Artigo – Mobilização de rua por interesses da população é algo que o Brasil perdeu

Por Oswaldo Bezerra

Disputar a moldagem da política com multinacionais e elites financeiras é quase impossível devido ao abuso do poder econômico. Só o povo com levantes nas ruas pode combater medidas que tirem seus direitos. O Brasil já perdeu isso há muito tempo. O povo desacreditado se prostra e sua inação o fará sofrer.

O máximo que vemos hoje são figuras estranhas indo às ruas vestindo uma camisa da CBF pedindo Golpe de Estado pelas forças armadas. Um desatino. Alguns países ainda possuem em sua população a fibra de lutar por si mesmos. Contudo, na hora “H” da perda dos direitos previdenciários e trabalhistas, e na política que empurra para o trabalhador para o bico, os cidadãos de verde amarelo ficaram inertes.

Vimos acontecer na vizinha Colômbia semana passada um comportamento oposto. Houve um preço. A repressão aos protestos do povo colombiano deixou pelo menos oito mortos. Representantes dos direitos humanos culparam o presidente Iván Duque, de extrema-direita, e o prefeito de Cali pela repressão policial às manifestações contra a reforma tributária.

O levante foi tão intenso que o presidente colombiano Ivan Duque disse ontem que vai retirar a proposta de reforma tributária depois de protestos violentos no país e de ampla oposição por parte dos parlamentares.

A vitória do povo colombiano veio depois de quatro dias de massivos protestos e tumultos em torno da reforma tributária. O presidente Iván Duque anunciou: “Peço ao Congresso da República que retire o projeto do Ministério da Fazenda e trate com urgência um novo projeto por consenso e assim evite incertezas financeiras”.

Duque tomou a decisão ao anunciar nos últimos dias que a reforma seria modificada em vários de seus artigos, o que gerou ainda maior desconforto entre os manifestantes, convocados pelos sindicatos do país, que exigiam a retirada do projeto do Congresso.

O governo esperava que a reforma tributária, que entraria em vigor em janeiro de 2022, transferiria a conta para o povo das dívidas contraídas para administrar a pandemia, reduzir o déficit fiscal e manter o grau de investimento.

A reforma governamental proposta pelo governo pretendia arrecadar 24 trilhões de pesos (6,400 bilhões de dólares). Entre as mais polêmicas e criticadas pelos manifestantes estavam a tributação de serviços públicos com ICMS de 19%, tributação de serviços funerários, concessão de autorização às autoridades municipais para implantação de pedágios nas capitais e aumento para 43% para os produtos da cesta básica familiar.

O povo colombiano venceu. Aprendeu a força da sua própria ação coletiva. Ele ganhou confiança em si mesmo e na capacidade de mudar a história.

RG 15 / O Impacto

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