Artigo – A “bananização” do sistema de saúde brasileiro

Por Oswaldo Bezerra

Os EUA estão colocando como secretário de saúde um político que luta por melhores condições ao povo. A Rússia desenvolveu sua própria vacina e começou no sábado passado a vacinação em massa. A China também desenvolveu sua própria vacina, mas empresas privadas chinesas fecharam parceria com laboratórios estrangeiros num esforço conjunto para imunizar toda sua população.

Na mesma direção a Europa também está bem adiantada e começará sua vacinação em massa já nesta semana. O contra ponto é o Brasil. Indo na contramão do mundo, manipula a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). As inações desta agência podem provocar milhares de mortes.

O tenente-coronel Jorge Luis Kormann se tornou a pessoa mais importante do Brasil no que diz respeito à pandemia. Vai depender do que ele decidir quando e se você irá tomar a vacina contra a Covid-19. Kormann assumiu um dos 5 cargos de diretoria da ANVISA. Ele não possui nenhuma qualificação nem experiência em medicina, nem em desenvolvimento de vacinas, mas vai liderar mesmo assim a unidade encarregada de definir que imunizantes podem e que imunizantes não podem ser utilizados no Brasil.

Especialistas da área de saúde ficaram deveras preocupados com a nomeação do militar, sem qualificações técnicas necessárias, pra diretor da ANVISA. Muitos órgãos de imprensa consideraram a nomeação um risco para a saúde pública brasileira.

A imprensa tem razão mesmo em se preocupar com a chegada de Kormann na ANVISA. Na metade deste ano o Ministério da Saúde começou a esconder e sonegar o acesso a dados sobre a pandemia. Na época, a Reuters analisou conversas internas do whatsapp do Ministério da Saúde, em junho. Foi justamente no escândalo, quando foi parada abruptamente a publicação de dados, com abrangência de casos e mortes de COVID-19. Kormann foi, segundo a Reuters, o principal articulador da ocultação das estatísticas.

Na ANVISA, kormann vai trabalhar sob as ordens do contra-almirante Antônio Barra Torres. Este é contumaz acompanhante de Bolsonaro nas aglomerações e, do mesmo jeito do presidente, costuma comparecer a estes eventos sem máscara.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária é um órgão puramente técnico e sempre atuou como tal. Sob o atual governo a agência foi politizada. O órgão está dando muitos sinais que irá intervir no mercado de vacinas para satisfazer os desejos do governo. Nas mãos dos militares, há um temor que programas inteiros de vacinações dos governos estaduais sejam destruídos. Os governadores passaram a ser vistos como rivais do governo federal.

Em discurso, o governador de São Paulo João Dória, afirmou: “Indaguem ao Ministério da Saúde e ao governo federal se eles serão capazes de enterrar 60 mil brasileiros que perderão suas vidas nos próximos 6 meses, por não disponibilizar uma vacina que já está no Brasil, que é segura, porque não vacinar e proteger a vida de brasileiros”.

Em São Paulo, João Dória tem o plano de vacinação mais ambicioso do Brasil. A previsão era vacinar a população já este mês. Agora temos notícia que esta dada foi prorrogada para janeiro de 2021. Pra conseguir vacinar nesta dada, a CoronaVac precisa passar pela aprovação da ANVISA.

A CoronaVac é aquela vacina que o presidente chama da Vachina , ou de maneira pejorativa, de vacina chinesa. O presidente já afirmou e reiterou que o governo federal não está nem interessado na vacina. O presidente afirma que uma vacina, ao contrário da cloroquina, precisa de comprovação científica.

O cronograma de São Paulo prevê que toda documentação da coronaVac esteja com a Agência até o dia 15 de dezembro. O problema é que não há garantia de que a ANVISA respeite o cronograma de São Paulo. Dória também fechou acordos com outros estados e prefeituras para distribuir a CoronaVac pelo Brasil.

Dória não é bobo. Ele sabe que a vacina é uma excepcional obra publicitária. Publicidade é uma coisa que o governador de São Paulo entende muito. A chegada da vacina a São Paulo foi transformada em um grande evento com enorme cobertura jornalística. O golpe de mestre de Dória foi o slogan: “A Vacina do Brasil”. Foi uma resposta ao deboche de Bolsonaro quando chamou a vacina de “Vachina”. A resposta veio no mesmo lenga-lenga do tão usado pelos dois do “patriotismo”.

Um aparelhamento na ANVISA e um atraso proposital, de uma determinada vacina, são mais um capítulo da tragédia que a Covid-19 trouxe ao Brasil. O Brasil já falhou muito no combate a pandemia. Não conseguimos nem ao menos ter um Ministro da Saúde.

Vacinar a população não é prioridade para o governo federal. O próprio presidente já afirmou que não tomará nenhuma vacina. O governo federal se alinhou com o movimento “Anti-Vacina”. Nisso o governo está sendo muito eficaz. O governo está conseguindo fazer a população ter medo de vacina. O Datafolha pesquisou este fenômeno e mediu que em outubro deste ano 80% da população queria ser vacinada. Em novembro este número caiu para 72%. O governo federal não tem um plano de vacinação em massa. É a “bananização” do nosso sistema de saúde.

RG 15 / O Impacto

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