadilha que prenda o petróleo e não o deixe se perder. Precisa, principalmente, de uma rocha armazenadora chamada de reservatório. Esta rocha precisa ter porosidade e capilaridade para retirada do óleo.

O pulo do gato do fraturamento hidráulico era o de produzir petróleo, em reservatórios que não possuem porosidade, nem capilaridade, através do fraturamento destas rochas que cria porosidade e capilaridade de forma não natural. Há um problema nisso, os impactos ambientais são enormes. Quem trabalhou na indústria do petróleo no Brasil e nos EUA, sabe que no Brasil nos sentimos no primeiro mundo e nos EUA nos sentimos no terceiro mundo. O descaso ambiental nos EUA era total.

O fraturamento hidráulico trouxe para os EUA alguns aspectos positivos e principalmente negativos. Os positivos como a criação de centenas de milhares de postos de trabalho bem remunerados e tornando o país o maior produtor energético do mundo. Por outro lado, o imenso impacto ambiental e uma dívida deste setor que serviu apenas para consumir moedas emitidas pela Reserva Federal Americana.

Com o golpe na Ucrânia para fechar a torneira do gás russo, os EUA sonhavam em vender seu gás liquefeito para a Europa. Também sonhavam abastecer de petróleo grandes consumidores, como a China, dificultando rivais por intermédio de guerras ao comércio dos maiores produtores mundiais como Irã, Venezuela, Iraque e Líbia. Foi uma receita perfeita para manter o petrodólar, os empregos nos EUA e alto rendimento no comércio exterior.

Veio então o grande fracasso norte-americano do petróleo que começou em meados de 2014, quando o preço do WTI de referência de petróleo bruto começou seu longo declínio de US$ 100 para US$ 37 negativos por barril em abril de 2020. Enormes falências de empresas norte-americanas no setor de petróleo e gás se acumularam em 2015. Em 2016, o total da dívida atingiu US$ 82 bilhões.

Os 44 pedidos de falência no primeiro semestre de 2020 entre empresas de exploração e produção dos EUA (E&P) envolveram US$ 55 bilhões. O montante acumulado de dívidas garantidas e não garantidas que as 446 empresas divulgaram em seus pedidos de falência de janeiro de 2015 a junho de 2020 saltou para US$ 262 bilhões. As empresas de serviços de petróleo Diamond Offshore, McDermott e Chesapeake são as maiores em termos de dívidas. Essas três empresas combinadas listaram US$ 31 bilhões em dívidas.

O grande fracasso petroleiro norte-americano assumiu proporções absurdas quando o preço do WTI no mercado futuro caiu para US$ 36,98 negativos em 20 de abril de 2020.

O fraturamento hidráulico transformou os EUA no maior produtor mundial de gás natural. O fluxo de caixa neste setor foi gigantesco. A empresa Chesapeake esteve na vanguarda do aumento da produção de gás natural e também na atividade de enganar os investidores que queimavam bilhões de dólares eficientemente ano após ano. Foi ao estilo OGX no Brasil onde pareceres de altíssima produção e descobertas de novos campos, todas falsas, eram repassados a acionistas.

O excesso de gás natural esmagou o preço, apesar dos enormes esforços e investimentos para exportar gás natural e GNL para o resto do mundo. O fraturamento hidráulico foi alimentado com dinheiro da Reserva Federal que continua a chegar, mas o preço do gás continuava caindo, atualmente em US$ 1,83 por milhão de BTU.

A recuperação pós-pandemia se mostra muito difícil, principalmente, com o segundo aumento dos casos Covid-19 que afetam negativamente a demanda da indústria petrolífera. Um exemplo desta dificuldade de recuperação rápida são as companhias aéreas. Só a United Airlines anunciou, no que seriam já a pós-pandemia, 36.000 licenças involuntárias de seus funcionários.

RG 15 / O Impacto

 

 

 

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