Artigo – Qual o motivo do menosprezo da geração Y em relação à propriedade privada?

Por Oswaldo Bezerra

Grandes turbas Antifascistas estão percorrendo os EUA. Estão destruindo propriedades e causando temor nos corações dos proprietários. Estas propriedades são um sonho quase impossível para uma geração inteira, a geração dos “millênicos”, a mesma que integra os movimentos Antifascistas.

A geração “millênicos” representa uma faixa da população mundial, representados pelos nascidos entre décadas de 80 até o começo dos anos 2000. Diferente de seus pais, que possuíam empregos protegidos por sindicatos, além de Leis trabalhistas e Previdenciárias, os “millênicos” foram lançados no mercado de trabalho na chamada “modernização das relações trabalhistas”.

No fundo, esta modernização se caracteriza pela precarização do trabalho, que alguns apelidam de uberização. Nesta relação, os trabalhadores são chamados de parceiros, estes assumem os custos das operações, mas precisam dividir de forma desigual, pois saem perdendo, os lucros com uma espécie de atravessador do trabalho. Estes trabalhadores têm seus ganhos tão reduzidos, em relação à geração anterior, que não reúnem condições para fazer poupança ou comprar propriedades.

O vídeo de um homem nos EUA tentando transmitir respeito pela propriedade privada a um grupo de jovens manifestantes se tornou viral, principalmente entre conservadores. Para estes, é a prova de que as “crianças” que invadem as ruas para quebrar propriedades são vagabundos. Essa leitura é egoísta e é apenas a metade da história.

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Embora possuir uma casa e um negócio continue sendo o sonho americano, mesmo para jovens adultos, muitos deles estão descobrindo que, como qualquer outro sonho, ele desaparece quando acordam.

No vídeo o senhor explica: “Nós pagamos por isso!”. Uma das manifestantes, uma jovem dá as costas, enquanto o homem tenta em vão fazer uma distinção entre empresas privadas e a polícia que paralisou Jacob Blake, reacendendo as tensões sobre racismo e brutalidade policial que colocou fogo no país desde o assassinato de George Floyd por um policial branco. Ele insistia em perguntar aos jovens: “As lojas de móveis são a polícia? As concessionárias de automóveis são a polícia?”. A resposta da moça foi uma promessa: “Vamos queimar suas coisas também!”

A maioria dos que assistem ao vídeo simpatiza com o homem, que surge como um defensor do valor mais puro norte-americano, a propriedade privada. Hoje os EUA batem um recorde negativo de possuir menos norte-americanos, do que nunca, que podem pagar para ter uma casa. É possível esperar que os jovens defendam um valor que não se aplica a eles?

Mais “millênicos” vivem com seus pais do que com um parceiro romântico. É a primeira geração onde ocorre isso em mais de 150 anos. A tendência só está crescendo. A porcentagem de jovens adultos que vivem com seus pais mais do que dobrou desde 2000. E a paralisação econômica da Covid-19 forçou ainda mais estes jovens adultos desempregados a se refugiarem na segurança dos porões de seus pais.

Os “millênicos” não são preguiçosos. Eles trabalham e muito, principalmente nos subempregos que a modernidade das relações trabalhistas trouxe. Mesmo um jovem com nível superior já começa sua vida profissional atolado em dívidas estudantis.

Muitos achavam que o diploma Universitário abriria a porta para o sucesso profissional. Acabam descobrindo que todos os bons empregos já foram aceitos e seu diploma de direito apenas os preparou para os serviços de entrega de comida ou de caronas por aplicativos.

Estes “novos empregos da modernidade das relações trabalhistas” não os qualificam para um financiamento imobiliário, às vezes nem mesmo para o aluguel de um apartamento. Os proprietários geralmente exigem que os inquilinos ganhem 10 vezes o valor do aluguel mensal. Portanto, voltar a morar com os pais foi sua única opção.

Quase três quartos da geração do milênio acreditam que a casa própria é a “prioridade máxima”. Eles simplesmente não podem pagar por ela. E uma proporção crescente resignou-se ao fato de que viverão de aluguel para o resto da vida. Caso os “millênicos” tivessem a oportunidade de não entregar mais de um terço de seu salário mensal a um proprietário “parasita”, eles não aceitariam?

Existe nos EUA um movimento chamado “Cancel Rent” (Cancele o Aluguel) que está se tornando muito popular. A grande maioria das pessoas, se pudesse escolher, preferiria um abrigo que não possa ser arrancado de debaixo deles por alguns meses de falta de pagamento.

Não há esperança de posse de propriedade no futuro do “millênicos”. Além disso, bancos e proprietários voam ao seu redor como abutres para espremer todos os ganhos que puderem. Não é surpresa que tantos jovens se importem pouco com a proteção da propriedade privada.

Quando eles sabem que nunca poderão comprar uma casa, por que se preocupar com a segurança de condomínios fechado? Quem se preocupa com carros queimados em uma concessionária de automóveis, quando ninguém poderá comprar um? Os EUA e seu novo sistema trabalhista deixaram de ser a Terra da oportunidade para os jovens. Eles estão tristemente cientes de que não têm futuro no sistema. Então, por que não destruí-lo?

Os proprietários estão horrorizados com o desprezo dos jovens norte-americanos pela propriedade privada e por outros princípios que se pensava sustentar a nação. Precisam admitir, no entanto, que a maioria deles não fez nada para evitar que mudanças políticas, nas relações de trabalho, fizessem que gerações inteiras fossem privadas do sonho americano.

Não é só lá. No mundo inteiro precisamos reverter à economia de “gotejamento” que dá a um punhado de pessoas o controle de mais riqueza do que a metade inferior da população. Os financistas, e os endinheirados corporativos, que acumularam a riqueza da nação, se esqueceram da regra número 1 do parasita: “não matarás o hospedeiro”. A concentração de renda é como um trem prestes a descarrilar, quando isso acontecer, as vítimas serão tanto da primeira classe como os da classe econômica.

RG 15 / O Impacto

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