Polícia Federal rastreia negócios de Palocci
Polícia Federal desenhou quadro de sócios e ex-sócios de ex-ministro dos governos Lula e Dilma para buscar possíveis canais de movimentações de dinheiro ilícito; lista inclui sobrinho e novo nome de ex-assessor da Casa Civil
A Polícia Federal montou um diagrama com as vinculações de negócios e societárias do ex-ministro Antonio Palocci, um dos novos alvos das investigações da Operação Lava Jato. O objetivo é rastrear as movimentações financeiras e comerciais dele e suas empresas. A busca vai alcançar ex-sócios como seu sobrinho André Palocci e até mesmo sua filha.
Em um desenho em forma de aranha que mostra as relações societárias de Palocci, a PF listou as três pessoas jurídicas a que o ex-ministro esteve ligado. A principal é a Projeto – Consultoria Empresarial e Financeira Ltda, empresa que ele passou a trabalhar a partir de 2006, depois de deixar o cargo de ministro da Fazenda no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Constam ainda seu vínculo com duas outras entidades, a Associação de Municípios da Macro Região de Ribeirão Preto e o Instituto de Políticas Públicas 2001. Palocci foi prefeito de Ribeirão Preto por duas vezes pelo PT.
O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, reagiu enfaticamente à linha de investigação da PF. “É uma coisa odiosa, uma invasão detestável da vida privada dos familiares de alguém que exerceu uma função pública.”
Apenas a Projeto, principal foco da Lava Jato, continua ativa, segundo o documento. Ex-ministro da Fazenda de Lula e primeiro ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, Palocci é investigado no inquérito da PF sobre o suposto recebimento de R$ 2 milhões do dinheiro do cartel que fatiava obras na Petrobrás, em 2010, supostamente para a campanha presidencial do PT. Seu ex-assessor Charles Capella de Abreu, que trabalha até hoje no governo federal, é um dos principais elos dessa suposta negociação de propina.
Por meio da Projeto, a PF busca nas relações societárias de Palocci pistas sobre movimentações financeiras suspeitas. No período investigado, o ex-ministro recebeu valores de empresas que caíram no radar da Lava Jato, como a construtora WTorre e o grupo JBS.
Nessa triagem em busca de movimentações financeiras e comerciais atípicas, a Lava Jato listou seis nomes de ex-sócios da Projeto, entre eles seu sobrinho, o economista André da Silva Palocci.
O diagrama montado pela PF mostra que André Palocci é ou foi sócio de outras quatro firmas: a K.O.K. Andreiuk Marketing Digital, a Editora Universo Agro, o BLO Bar Serviços e Cosméticos (nome do The Preppy Bar, em sociedade com Carolina Palocci) e a Mostar Consultoria e Negócios.
É nessa última empresa o maior interesse da PF. A Mostar Bussines Ideal cruza dois ex-sócios de Palocci, André e James Adrian Ortega, que também é economista e atuou no mercado financeiro. Nas teias de ligações dos ex-sócios Ortega colou no radar da PF outras duas empresas: a Coxswain Empreendimento e Participações Ltda e a Saenz Hofmann Consultoria e Assessoria Financeira Ltda.
Casa Civil. Novo nome que surge nas apurações da Lava Jato é o de outro ex-assessor de Palocci na Casa Civil, Branislav Kontic. Sociólogo de formação, “Brani”, como é conhecido, atuou com o ex-ministro também na época de deputado federal.
O ex-assessor de Palocci no governo, que trabalhou na Projeto, tem duas empresas ligadas ao seu nome: a Anagrama Consultoria e Assessoria e a Epoke Consultoria em Mídia Ltda.
O inquérito que tem como alvo Palocci, aberto pela PF em julho deste ano, levanta também todos os empregos que teve o ex-ministro. Estão nessa lista a Presidência da República (Casa Civil), o Ministério da Fazenda, a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa de São Paulo, o PT, a Prefeitura de Ribeirão Preto (onde foi prefeito duas vezes) e a Passos Editora Gráfica (seu primeiro registro).
Palocci nega qualquer irregularidade e refuta qualquer suspeita de recebimento de valores ilícitos. O criminalista José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro, entrou na Justiça com um pedido de anulação dos termos de delação premiada do operador de propinas do PMDB Fernando Baiano e do doleiro Alberto Youssef, que apontaram seu nome como responsável pela cobrança e recebimento de R$ 2 milhões para a campanha de Dilma, em 2010.
Fonte: Estadão