Usinas hidrelétricas – os danos ambientais causados na produção dessa energia “limpa”

Por Thays Cunha

A utilização da energia elétrica melhorou a qualidade de vida dos seres humanos de forma ímpar. Foi uma espécie de nova evolução, pois com o funcionamento de máquinas cada vez mais modernas melhoramos a produção de mantimentos, a maneira como nos deslocamos e principalmente a nossa saúde, pois podemos contar com recursos que conservam, desinfetam e limpam praticamente tudo o que consumimos, o que prolongou a nossa longevidade. Além desse conforto sanitário, obtivemos também algumas comodidades, como a utilização de aparelhos para o lazer, comunicação, melhorar a temperatura da casa, preparar e moer alimentos, etc.

Assim, a cada dia que passa consumimos cada vez mais energia elétrica, e toda essa demanda exige então maior produção. No Brasil, a grande parte de nossa energia é gerada principalmente através das usinas hidrelétricas, que utilizam o curso das águas que são abundantes em nosso país. No entanto, contamos também com uma pequena parcela de produção em usinas eólicas, termoelétricas, solares, nucleares, e outras.

ENERGIA “LIMPA”

Desde sempre ouvimos falar que a geração de energia em nosso território através das usinas hidrelétricas é considerada uma forma limpa de produção, pois não geraria resíduos poluentes do mesmo modo que as termoelétricas, por exemplo. No entanto, embora tenha a sua parcela de benefícios relativamente maior em comparação com as usinas que realizam a queima de combustíveis fósseis, especialmente carvão mineral e derivados de petróleo, que poluem o ar, a energia elétrica proveniente das águas também não é tão inofensiva como diversas vezes é relatado.

Ocorre que durante a construção de uma usina hidrelétrica vários impactos ambientais relativamente graves são causados desde a fase de construção até o seu funcionamento, pois o deslocamento de milhares de pessoas para as novas áreas de instalação, além da construção das barragens e redes de transmissão causam desmatamento e consequentemente perdas em toda a biodiversidade.

PREJUÍZOS

A construção de usinas hidrelétricas começa com parte da floresta sendo invadida por aço, concreto e combustíveis. Há o desmatamento “necessário” para erguer as instalações, assim como a derrubada de árvores para implementação por quilômetros das linhas de transmissão, que cortam a mata e modificam a paisagem.

Os rios são os que mais “sentem” essas mudanças bruscas, pois sofrem alterações colossais quando neles são construídos barragens para a produção de energia elétrica. Geralmente inunda-se uma grande área para maior contenção da água e isso muda completamente o habitat e a vida de tudo e todos ao redor. Por exemplo, há a diminuição de algumas espécies de peixe, que perdem o seu local natural de reprodução, reduzindo a oferta de alimentos não só para outros animais como também para os ribeirinhos que ali vivem, o que gera prejuízos ambientais, econômicos e sociais. Alguns moradores das áreas alagadas até mesmo precisam deixar as suas casas para recomeçar a vida totalmente do zero em algum outro local.

Durante esse alagamento, que se estende por quilômetros, árvores ficam submersas e acabam morrendo, assim como alguns animais, que ou ficam sem suas casas ou morrem afogados ao serem pegos de surpresa pela subida das águas. Todo esse material orgânico posteriormente irá se deteriorar, apodrecer e aumentar a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, como o gás carbônico e o metano. De acordo com o estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJP), publicado na revista britânica “Environmental Research Letters”, “Hidrelétricas instaladas ou previstas para serem construídas na Amazônia podem ser tão ou mais poluentes que usinas termelétricas. Dezoito novos reservatórios poderão emitir, em cem anos, até 21 milhões toneladas de metano e 310 milhões de dióxido de carbono”.

Outro ponto a ser destacado é o fato de que a energia produzida nem sempre beneficiará os próprios habitantes daquela localidade, pois nessas regiões isoladas onde são instaladas as usinas muitas famílias vivem sem energia elétrica mesmo com a abundância dela ao seu lado. E, apesar da proximidade, também não são beneficiadas com diminuição no custo da energia ou quaisquer benefícios quando conseguem o acesso. E apesar da nossa capacidade energética o Brasil convive com o medo de apagões constantes, pois o os últimos anos estão sendo marcados pela escassez de chuvas, importante meio de “manutenção” das usinas hidrelétricas. Assim, com a redução do volume de água nos rios está havendo no momento uma dificuldade em se manter a produção.

SOLUÇÕES

Infelizmente não descobrimos uma forma de produzir uma energia 100% limpa, pois todas geram algum tipo de resíduo ou sequela. A energia eólica, por exemplo, afeta a migração dos pássaros e até mesmo a energia solar produz detritos, como as baterias. A saída então seria pesar em uma balança qual delas gerará menor impacto ao meio ambiente e à sociedade, e tentar melhorar a forma como produzimos e principalmente gastamos toda a energia gerada.

Em relação às hidrelétricas, a Lei Nº 3.824, de 23 de Novembro de 1960, “Torna obrigatória a destoca e consequente limpeza das bacias hidráulicas dos açudes, represas ou lagos artificiais”, ou seja, antes de serem alagadas as áreas deveriam ter toda a sua vegetação retirada para evitar o apodrecimento. Isso já seria um grande passo na redução da emissão de gases. E, como ainda dependemos muito desse tipo de produção, uma saída seria diminuir as consequências quem vêm com esse tipo de instalação.  Uma possibilidade seria a construção de usinas chamadas de “fio d’água”, que são aquelas que não necessitam de um reservatório para funcionar.

Porém, como esse tipo de usina depende do fluxo constante de água do próprio rio na movimentação de suas turbinas ela é vulnerável a falta de chuvas, ou seja, na época de seca há uma diminuição na produção. Nesta hora devemos pensar também, juntos, como sociedade, em formas de economizar energia elétrica, não somente pela parte financeira como também por conta de todos os danos que o gasto desenfreado pode causar ao meio ambiente. Fomentar o uso consciente, evitar o desperdício e melhorar os sistemas de produção seriam grandes passos para o desenvolvimento sustentável do nosso país.

RG 15 / O Impacto

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