Por que o turismo em Santarém não decola? Uma reflexão a partir de uma comparação viral no X

Por Fábio Maia

Recentemente, uma postagem no X (antigo Twitter) chamou minha atenção ao comparar duas joias tropicais: Caye Caulker, em Belize, e Alter do Chão, no município de Santarém, Pará. A publicação, feita pela conta @LogInfra, exibe fotos aéreas impressionantes das duas localidades, questionando: “Caye Caulker, Belize ou Alter do Chão, Brasil?”. As imagens revelam praias de águas cristalinas, estruturas simples à beira-mar, e água doce, e um ar de paraíso acessível. No entanto, as respostas dos usuários destacam uma dura realidade: enquanto a beleza natural de Alter do Chão é inegável, problemas locais, como o comportamento da população e falhas na experiência turística, acabam repelindo visitantes. Essa discussão viral serve como ponto de partida para analisar por que o turismo em Santarém representa apenas 3 a 5% do PIB municipal, apesar do enorme potencial.

Santarém, com seu PIB estimado em cerca de R$ 6,4 bilhões, sendo mais da metade proveniente de serviços, tem no turismo uma oportunidade subutilizada. O setor é representativo, mas não o suficiente para impulsionar a economia local de forma significativa. Em quase 20 anos como diretor da Associação Comercial de Santarém (ACES), testemunhei esforços conjuntos entre o setor público municipal e o produtivo para fomentar o desenvolvimento turístico. No entanto, muitas iniciativas acabam frustradas por uma combinação de fatores estruturais e comportamentais.

Um exemplo emblemático foi o movimento “Eu Amo Alter”, liderado pela ACES ainda em 2016. Empresários investiram na construção de uma barraca modelo na vila de Alter do Chão, com o objetivo de padronizar e melhorar as estruturas locais. A entrega foi feita em um evento profissional, com publicidade e expectativa de continuidade. Infelizmente, a comunidade não valorizou o esforço: a barraca foi destruída e desmontada sem nunca ser utilizada. Esse episódio ilustra como boas intenções podem se perder sem engajamento local.

Além disso, tentativas de instalação de empreendimentos maiores, como resorts, enfrentam bloqueios sistemáticos por parte de um ambientalismo que, sob o pretexto de proteção, acaba destruindo oportunidades econômicas. Em Alter do Chão, tensões envolvendo ONGs e ambientalistas já duram décadas, desde disputas por áreas para empreendimentos comerciais, até brigas pelo turismo sustentável evidenciam como restrições excessivas impedem investimentos legítimos. Como pode o turismo ser vetor de desenvolvimento regional se é fragilizado sistematicamente? Essa contradição enfraquece o setor que tanto se alardeia como essencial para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Os problemas estruturais agravam a situação. As passagens aéreas para Santarém são notoriamente acima da média nacional, muitas vezes mais caras do que voos para outras capitais brasileiras ou até destinos internacionais. Estradas ruins e tecnologias precárias completam o quadro de infraestrutura deficiente. Já temos obstáculos demais para nos darmos ao luxo de errar no “dever de casa”.

No entanto, o sucesso do turismo não depende apenas de infraestrutura. A experiência prazerosa da permanência é fundamental para gerar boas lembranças e propaganda boca a boca. A população e os empreendedores nativos de Alter do Chão ainda não compreenderam que fazem parte de um contexto global. Seu comportamento e atendimento são inevitavelmente comparados a outros destinos mundiais, como o próprio Caye Caulker. Comentários na postagem do X reforçam isso: “É bonito, mas o povo estraga a experiência” ou “O povo decepciona, estraga tudo com a falta de educação”. Esses relatos ecoam uma verdade incômoda: sem profissionalismo, a beleza natural perde seu brilho.

Não adianta cobrarmos a logística e infraestrutura necessárias do setor público, se a preparação e o profissionalismo das pessoas envolvidas no ambiente turístico não acompanharem a evolução em conjunto.

*Fábio Maia é articulista do jornal O Impacto. Escreve semanalmente sobre política, ambientalismo e soberania nacional.

6 comentários em “Por que o turismo em Santarém não decola? Uma reflexão a partir de uma comparação viral no X

  • 5 de setembro de 2025 em 18:02
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    Lugar maravilhoso, que continue assim. Qd falo com as pessoas sobre o local, percebo uma resistência devido a não ser modinha, mas sinceramente, que nem todos conheçam pq o paraíso pode acabar. Então que somente quem sabe valorizar as nossas mais belas belezas tenham o privilégio de ter passado dias inesquecíveis por lá .

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  • 3 de setembro de 2025 em 09:05
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    inegavelmente é a mais pura verdade….isso se trata de um problema cultural não só no oeste do Pará,como no Brasil inteiro,o brasileiro sempre querendo levar vantagem em tudo com preços abusivos entre coisas.Ao meu ver o investimento mais impactante deve ser na educação das crianças desde cedo dentro e fora da sala de aula,com infraestrutura melhores,merenda escolar de qualidade,uniformes,professores qualificados e um apoio interclasse entre escola e os pais….e leis que sejam respeitadaspor todos,pois não adianta ter leis para uns e outros não.

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  • 2 de setembro de 2025 em 10:25
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    Ago vou completar o que iniciei antes. Alter do chão, sempre falo para muitas pessoas fora de Santarém. Aqui temos praias muito bonitas, aí reitero que os turistas que nos visitam denominam de Caribe Brasileiro, dessa forma encho a bola de todos os santarenos. Hoje leio sua reportagem Fabio Mota, articulador do Jornal Impacto, que o turismo não anda, fiquei deverasmdnte sem ação. Comentava o turismo de uma forma tão carinhosa, até porque os turistas gringos querem apreciar a água, e coisas que não vêm no lugar onde moram, mas os turistas brasileiros, se não valorizam o que é nosso. Pergunto, com articulador, o que está faltando para virar o jogo? Não seria uma formação educativa pra melhorar o tratamento, uma informação sobre as melhorias de ambientes e acolhimentos com benefícios para todos? Porque foi frito um investimento que não foi usado mas de oi deteriorado? Esse comentário foi escrito depois do comentário que li.

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  • 2 de setembro de 2025 em 10:10
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    Gostaria de deixar um comentário, mas não consigo. Vou fazer um teste só com esse texto se passar continuo.

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  • 1 de setembro de 2025 em 16:17
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    o potencial turístico e natural de Santarém é invejável, como também é “invejável” a falta de um planejamento a médio prazo de comportamentos aplicados diretamente a forma de agir em uma organização que tenha um controle e coordenação para que o Ser humano se sinta tranquilo e com uma segurança peculiar. sabemos que o Oeste do Pará tem muito o que mostrar e atrair os turistas. a união de todos os municípios, traria um brilho muito maior para Santarém do Tapajós.

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    • 2 de setembro de 2025 em 19:25
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      Ninguém e nenhuma cidade vive só de potencial, as belezas naturais são perfeitas, mas a logística para a chegada de turistas é feita de maneira errada..

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