Reabilitação para pacientes pós-Covid-19 completa 30 dias com 900 atendimentos em Santarém

O serviço multiprofissional psicossocial e de reabilitação para pacientes pós-Covid-19 completou 30 dias em Santarém. Ele foi implantado com o objetivo de acolher e proporcionar melhor acompanhamento daqueles que mesmo após o período de quarentena da doença, apresentam algum tipo de sequela. Entre 8 de agosto e 7 de setembro, 900 pacientes passaram pela Unidade de Saúde Descentralizada (USD), localizada na Escola Álvaro Adolfo em busca deste tipo de atendimento.

Neste período, foram 391 atendimentos de fisioterapia que envolveram a reabilitação respiratória por meio do pilates e treino funcional. Para fortalecimento muscular foram 336 atendimentos. Outros 173 atendimentos foram de psicologia e serviço social.

A Covid-19 pode ser incapacitante, prejudicando a realização de atividades cotidianas simples, com um cansaço e falta de energia desproporcionais, e comprometendo a rotina com a família ou no trabalho. “O paciente chega com queixas, diz que teve Covid e que está há 30 dias ou mais após a quarentena com alguns sintomas como o cansaço e dores na costa ou nas pernas. Ele volta na unidade fazendo esse relato, de que não consegue realizar determinadas atividades ai a gente identifica que ele precisa de acompanhamento com o fisioterapeuta. Tem aqueles que chegam relatando ansiedade ou que sente medo e até mesmo vontade de chorar. Este paciente a gente vai encaminhando para o acompanhamento psicossocial”, ressalta Lauro Correa.

A triagem dos pacientes que necessitam destes serviços é feita pela própria USD ou por meio do ambulatório itinerante que tem percorrido vários bairros e comunidades. Os atendimentos pós-Covid-19 acontecem em 3 dias na semana: quartas, sábados e domingos, das 08h às 17h.

A USD é coordenada pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) e faz parte da política municipal de enfrentamento da pandemia, contando com equipe multiprofissional para detecção de possíveis casos da covid-19, a fim de oportunizar um tratamento precoce, além de apoio às pessoas que precisam durante a reabilitação após a doença.

SINTOMAS PÓS-ALTA: Para grande parte dos recuperados, os sintomas da covid-19 terão ficado no passado. Mas, para uma parcela deles, ainda será preciso acompanhamento profissional. É o que explica a pneumologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Patrícia Canto.

“Pacientes que tiveram poucos sintomas, com um quadro parecido com um resfriado ou uma gripe, se recuperam bem e não costumam ter nenhum problema depois desses 14 dias”, explica. “Os pacientes com quadro mais moderado não saem dos 14 dias e voltam ao normal. Eles têm recebido alta e procurado os serviços de saúde novamente, ainda em recuperação, muitos com uma sensação de cansaço, ainda sem conseguir voltar às suas atividades normais. Muitos ainda apresentam falta de ar.”

A pneumologista explica que os casos moderados são aqueles em que houve internação sem a necessidade de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). O que eu tenho visto, acompanhando pacientes nessa fase pós-alta, são pacientes ainda muito cansados, com relatos de falta de ar ainda. Principalmente os que já tinham asma ou alguma doença pulmonar.”

A comunidade científica ainda busca respostas sobre a duração dessas limitações pós-internação, já que a pandemia ainda é recente. “Relatos da China indicam que pessoas saíram de alta com algum grau de fibrose pulmonar, com cicatrizes. A gente não sabe se isso é definitivo e em que grau isso vai comprometer a capacidade respiratória das pessoas.”As consequências mais sérias têm sido observadas em pacientes que desenvolvem os quadros graves da covid-19. Nesse caso, as complicações muitas vezes vão além do pulmão durante a internação, com insuficiência renal e problemas de coagulação. “Esses vão ter um período muito mais longo de recuperação”, conta ela. Como o tempo de internação em UTI pode chegar a semanas, a necessidade de fisioterapia respiratória e motora tem sido frequente, principalmente para pacientes idosos.

O ataque do coronavírus a outros órgãos, em alguns casos, leva os pacientes graves à UTI antes mesmo da necessidade de ventilação mecânica, e a recuperação dessas partes do corpo vai demandar acompanhamento especializado após a alta.

RESPOSTA AUTOIMUNE: Apesar de a pneumonia viral ser a complicação mais comum dos casos graves de covid-19, a ação disseminada do vírus no organismo tem sido observada por médicos e cientistas, e ainda não se tem certeza absoluta se o que determina essas complicações é o ataque direto do vírus ou uma resposta exagerada do sistema imunológico.

“Há pacientes agravando com uma resposta imunológica muito exacerbada. O próprio sistema imune começa a trabalhar de uma forma descontrolada, e muitas dessas lesões podem ocorrer por conta dessa resposta inflamatória que o vírus desencadeia”, pondera a pneumologista, que exemplifica que esses problemas podem chegar a órgãos como o cérebro e o coração.

MONITORAMENTO: A pneumologista aconselha que os pacientes recuperados que continuem apresentando sintomas como cansaço busquem o serviço de saúde para acompanhamento médico. O retorno às atividades deve ser cuidadoso, e a prática de exercícios físicos, por exemplo, deve ser retomada de forma gradual, caso não haja mais sintomas respiratórios.

“Se o Messi torce o pé e fica quatro semanas sem jogar, quando ele volta, ele não vai jogar os dois tempos. Ele entrar nos 10 minutos finais de um jogo já ganho. É por aí”, compara ela, que pede que o distanciamento social e os cuidados de higiene continuem, porque não há garantias de que pacientes já infectados possam ser considerados imunes à doença. “Permaneça na sua casa”, aconselha.

Com o crescimento do número de recuperados, a pneumologista acredita que o acompanhamento desse grupo vai gerar uma nova pressão por serviços de saúde que precisa ser observada pelos gestores da área. “A gente vê que muitos desses recuperados são pessoas ainda com algumas sequelas e sintomas, ainda que a gente não possa ter certeza de por quanto tempo elas terão esses sintomas. Veremos um aumento da demanda”, concluiu.

RG 15 / O Impacto

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