MILTON CORRÊA
54% DOS COMERCIANTES E PRESTADORES DE SERVIÇOS TEMEM QUE O BRASIL NÃO SAIA DA CRISE EM 2016, APONTA SPC BRASIL
Na avaliação de 75% dos empresários, o ano de 2015 foi pior na economia do que 2014 e para 69% deles, a crise econômica e a corrupção são os principais problemas a serem resolvidos neste ano
Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com comerciantes e prestadores de serviços das 27 capitais e do interior do Brasil revela que o maior temor dos empresários com relação a 2016 é que o país não supere a crise econômica. O medo da recessão se prolongar aparece, inclusive, a frente de outras opções mais voltada ao próprio negócio do entrevistado, como o risco de não conseguir pagar as dívidas (38%), ser assaltado ou vítima de violência (38%) e ser obrigado a fechar a empresa (37%).
Quando perguntados sobre o problema brasileiro mais importante a ser resolvido neste novo ano, novamente a crise econômica lidera a lista de opções ao lado da corrupção, ambos com 69% de menções. Outros problemas apontados pelos empresários brasileiros são os impostos elevados (65%), a inflação (49%), a falta de vontade política (40%) e a violência (39%).
Sete em cada dez empresários acreditam que 2015 foi pior que 2014
A percepção de que as condições do país se deterioraram ao longo do ano passado é generalizada entre os empresários sondados. Para 75% dos entrevistados o ano de 2015 foi pior para a economia do que 2014. Apenas 5% dos comerciantes e prestadores de serviços notaram que o cenário melhorou e outros 16% disseram que não houve alteração. O índice de empresários com percepção negativa supera o percentual de 70% em todas as regiões pesquisadas, mas cai para 53% entre os entrevistados do Nordeste.
Em meio a esse ambiente de baixa confiança com a economia do país, a situação financeira das empresas também piorou na opinião de 54% dos entrevistados, sendo que para mais da metade deles (52%), a piora decorreu do aumento dos preços de itens como matéria-prima, mercadoria e transporte, que diminuiu a margem de lucro, da diminuição do número de clientes (51%) e do aumento da inadimplência (22%). De acordo com a pesquisa, 75% dos empresários disseram ter visto empresas parceiras e concorrentes fecharem as portas neste último ano.
“A atual situação da economia brasileira tem gerado um ciclo vicioso, difícil de interromper. Como a inflação e as taxas de juros estão altas, as vendas caem e as empresas empregam e investem menos. Os efeitos negativos são percebidos nas quedas das vendas no varejo e na produção industrial. Dessa forma, temos queda de confiança tanto do empresário, quanto do consumidor. Esse resultado se traduz em inadimplência de ambas as partes, como os recentes indicadores têm apontado”, analisa o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o momento é de otimizar custos e processos e se aproximar do cliente. “As projeções dos analistas econômicos apontam para uma queda do PIB superior a 2,5% em 2016. E se os ajustes propostos pela equipe econômica do governo não forem aprovados ou postos em prática, a situação ainda pode se agravar. Diante disso, é importante para os empresários buscarem opções de crédito mais baratas e estreitar o relacionamento com os clientes como forma de sustentar as vendas do negócio e sobreviver à turbulência”, diz a economista.
58% dos empresários demitiram no ano passado
Para enfrentar o ambiente menos favorável da economia, seis em cada dez (58%) entrevistados tiveram de fazer cortes e ajustar o orçamento de seus negócios em 2015. O ajuste se concentrou principalmente na folha de pagamento, uma vez que 58% desses empresários demitiram funcionários- entre dois e três dispensados em média – e 33% optaram por reduzir o valor gasto com contas de telefone fixo e celular. A economia nas contas de água e luz foram mencionadas por 27% desses empresários. Embora a demissão tenha sido a principal medida de ajuste de orçamento em 2015, a maioria dos empresários ouvidos (84%) descarta a intenção de fazer novas demissões em 2016.
Empresários adiaram planos em 2015
Além de rever o orçamento, alguns empresários se viram obrigados a modificar seus planos ao longo do ano passado. Somente 14% dos entrevistados conseguiram realizar 100% do que haviam projetado para 2015, 37% conseguiram realizar parcialmente e 38% tiveram de adiar seus planos para 2016 ou por tempo indeterminado.
Entre aqueles que não concretizaram 100% dos projetos para 2015, 34% deixaram de reformar a empresa, 32% não conseguiram alavancar as vendas e 24% não puderam comprar equipamentos. Os principais culpados na avaliação dos empresários ouvidos foram a falta de recurso financeiro (44%), a inflação (36%) e os juros elevados (27%). Por outro lado, dentre aqueles que realizaram seus projetos, total ou parcialmente, 44% disseram ter quitado dívidas das empresas, 30% conseguiram aumentar as vendas de seu negócio e 30% realizaram alguma reforma.