A DESTRUIÇÃO PROGRAMADA DA AGRICULTURA FAMILIAR: QUANDO O AMBIENTALISMO CONDENA PRODUTORES À MISÉRIA
Por Fábio Maia
Um vídeo circulando nas redes sociais mostra agricultores familiares do Chapadão, em Santarém, descobrindo que suas terras produtivas serão transformadas em reserva ambiental. A reação de desespero e revolta dessas famílias não é exagerada – é o reconhecimento de uma sentença de empobrecimento anunciada.
Essas pessoas não estão sendo retiradas de terras improdutivas ou áreas de preservação permanente. Estão sendo expulsas de áreas onde produzem alimentos, criam seus filhos e sustentam suas famílias há gerações. Terras que, até ontem, alimentavam as feiras e mercados de Santarém com produtos frescos e a preços acessíveis.
A INCOERÊNCIA REVELADORA
O caso do Chapadão expõe uma contradição brutal do discurso ambientalista contemporâneo. Os mesmos grupos que defendem apaixonadamente a agricultura familiar como base da segurança alimentar são os primeiros a aplaudir quando essas mesmas famílias são expulsas de suas terras em nome da preservação ambiental.
É preciso chamar isso pelo que realmente é: hipocrisia destrutiva.
Como se defende agricultura familiar enquanto se retira sistematicamente as terras onde essas famílias produzem? Como se fala em segurança alimentar enquanto se transforma áreas produtivas em reservas que ninguém pode usar? A incoerência é tão gritante que só pode ser sustentada pela desconexão completa entre discurso e realidade.
O DESTINO PREVISÍVEL
O que acontecerá com essas famílias do Chapadão? A resposta é matematicamente previsível porque já aconteceu centenas de vezes em nossa região.
Sem suas terras, essas famílias migrarão para as periferias de Santarém. Lá, em vez de produtores que agregam valor à economia local vendendo seus produtos nas feiras, tornar-se-ão mais uma estatística nos programas assistenciais. Deixarão de ser agricultores para se tornarem subempregados – quando conseguirem emprego. Ou, na pior das hipóteses, engrossarão as fileiras da criminalidade que assola nossas periferias.
Essa não é especulação alarmista. É o padrão que se repete há décadas em nossa região. A diferença é que agora temos dados para quantificar o fenômeno: 43,2% da população de Santarém vive em situação de pobreza, e 52,3% da nossa economia depende diretamente de transferências governamentais.
Cada família expulsa do campo é uma família a mais nessa estatística de dependência e pobreza.
UMA ESCOLHA POLÍTICA DELIBERADA
Não nos enganemos: isso não é resultado de políticas ambientais bem-intencionadas que tiveram efeitos colaterais indesejados. É uma escolha política deliberada, encoberta pela bandeira conveniente do ambientalismo.
Quando se cria uma reserva ambiental em área produtiva da agricultura familiar, enquanto toneladas de esgoto são despejadas diariamente no Rio Tapajós sem qualquer fiscalização efetiva, fica claro que não se trata de preocupação ambiental genuína. Trata-se de controle territorial e subordinação econômica.
O ambientalismo virou instrumento de política de empobrecimento populacional. E o mais perverso: com o apoio entusiasmado de quem se considera “progressista” e “defensor dos pequenos produtores”.
OS IDIOTAS ÚTEIS DO EMPOBRECIMENTO
Lenin cunhou o termo “idiota útil” para descrever aqueles que, sem perceber, servem a interesses contrários aos que declaram defender. No contexto santareno, temos uma legião deles.
São os que reclamam da pobreza, mas aplaudem políticas que a geram. Os que defendem a agricultura familiar, mas celebram quando suas terras são confiscadas. Os que criticam a dependência assistencial, mas apoiam medidas que a aprofundam.
A incoerência não é acidental – é estrutural. Revela uma incapacidade fundamental de conectar causa e efeito, de ver que suas posições ideológicas produzem exatamente o oposto do que afirmam buscar.
O CICLO PERVERSO
A lógica é perversamente circular:
- Retiram-se terras produtivas de agricultores familiares
- Esses agricultores migram para as cidades sem ter como se sustentar
- Tornam-se dependentes de programas assistenciais
- O setor produtivo enfraquece, a arrecadação cai, a economia estagna
- Mais pessoas caem na pobreza e dependem de transferências
- Usa-se a pobreza crescente para justificar mais assistencialismo
- Volta-se ao passo 1
É um modelo autofágico de desenvolvimento – ou melhor, de subdesenvolvimento programado.
A QUESTÃO QUE NINGUÉM QUER RESPONDER
Faço aos defensores dessas políticas uma pergunta simples: que cidade prospera destruindo sua força produtiva?
Mostrem-me um único exemplo, em qualquer lugar do mundo e em qualquer época da história, de uma cidade que enriqueceu sistematicamente expulsando seus produtores de alimentos e transformando-os em dependentes do Estado.
Não existe tal exemplo. Nunca existiu. Nunca existirá.
Porque a prosperidade não surge da dependência, surge da produção. Não nasce do assistencialismo, nasce do trabalho produtivo. Não é construída destruindo a base econômica local, mas fortalecendo-a.
UM PROJETO DE AUTODESTRUIÇÃO
Se o objetivo fosse deliberadamente destruir a economia de Santarém, condenar sua população à pobreza perpétua e tornar a região eternamente dependente de recursos externos, seria difícil conceber estratégia mais eficaz que a atualmente em vigor.
Restringir 45,3% do território para qualquer uso produtivo. Criar novas reservas em áreas já utilizadas pela agricultura familiar. Judicializar projetos produtivos regularmente licenciados. Impedir a expansão agrícola através de moratórias e embargos. Transformar produtores em assistidos.
O projeto de autodestruição está sendo implementado de forma brilhante. Cada nova reserva, cada nova família expulsa do campo, cada novo dependente de programa social é mais uma etapa cumprida desse roteiro de empobrecimento regional.
O PREÇO DA OMISSÃO
E nós, que vemos isso acontecer? Que papel temos desempenhado?
Muitos preferem o silêncio confortável. Outros repetem slogans ambientalistas sem questionar suas consequências práticas. Alguns até celebram cada nova restrição como “vitória ambiental”, sem ver os rostos desesperados das famílias condenadas à pobreza.
O vídeo dos agricultores do Chapadão deveria servir como espelho. Aqueles rostos são o resultado concreto de políticas que muitos apoiam abstratamente. Aquele desespero é o preço humano de um ambientalismo que se tornou instrumento de controle e empobrecimento.
PORTANTO…
Não há nada de “vitória ambiental” em condenar famílias produtoras à miséria. Não há nada de sustentável em destruir a base produtiva regional. Não há nada de social em transformar agricultores em dependentes do Estado.
O que há é um projeto político deliberado de subordinação econômica, travestido de preocupação ambiental e vendido a uma população que não conecta as políticas que aplaude com a realidade que sofre.
As famílias do Chapadão são apenas as mais recentes vítimas de um modelo que já destruiu milhares de outras famílias produtoras em nossa região. E, pelo visto, continuará destruindo – com o apoio entusiasmado dos “defensores da agricultura familiar”.
A incoerência é tanta que só pode ser proposital.
Infelizmente para todos nós.
Fábio Maia é vice-diretor de Patrimônio da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES) e autor do estudo “Relatório Analítico Regional: Crise da Autossuficiência Alimentar”.
Também é autor do livro “O Ambientalismo como Nova Forma de Colonialismo na Amazônia”, que você pode adquirir a versão impressa clicando aqui ou na imagem abaixo:



