Sem direitos e sem renda – Falta de vagas em creches deixa mães de fora do mercado de trabalho

Por Thays Cunha

Embora as diversas forças de trabalho sejam formadas igualmente por homens e mulheres, para elas há uma dificuldade a mais no dia a dia, pois em muitos casos as questões empregatícias se misturam com vida pessoal e familiar delas. Assim, é comum que a carreira das mulheres, principalmente daquelas que possuem filhos pequenos, esbarre em problemas que poderiam ser resolvidos com simples soluções, mas que infelizmente não são suficientemente implementadas não só pelos governos como também pela sociedade em geral.

Questões estruturais levam à desigualdade na inserção de mulheres no mercado de trabalho, como, por exemplo, a falta de um lugar para deixar os filhos enquanto elas desenvolvem as suas funções. Então, mesmo quando o casal trabalha, na maioria dos casos é somente a mulher a responsável pelos cuidados com o lar e os filhos, por isso quando não há com quem deixar as crianças são essas trabalhadoras que abandonam os empregos para ficarem em casa.

FILHOS x TRABALHO

Embora tenham currículos impressionantes muitas mães se queixam de que não passam em processos seletivos para empregos ao serem questionadas se têm filhos e se eles são pequenos. É um constrangimento que faz parte do dia a dia delas, que tentam de todas as formas equilibrar a carreira com a maternidade. É interessante destacar que o mesmo quase não se aplica aos homens, que raramente perdem vagas por conta de serem pais, mesmo quando de muitas crianças.

Assim, o índice de desemprego é maior principalmente entre as mulheres com filhos e atinge a todas independentemente da classe social. De acordo com a pesquisa “Mercado de Trabalho e Pandemia da Covid-19: Ampliação de Desigualdades já Existentes?” realizada em julho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de participação de mulheres com filhos de até 10 anos no mercado de trabalho caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019 para 50,6% no mesmo período de 2020”. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua aponta que o percentual de desemprego registrado no segundo trimestre do ano de 2020 foi de 12% para os homens e de 14,9% para as mulheres.

No entanto, entre as mães mais pobres a situação é ainda mais crítica, pois mulheres de baixa renda não podem contar com a opção de contratar uma babá, cuidadora, ou mesmo colocar seus filhos em uma pré-escola privada.

CRECHES PÚBLICAS

Por isso a importância das creches públicas, pois a falta de vagas faz com que as mães tenham que escolher entre trabalhar e cuidar dos filhos. Por vezes, sem esse serviço, dependem para conseguir o seu sustento de uma rede informal formada por outras mulheres da família, que ficam com os seus filhos para que possam sair de casa.

Isso significa que quando essas mães não têm acesso à rede pública de ensino que cuide de suas crianças elas ficam prejudicadas em comparação com pessoas sem filhos, principalmente homens, sendo preteridas das vagas por serem vistas como possíveis problemas futuros, uma vez que a maternidade é colocada, de forma preconceituosa, como capaz de atrapalhar o desempenho da trabalhadora. Por exemplo, dizem que é a mãe quem terá que sair para levar a criança ao médico, ir a reuniões escolares ou cuidar quando adoece, pois no Brasil a responsabilidade de criar uma criança é quase sempre colocada totalmente a cargo das progenitoras. Raramente homens com filhos faltam ao trabalho para resolver esse tipo de situação na mesma proporção que elas, por isso são os mais escolhidos para os cargos.

PANDEMIA

A situação foi piorada com a chegada da pandemia ocasionada pela covid-19, pois as escolas foram obrigadas a fechar e mandar as crianças para casa. Assim, até mesmo as trabalhadoras que utilizam a própria residência como local de trabalho se veem divididas entre os afazeres domésticos e a tentativa de criar uma carreira.

RELATOS

Conversamos com uma mãe santarena que nos contou a importância que o estudo infantil tem na vida da família. Segundo Michele Ferreira, mãe do pequeno Efraim Ferreira, de cinco anos, o menino desde cedo estuda em uma creche e isso ajuda muito na dinâmica familiar, pois ela e o marido trabalham e assim eles têm onde deixar o filho pelo menos uma parte do dia. No momento da pandemia foi muito difícil não ter onde deixá-lo, então tiveram que se “virar”, mas agora com o retorno das aulas na rede municipal de Santarém a situação se tornou bem melhor. “Como eu trabalho  e meu marido também, seria complicado se ele não estudasse”, diz.

SANTARÉM

No entanto, nem todas as famílias podem contar com a ajuda das creches, pois o nosso município também enfrenta esse problema da insuficiência das vagas. Em conversa com a técnica pedagoga da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), Dineide Sousa, ela reconhece que embora em Santarém haja 39 creches elas ainda não são suficientes para atender a grande demanda. “Temos muitas crianças que, infelizmente, a gente não consegue ainda atender, mas a gente já traz essa expectativa da construção de novas unidades. Temos um processo que pode ocorrer da construção de 12 novas creches. Além disso, o prefeito vai assinar ordem de serviço para a reforma de 7 creches, que já têm prédio próprio, e há a expectativa da construção para que a gente possa estar atendendo ainda melhor as nossas crianças”.

Segundo a técnica, a SEMED realiza o atendimento a partir de 1 a 5 anos, apesar de na legislação o ensino de 1 a 3 anos não ser obrigatório. As crianças de 1 ano são atendidas na Umeis e a partir de 2 anos são atendidas nas Cemeis.

“Ainda existe carência, um quantitativo muito grande de crianças que não comporta. Tem um número que determina o quantitativo em cada turma: Limite de dez crianças de um ano por turma; de dois anos aumenta para quinze; de três anos para vinte, e as de quatro e cinco anos são vinte e cinco por turma. Se aumentar compromete o trabalho do profissional. Muitas mães procuram o mercado de trabalho e procuram as creches para deixar os filhos, o que faz a necessidade de se aumentar o número de vagas”, diz a técnica.

Desse modo é preciso que haja não só creches públicas de qualidade, mas com oportunidade para todos, pois é uma maneira de auxiliar as mães a continuarem seguindo com a carreira profissional. A concentração do serviço doméstico junto ao trabalho gera muita desigualdade de oportunidade entre os gêneros. Assim é fundamental aliar a educação dos pequenos ao desenvolvimento do país, uma vez que mais mulheres poderão participar da força trabalhadora que movimenta a economia nacional.

Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é colocar pelo menos 50 % das crianças de até três anos nas creches, porém a meta não foi cumprida dentro do prazo estabelecido, tendo sido adiada agora para 2024.

RG 15 / O Impacto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *