Artigo – Quando a espionagem ameaça o trabalhador

Por Oswaldo Bezerra

A revista norte-americana Jacobi publicou um artigo em fevereiro sobre o uso de espiões contra os trabalhadores. Coincidentemente, vários escândalos deste tipo de espionagem pipocaram na mídia este ano. Tudo isso para favorecer grandes corporações privadas.

Bem perto de nós, na Argentina, foi descoberta uma rede de espionagem montada pelo ex-presidente Macri para espionar o Partido dos Trabalhadores da Argentina. Depois se descobriu que a agência de inteligência argentina também espionava jornalistas e acadêmicos. Mais recentemente, também se descobriu-se que a agência espionava todos os partidos opositores de Macri.

No Brasil, saiu à luz o dossiê contra “antifascistas”, que a Justiça diz ter sido elaborado pelo deputado estadual Douglas Garcia (PTB-SP). O dossiê citaria jornalistas, radialistas e professores. Algumas pessoas que trabalhavam para empresas privadas perderam seus empregos por causa do Dossiê. A lista do documento com mil nomes, na maioria de trabalhadores comuns, foi entregue a embaixada norte-americana para criação de represarias pelos gringos.

A descoberta mais recente foi nos EUA. Descobriu-se que a Amazon estava contratando especialistas em inteligência, para espionar os funcionários da própria empresa. A prática é comum. Grandes empresas multinacionais têm divisões de vigilância que às vezes trabalham com agências de inteligência do governo. Assim, são criados poderosos aparatos para serem usados contra os trabalhadores.

Ao ser descoberta, a empresa imediatamente retirou as contratações. Nas chamadas de emprego se pedia experiência em coletar “inteligência acionável” sobre “trabalho organizado, grupos ativistas, líderes políticos hostis”, entre outros.

A força de trabalho da Amazon não pode ser sindicalizada, e a empresa quer mantê-la assim. Jeff Bezos não seria o homem mais rico do mundo se não fosse versado na maximização do lucro, suprimindo os custos trabalhistas. A sindicalização e os sindicatos existem para garantir melhores salários e benefícios, e condições de trabalho mais seguras e confortáveis, o que aumenta os custos.

No início deste ano, a empresa demitiu o gerente Christian Smalls por organizar trabalhadores contra práticas perigosas, devido ao risco novo coronavírus, no local de trabalho. Não deveria ser surpresa que uma empresa anti-operária gaste dinheiro para espionar ativistas e até políticos críticos como Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders.

As Corporações têm recrutado investigadores desde 1907. O estenógrafo de um infiltrado sindical, Pinkerton escreveu o livro “The Pinkerton Labor Spy”, expondo estas sórdidas atividades. A capa do livro retrata um lobo em pele de cordeiro. A atividade só foi profissionalizada após o fim da Guerra Fria, quando os espiões desempregados da CIA, do FBI e da NSA se estabeleceram em associações profissionais contratadas pelo setor privado.

Isso evoluiu para uma corrida armamentista de espionagem corporativa, na qual as empresas eram cada vez mais compelidas a criar estas divisões como uma questão de autodefesa (também de roubo empresarial) e para se manterem competitivas.

Quanto ao roubo empresarial temos o exemplo da Petrobras. A empresa brasileira, que ganhou vários prêmios de tecnologia, teve sua tecnologia roubada por espionagem da inteligência norte-americana para favorecimento de empresas do país deles. Fato este negado pelo ex-presidente norte-americano Obama, mas confirmado pelo ex-espião do NSA, Edward Snowden.

As grandes corporações passaram a espionar qualquer pessoa que ameaçasse seu resultado financeiro. Entre eles, estavam os grupos ambientais, de direitos humanos, denunciantes, jornalistas e, é claro, sindicatos.

Para atender a essas divisões, empresas como Amazon, Coca-Cola, Walmart, McDonald’s e Monsanto abusam do uso de grupo de especialistas em vigilância treinado pelo governo. A unidade de inteligência do Walmart, por exemplo, emprega quatrocentos funcionários, e é composta por ex-agentes de inteligência do governo. Já a Lockheed Martin monitora seus trabalhadores em convênios diretos com o FBI, CIA e NSA em operações de vigilância.

Líderes trabalhistas estão naturalmente na mira deste aparelho, porque os sindicatos existem para representar os interesses dos trabalhadores, são diametralmente opostos aos interesses dos capitalistas: quanto mais os trabalhadores produzem e menos são pagos, maiores os lucros corporativos.

As corporações sempre buscaram minar e frustrar os esforços sindicais, sempre o farão, e a espionagem é parte integrante desse esforço. A parte triste desta história é observar, no filme “Edgard”, que é a biografia do primeiro chefe do FBI. J. Edgar conta no filme que o FBI foi criado, inicialmente, com a finalidade de assassinar líderes sindicalistas.

RG 15 / O Impacto

 

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